segunda-feira, 9 de maio de 2011

John's Gone (2011) de Ben & Josh Safdie

O novo filme dos Safdie já foi mostrado em território nacional, mais especificamente, no recém-(re)aberto Teatro do Bairro, na secção Observatório Curtas do Indie Lisboa. De entre os filmes que vi até agora no festival, "John's Gone" é o que me enche mais as medidas; pequena pérola cinematográfica, não excessivamente polida, na realidade, com todas as imperfeições que caracterizam "o humano", série de "pequenos lampejos de vida" captados sem pingo de maneirismo.

Uma curta justamente de curtos momentos, através dos quais sentimos a vida das personagens a expandir-se para lá do que é mostrado, a deixar-se entrever pelo espectador em toda a sua complexidade (= rede de implicâncias), em toda a sua "mundanidade". Estes lampejos ou flashes de vida são mostrados por um dispositivo formal levemente tributário de uma estética (comovente, porque perdida ou descaracterizada) do home-vídeo ou com o grão e a espontaneidade nos gestos do cinema beat dos anos 50/60 - doce rememoração que os irmãos realizam saltitando entre pequenos ilhéus narrativos, visíveis ou latentes.

"John's Gone", corolário de "Go Get Some Rosemary"? Não. Curiosamente, os Safdie parecem não se deslumbrar com o seu primeiro, e magnífico, resultado em formato longo e recuam para a curta, mas não recuam nos seus princípios, nem na integridade do seu cinema, feito de pessoas frágeis e de fugidios episódios do quotidiano, janelas sentimentais para algo mais profundo: tudo o que está em cada episódio feito de "nada" é muito, algo que se constata ainda melhor no quadro de uma Arte cada vez mais cheia de tudo que é "nada".

(E prometo não falar aqui dos filmes de Tréfaut e João Nuno Pinto, que se estrearam com pompa e circunstância e desiludiram no seu estilo "desbocado" e demagógico. Safdie estão onde têm estado: nos antípodas disto tudo. Cinema autenticado pelas pessoas que tem lá dentro e não por uma qualquer agenda político-sociológica, composta de uns quantos recortes de jornal, e que vende "verdades chocantes" como quem vende batatas embrulhadas em papel dourado.)

1 comentário:

João Raposão disse...

Mal posso esperar para ver. Vou à segunda sessão, na quinta-feira.

abraço

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