sexta-feira, 11 de julho de 2008

Paranoid Park (2007) de Gus Van Sant

Texto redigido aquando da estreia de "Paranoid Park" em Portugal.

"Paranoid Park" volta a falar dos teens de "Elephant" (2003) e a ser tão etéreo quanto "Last Days" (2005). No entanto, em vez de uma escola (ainda que ela lá esteja) e de uma mansão isolada na floresta (ainda se ouve, à distância, o som da natureza), Gus Van Sant posiciona a acção num recinto para skaters, espécie de santuário da modalidade frequentado pelos espíritos fortes.

A história é contada em fragmentos desordenados, como uma memória nebulosa. É esta fragmentação que transforma uma história banal de crime numa estranha espiral de acontecimentos, onde a atemporalidade da diegese e a transcendência das imagens evocam esse limbo existencial chamado adolescência.

A reconstituição do que poderá ter acontecido e como o protagonista se envolveu num crime acidental, por sinal, verdadeiramente macabro, servem de base a uma experiência puramente cinematográfica. O artifício nunca foi tão notório em Van Sant: o realismo suburbano reminiscente de "Ken Park" (2002) e Larry Clark (relembro que Van Sant foi um dos produtores de “Kids”) é revolvido pelo onirismo clássico do film noir (obrigado, Chris Doyle, por existires) e a cadência circense e enigmática de Nino Rota.

É verdade: Van Sant conseguiu colar a este drama existencial profundo a música de “Giulietta degli spiriti” (1965) e “Amarcord” (1973) – um casamento tão inusitado e que resulta tão bem que nem há palavras para o explicar.

Mais uma vez, Van Sant supera qualquer lógica citatória simplista (também se ouvia Beethoven nos corredores do liceu de… Columbine). E, ao mesmo tempo, depuram-se os travellings enleantes de "Elephant" e o retrato crepuscular de uma sociedade em auto-liquidação, sem afectos e apática. A perfeição mora aqui.

Ler mais aqui: IMDB.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho interessante como tanta gente não se cansou de vangloriar o Elephant e parece que se esqueceu da existência de Van Sant com Last Days e Paranoid Park, dois filmes tão interessantes como o mencionado anteriormente. Há algo de profundamente belo na forma como é filmada toda a comoção de Paranoid Park. Talvez se chame Christopher Doyle.

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