quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Recorte de falas (IX): Finding Forrester

O filme não é, não pode ser, motivo para grande orgulho, sobretudo, se atendermos aos brilhantes mais recentes trabalhos de Gus Van Sant. Na realidade, "Finding Forrester" (2000) é, por vezes, do mais básico e estereotipado cinema a que alguma vez Gus Van Sant desceu. A quem critica filmes como "Milk" ou "Restless" por sucumbirem aos "clichés" do mainstream, entendendo o mainstream como um conjunto de recursos gastos, tanto formais como narrativos ou temáticos, sugiro que regresse a este "Finding Forrester", espécie de reedição from the bronx do já de si muito pouco imaginativo "Good Will Hunting". Mas... não estarei a ser demasiado duro? Talvez haja alguma coisa, nem que nas "entrelinhas", que o torne, pelo menos, interessante à luz dos mais luminosos desenvolvimentos recentes (e iniciais) da carreira de Van Sant. Cronologicamente, "Finding Forrester" é um filme entalado entre "Gerry", a obra-prima de viragem na carreira de Van Sant, e "Psycho", o remake-instalação-conceptual que tem envelhecido bastante bem.

O que é que isso interessa? Para todos os efeitos, por esta altura, Van Sant parecia obcecado, primeiro, por génios "inadaptados" - certo -; segundo, pela questão fortemente teórica da cópia/plágio, na realidade, o grande tema escondido de "Finding Forrester" e, de modo muito mais sofisticado, algo que já fora motivo de exploração visual-conceptual no ousado decalque hitchcockiano. Como vemos na fala recortada abaixo, a certa altura, parece que "Finding Forrester" ganha um sentido curioso na obra de Van Sant: o escritor isolado do mundo William Forrester (Sean Connery) aprecia o virtuosismo literário de Jamal Wallace (Rud Brown), um jovem negro do Bronx que não é só bom a pôr a bola no cesto. Ele diz-lhe algo que abrirá o plot do filme: até onde pode ir a aprendizagem do aluno face ao seu mestre? Se nos abstrairmos de toda a ganga sentimentalóide e simplista de "Finding Forrester" - e a cabotinice dos actores -, parece que, neste instante, Van Sant se entretém a "desconstruir" o "Psycho", o seu "Psycho" por contraposião ao "Psycho" do "grande mestre". Dito de outra maneira: nesta passagem, William Forrester parece ter como um grande feito literário aquilo que considera ser um "bom remake". É Van Sant a advogar em sua defesa, sem sair de um cinema onde a força do "sentimento de pertença" é variável.

William Forrester: You've taken something which is mine and made it yours. That's quite an accomplishment!
Jamal Wallace: Thank you.
William Forrester: The title is still mine, isn't it?
Jamal Wallace: I guess.

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