tag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post4891529407571263586..comments2023-06-19T16:28:20.716+01:00Comments on CINEdrio: Inception (2010) de Christopher NolanLuís Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/05872344515759593144noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-9210234044926163422010-08-11T19:03:04.178+01:002010-08-11T19:03:04.178+01:00É, confesso que não li a crítica do João Lopes, ma...É, confesso que não li a crítica do João Lopes, mas li a do Luís Miguel Oliveira. Crítico que - já o explicitei várias vezes, até ao próprio - gosto muito e com o qual me identifico bastante, mas, neste caso, de facto não concordo minimamente com o que escreve.<br /><br />Não acho o filme minimamente auto-explicativo, até digo mais: a contextualização deste filme é imediata e não se perde com grandes "construções" (por ex. são descartadas informações sobre quem inventou aquela tecnologia, como é que ela funciona concretamente, qual o historial da empresa para a qual o Di Caprio trabalha, etc.). <br /><br />Na realidade, o filme introduz o conceito complexo de extracção em apenas alguns minutos, para, logo de seguida, introduzir a sua reinterpretação: o conceito de indução, ou seja, não há nenhum tipo de auto-deslumbramento que leva Nolan a "namorar" filosoficamente a ideia principal; um conceito é introduzido e, pouco depois, já está a ser desafiado em toda a profundidade (sendo a indução o processo inverso ao da indução). Já tive também oportunidade de dizer que até acho que se percebe bem o tal trabalho de vários anos que Nolan teve na redacção do argumento, porque a contenção no desenvolvimento das ideias é, para mim, tão evidente quanto isto: somos lançados para um filme, que suspeitamos ser mais do que um derivado de 007, pela sua ambiência "deslocada" (e o seu início enigmático). Até parece, arrisco dizê-lo, que "Inception" é a sequela de um filme que não foi feito tal o "desinteresse" que Nolan mostra pela sua ideia original (de extracção).<br /><br />Enfim, depois também acho que visualmente/conceptualmente Nolan está no topo da sua forma, sabendo como traduzir uma ideia complexíssima numa narrativa fluída, quase línear na sua construção simples em espelho - excelente a cena em que Page "multiplica" até ao infinito o reflexo de Di Caprio -, uma técnica simples de crosscutting que concilia os diferentes níveis de sonho e é simplificada pelo (complexo - daí a habilidade paradoxal de Nolan -) jogo de relativização dos tempos entre a "realidade" e o sonho, e o sonho e os sonhos que se formam lá dentro... <br /><br />Nolan, tirando uma ou outra cena vistosa, trabalha muito em ou entre divisões e edifícios arquitectonicamente arrojados, uma interioridade/exterioridade não-psicológica ultra-inventiva que desafia o espectador a pensar não só sobre as "realidades paralelas", mas, antes de mais, a pensar sobre a própria dimensão onírica ou virtual do cinema.<br /><br /><br />Mas a minha defesa de "Inception" vai bem mais longe que o algo condescendente "entretenimento de qualidade" que o próprio Mário Torres invoca. Como aponto logo no início do meu texto, só agora, com "Inception", é que fica clara a dimensão de obra na carreira de Nolan; a tal síntese era fundamental que tivesse sido feita depois de dois filmes (que, na época, me pareceram) tão diferentes como "Memento" e "Insomnia". Essa síntese não foi feita nos "Batman", mas só agora -- e, contudo, Nolan fê-la no coração da indústria, como o que aconteceu com outros grandes realizadores mainstream, entre eles, o próprio Spielberg (de "Duel" para "Jaws"). <br /><br />Mann e Shyamalan são grandes autores de cinema, que têm actualmente uma relação muito menos pacífica com o mainstream do que tem o Nolan - o que, até devo dizer, me faz ficar ainda mais surpreendido com o filme que é "Inception". <br /><br />Com tanto dinheiro em mãos - e expectativas da indústria e do grande público -, o homem que há pouco tempo fazia "Memento" está mais próximo do que nunca de si - ou de uma "existência" autoral.Luís Mendonçahttps://www.blogger.com/profile/05872344515759593144noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-72293852569198192412010-08-11T16:57:47.513+01:002010-08-11T16:57:47.513+01:00Se me é permitido;
"Inception" merecia u...Se me é permitido;<br />"Inception" merecia uma análise por parte da crítica pelo objecto que é: um produto da Indústria com ambições "filosóficas" e minimamente inteligente. Seja bom ou mau (eu acho-o razoável) é, de facto, melhor que o público veja filmes destes do que bays ou emmerichs.. mas onde andam os McTiernans (já não faz filmes há algum tempo) e os Camerons dos anos 80 e 90?; esses, talvez, merecedores da denominação "blockbuster de autor" (mesmo assim, forçada, talvez) que, pessoalmente, me parece exagerada para o filme do Nolan como "autor" para o Nolan. Por todas as obsessões que possa ter pela mente humana e pelo inconsciente e por muitos anos que tenha dedicado ao projecto não me parece que o mereça. De resto, há realizadores bem mais interessantes a trabalhar no mainstream e com grandes orçamentos, como o Mann ou o Shyamalan. <br /><br />Enfim, gostos de lado, o filme do Nolan (como o Avatar, há um ano), apesar das suas qualidades ou defeitos, é filme essencial para perceber a evolução da indústria norte-americana, que tem vindo a tentar atrair público e gerir propostas evolutivas (seja a nível técnico ou narrativo), nesse sentido.<br /><br />Sobre ninguem gostar, já, de Cinema; é, provavelmente, verdade mas não se pode marcar a barreira pelos que vêem Cinema em Inception e os que o não vêem... A crítica em Portugal, porém, também me entristece. Mesmo as críticas de Luís Oliveira e João Lopes (que são os críticos que mais gosto) ao Inception parecem menos sobre o filme em si e mais um fortalecimento de um discurso que lhes convém defender, é "usar" o filme, se assim se pode dizer...<br /><br />Bem, concluindo, digo apenas que o post é, realmente, urgente e necessário e a discussão que ele fez surgir, também.João Palhareshttps://www.blogger.com/profile/05435714219127744298noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-69136169695632444742010-08-11T10:41:54.973+01:002010-08-11T10:41:54.973+01:00Sim, sim, claro. Mas longe vão os tempos onde só o...Sim, sim, claro. Mas longe vão os tempos onde só o que era "belo" era objecto de contemplação. O que eu também gostava de referir é que na actividade da boa crítica artística (e os cahiers fizeram-no de forma sublime) há uma dose de criatividade/originalidade que tornam muitas vezes quase acidental a colocação de certos autores nas boas graças. E é isso que de certa forma me fascina nesta área: não tanto o meter obsessivamente filmes em "caixotes" do bom e mau, mas sim permitir-te prolongar com as tuas palavras o universo ficcional/reflexivo que o filme te dá. Nesse sentido é possível (e atenção, sem diabolizar ou endeusar a obra em casa) escrever algo interessante que te faça pensar mesmo que o filme seja um pastel. O que acredito não será o caso de Inception, by the way.<br />Abraço,Carlos Natáliohttps://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-65564883208778282672010-08-10T13:56:25.233+01:002010-08-10T13:56:25.233+01:00Só mais uma coisa, relativamente aos Cahiers: é cu...Só mais uma coisa, relativamente aos Cahiers: é curioso porque se há revista que sempre procurou articular os "sinais" da grande indústria com o cinema menos dependente foi precisamente os Cahiers. Já agora: a política de autores nasce na análise ao mainstream americano!Luís Mendonçahttps://www.blogger.com/profile/05872344515759593144noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-59171951690061944052010-08-10T13:54:08.149+01:002010-08-10T13:54:08.149+01:00A tua resposta só prova que, de facto, estes "...A tua resposta só prova que, de facto, estes "filmes menores da indústria" podem levar-nos a falar (quase ontologicamente) do que é o cinema e das maneiras de o ver e pensar. Sontag, Cahiers, Bordwell... e tudo começou com um blockbuster para as massas.Luís Mendonçahttps://www.blogger.com/profile/05872344515759593144noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-75224610201449905542010-08-10T11:03:14.420+01:002010-08-10T11:03:14.420+01:00Sobre a descrição dos planos, lembrei-me da célebr...Sobre a descrição dos planos, lembrei-me da célebre contestação da Susan Sontag contra a interpretação. Segunda ela interpretar é desvirtuar a natureza de um objecto artístico. Portanto, resta-nos a descrição do que lá está, o mais objectivamente possível, com os seus planos e imagens. Ou então, a referência ao nosso estado interior, o impacto emocional que o filme provocou. E o curioso é que a crítica Cahiers estava sempre entre estes dois pólos: violentíssima e caricata na assumpção dos estados subjectivos e do outro lado, descritiva. Interpretações, mais semióticas regra geral, eram guardadas para estudos transversais sobre autores. Bom, mas regras é uma coisa difícil de aceitar. Olhem o que o Bénard fazia da interpretação...<br /><br />E sim é importante discutir as imagens. Mas elas entram a uma velocidade tão grande nos olhos de toda a gente que há pouco tempo para pensar no que se viu. Se é que se viu alguma coisa. E por isso triunfa, porque a nossa mente é de hábitos, a perspectiva quantitativa sobre a qualitativa, ou seja, as pessoas preferem ver muito, indiscriminadamente, a ver com qualidade. Eu penso que a civilização da imagem sofrerá uma certa “queda” e que nos próximos anos vamos aprender a lidar com este turbilhão de forma mais apaziguada.Carlos Natáliohttps://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-71939098200478986792010-08-10T11:02:50.948+01:002010-08-10T11:02:50.948+01:00Bom está visto que tenho mesmo de ver "Incepc...Bom está visto que tenho mesmo de ver "Incepcion" e espero, sem cinismo, que tenha mesmo todo esse cinema lá dentro. Acho muito interessante essa concepção de Bordwell sobre a narrativa de imagens inter-comunicantes, porque na verdade, pelo menos para mim, o que mais gozo me dá é tentar encontrar pistas de reflexão em filmes menores, e é verdade que as há. Como se fossem trilhas inexploradas e possíveis.<br />Assim como é também verdade que há pessoas que têm uma espécie de grelha implacável segunda a qual filtram os filmes, sem pensar neles em concreto. Ou seja, pensam mais nos limites estereotipados que impõem entre o valor e não valor na história do cinema, e por decorrência pensam neles próprios, e menos nas obras em si. (continua no próximo commment, eh eh)Carlos Natáliohttps://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-90886558946956702922010-08-10T11:02:03.548+01:002010-08-10T11:02:03.548+01:00Bom está visto que tenho mesmo de ver "Incepc...Bom está visto que tenho mesmo de ver "Incepcion" e espero, sem cinismo, que tenha mesmo todo esse cinema lá dentro. Acho muito interessante essa concepção de Bordwell sobre a narrativa de imagens inter-comunicantes, porque na verdade, pelo menos para mim, o que mais gozo me dá é tentar encontrar pistas de reflexão em filmes menores, e é verdade que as há. Como se fossem trilhas inexploradas e possíveis.<br />Assim como é também verdade que há pessoas que têm uma espécie de grelha implacável segunda a qual filtram os filmes, sem pensar neles em concreto. Ou seja, pensam mais nos limites estereotipados que impõem entre o valor e não valor na história do cinema, e por decorrência pensam neles próprios, e menos nas obras em si.<br />Sobre a descrição dos planos, lembrei-me da célebre contestação da Susan Sontag contra a interpretação. Segunda ela interpretar é desvirtuar a natureza de um objecto artístico. Portanto, resta-nos a descrição do que lá está, o mais objectivamente possível, com os seus planos e imagens. Ou então, a referência ao nosso estado interior, o impacto emocional que o filme provocou. E o curioso é que a crítica Cahiers estava sempre entre estes dois pólos: violentíssima e caricata na assumpção dos estados subjectivos e do outro lado, descritiva. Interpretações, mais semióticas regra geral, eram guardadas para estudos transversais sobre autores. Bom, mas regras é uma coisa difícil de aceitar. Olhem o que o Bénard fazia da interpretação...<br />E sim é importante discutir as imagens. Mas elas entram a uma velocidade tão grande nos olhos de toda a gente que há pouco tempo para pensar no que se viu. Se é que se viu alguma coisa. E por isso triunfa, porque a nossa mente é de hábitos, a perspectiva quantitativa sobre a qualitativa, ou seja, as pessoas preferem ver muito, indiscriminadamente, a ver com qualidade. Eu penso que a civilização da imagem sofrerá uma certa “queda” e que nos próximos anos vamos aprender a lidar com este turbilhão de forma mais apaziguada.Carlos Natáliohttps://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-74566211462876858572010-08-08T07:09:34.057+01:002010-08-08T07:09:34.057+01:00Sabes que eu dou esse mesmíssimo murro na mesa!
Te...Sabes que eu dou esse mesmíssimo murro na mesa!<br />Tem sido uma discussão recorrente, a que nos remete para a necessidade geral de que se convoquem novas formas de olhar - em quaisquer plataformas - em vez de embalar o público nas cadeiras de lona do entorpecimento.<br />Para isso já basta a televisão - que, infelizmente, é um permanente alvo de CRÍTICA A MENOS!DoxDoxDoxhttps://www.blogger.com/profile/16088824673419402162noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-82178723824625288962010-08-08T05:14:52.528+01:002010-08-08T05:14:52.528+01:00É bem verdade, isso que dizes: "a maioria dos...É bem verdade, isso que dizes: "a maioria dos críticos é treinado em fazer má-publicidade". Parece que não gostam de cinema, ou querê-lo-ão só para eles? Por isso viro-me cada vez mais para autores como David Bordwell, que analisa o cinema no seu todo como uma grande narrativa de imagens intercomunicante, que se vai alimentando, do McTiernan ao Wong Kar-wai - aliás, é interessante ver o estudo que ele faz da escala e fotografia do "Slumdog", filme que detesto, mas que, lá está, ele levou-me a vê-lo. Já alguém dizia, no nascimento do cinema, que se há coisa espantosa neste medium é que até os maus filmes são bons. A nossa elite cultural ligada à Sétima Arte adora menosprezá-los. <br /><br />Quanto à crise que referes. Não é uma crise de bilheteiras, nem se calhar será uma crise de pipocas, mas, curiosamente, há uma crise reflexiva. O cinema não é discutido, falado abertamente, há um fechamento quase ditatorial de tudo o que são ideias novas ou velhas, originais ou gastas... ninguém está para aí virado. Querem o seu Roland Emmerich e já está. A crítica está pouco preocupada com este fenómeno, porque parece presa a uma espécie de visão clubística do cinema: os do Nolan contra os anti-Nolan, os do Boyle contra os anti-Boyle. Enfim... também há aqueles que preferem escrever sobre os mesmos temas ad nauseum e olham para a análise cinematográfica como uma coisa estática - e insistem em fazer críticas tipificadas, do estilo "história-análise-conclusão". Mas, depois, são capazes, a meu ver, cinicamente, de lamentar que já não se escrevam as críticas que um Godard escrevia; já não se perdem caracteres a descrever um plano! Pois não, já ninguém sabe o que é isso, um plano! Já ninguém sabe por que raio vai ao cinema, por que raio GOSTA de cinema!Luís Mendonçahttps://www.blogger.com/profile/05872344515759593144noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8770730009271567106.post-385712806630276712010-08-08T04:16:06.743+01:002010-08-08T04:16:06.743+01:00"É que "Inception" tem cinema lá de..."É que "Inception" tem cinema lá dentro, como nenhum filme de Nolan." <br /><br />!!!! <br />Este post tem urgência e traz verdade, pois parece ser tantas vezes necessário relembrar à camada cinéfila que os filmes de acção - cuja existência é inevitável! - podem e devem trazer cinema, e que apreciá-los construtivamente não corresponde a um desnivelar do gosto em direcções convergentes à procura mainstream e das bilheiras...<br />Se é certo que o snobismo elitista - estupidificante - por parte da maioria dos críticos parece ter medo é treinado em fazer a má-publicidade em vez do invés, que incentivasse a ida do público ao cinema , hábito que está tão em crise, continuo a achar impressionante as recorrências da má-vontade e a verborreia balística, pronta a disparar semanalmente sem dó (nem inteligência) sobre as várias frontes que não se coadunem com uma certa linha muito restritiva, que é perceptível a cada um dos críticos, com um mínimo de acompanhamento.DoxDoxDoxhttps://www.blogger.com/profile/16088824673419402162noreply@blogger.com