terça-feira, 9 de março de 2010

Alice in Wonderland (2010) de Tim Burton


A "alicemania" fervilha e, depois de ter arrasado o Box Office na primeira semana e na sequência da péssima prestação de "Avatar" nos Óscares, o filme de Burton parece ter obliterado de vez com a "Na'vimania". Burton enche salas como nunca e a crítica continua a olhá-lo como um auteur. Apesar deste hype em torno de um dos mais interessantes realizadores norte-americanos, o último filme de Burton só vem confirmar para nós aquela que é uma das fases menos inspiradas do realizador.

Faça-se a comparação com a amarga visão da América de um "Eduardo Mãos de Tesoura" ou com o auto-irónico exercício de género (politicamente picante) "Mars Attacks!" e tirem-se as devidas conclusões: no entretanto, o que se perdeu e o que se ganhou? Burton em "Charlie e a Fábrica de Chocolate" dá espaço a Johnny Depp para dar forma a uma das suas mais delirantes interpretações, a fazer lembrar um Michael Jackson retro-pop on acids, e em "Sweeney Todd" testemunhamos o negrume burtoniano levado ao extremo do gore, uma ópera sanguinolenta que aproveita bem aquela que poderá ser uma das grandes virtudes da estética CGI: os planos longos e vertiginosos que não conhecem os limites do cinema de cenários (e pessoas) reais. Burton usou bem a alta tecnologia na moda para potenciar no terreno do cinema a unidade espaço-tempo típica do teatro. Mas a ameaça instalou-se na nossa cabeça quando soubemos do seu projecto seguinte: uma versão em 3D de "Alice no País das Maravilhas". Primeiro, a escolha da história parece-nos completamente redundante numa obra que, de forma arrojada e por vezes corajosa, sempre soube "brincar" com o imaginário do clássico de Lewis Carroll.

A popularidade universal da história e personagens colocava a Burton um dilema: fazer jus à obra, e ao imaginário popular que a transcende, e refrear o espírito "dessacralizador" que sempre o caracterizou ou dar-lhe um enquadramento radicalmente novo, leia-se, "burtonizá-lo" dos pés à cabeça. Pensamos que, de modo politicamente correcto, Burton quis fazer as duas coisas e, com isso, ficou a meio caminho nas duas: tornou a "wonderland" numa "underland" e, com isso, satisfez os seus mais indefectíveis que o vêem como um auteur do "fantástico para adultos" (negro, irónico e freudiano) e, por outro lado, seguiu previsivelmente a narrativa mais repetida na história das imagens e impingiu ao espectador uns óculos de plástico (qual Charlie e companhia). Seremos só nós que não gostamos minimamente desta nova plástica de Burton?

É que em "Sweeney Todd" o CGI estava ao serviço da realização, aqui é um gadget de feira que surge requentado depois da riqueza e sentido do espectáculo visual que é "Avatar". Comparem-se os "bichinhos levitantes" nos dois filmes: no de Burton, é "efeito" de cosmética para sublinhar a "tridimensionalidade"; em Cameron, são "seres" que dão vida a um mundo que se assume como virtual (não será "Avatar" um grande filme sobre o fenómeno dos videojogos ou da projecção-identificação do espectador no que se passa no ecrã de cinema? Ou uma metáfora sobre um desejo de escape tão recalcado no homem do pós-11 de Setembro?). Burton quis conceber uma ride em underland, onde vemos aqui e ali um previsível Johnny Depp com figura e trejeitos à Beetljuice que, como os "bichinhos levitantes", é efeito estéril para nos lembrar (não da tridimensionalidade mas) de uma das figuras bidimensionais habituais no universo Burton: homem excêntrico em luta com traumas antigos que o conduziram ao isolamento e à misantropia. Um piscar de olho, auto-indulgente, para fã ver.

Toda a história em torno da predestinação de Alice e da metafórica alusão à dor de crescer revestem como um invólucro esta ride com marca Disney, que se refugia nuns copy pastes burtonianos para receber o aval da crítica. Lamentavelmente, a fórmula resulta no pior filme de Tim Burton até à data.

2 comentários:

Lohana disse...

Nossa,que post interessante principalmente pra quem ta interessado pra ver logo o filme....como eu,rsrsrsrsrs!!!adorei!!!

Maíra disse...

Assisti ao filme ontem e concordo com a sua opinião em relação a diferença do Tim Burton neste filme.
Mas eu ainda consegui achar o filme lindo e o Johnny Depp incrível como sempre.

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