Feito no mesmo ano que "Sanshô dayû", e um ano depois de "Ugetsu monogatari", "Chikamatsu monogatari", conhecido pelo seu título anglo-saxónico "The Crucified Lovers", materializa o novo sonho desolador de Mizoguchi sobre o passado do seu país, mais concretamente, a sociedade japonesa do século XVII, onde o adultério era considerado um crime punido com crucificação, para além de um estigma social indelével para qualquer família.
Apesar de "Sanshô dayû" ser um duro retrato da escravatura no Japão medieval, a fazer lembrar, a espaços, o horror do Holocausto, e de "Ugetsu" falar da desintegração familiar num cenário de guerra, "Chikamatsu monogatari" consegue ser um dos mais amargurados filmes sobre um país e um tempo.
Em vez de termos uma história previsível de um amor adúltero entre um homem e uma mulher de classes sociais diferentes, que acabam vítimas de uma sociedade regida por leis desumanas, Migozuchi resolve complicar a equação, filmando a fatídica viagem de um homem e uma mulher que, depois de injustamente acusados de adultério, se rendem a uma paixão primordial provocada pela angustiante fuga a uma morte certa.
Tal como em "Ugetsu", a morte e o amor são elementos que se cruzam, produzindo a libido que une os protagonistas. De facto, só Mizoguchi tem a capacidade de imbuir de erotismo um filme trágico, "sem sexo", contra a vergonha e a opressão.
Por outro lado, ao mesmo tempo que o Estado aparece como uma figura castradora da liberdade de amar, é da repressão que nasce o amor imortal - "ela parece tão feliz e ele tão sereno", diz alguém que observa os dois amantes cativos a serem conduzidos ao crucifixo.
Como se Mizoguchi, num golpe cínico de génio, nos fizesse ver que não precisa de destruir o sistema, se consegue evidenciar a sua natureza degenerativa. Com efeito, no fim, para os dois amantes, a opressão significou libertação; a morte, eternidade.
Apesar de "Sanshô dayû" ser um duro retrato da escravatura no Japão medieval, a fazer lembrar, a espaços, o horror do Holocausto, e de "Ugetsu" falar da desintegração familiar num cenário de guerra, "Chikamatsu monogatari" consegue ser um dos mais amargurados filmes sobre um país e um tempo.
Em vez de termos uma história previsível de um amor adúltero entre um homem e uma mulher de classes sociais diferentes, que acabam vítimas de uma sociedade regida por leis desumanas, Migozuchi resolve complicar a equação, filmando a fatídica viagem de um homem e uma mulher que, depois de injustamente acusados de adultério, se rendem a uma paixão primordial provocada pela angustiante fuga a uma morte certa.
Tal como em "Ugetsu", a morte e o amor são elementos que se cruzam, produzindo a libido que une os protagonistas. De facto, só Mizoguchi tem a capacidade de imbuir de erotismo um filme trágico, "sem sexo", contra a vergonha e a opressão.
Por outro lado, ao mesmo tempo que o Estado aparece como uma figura castradora da liberdade de amar, é da repressão que nasce o amor imortal - "ela parece tão feliz e ele tão sereno", diz alguém que observa os dois amantes cativos a serem conduzidos ao crucifixo.
Como se Mizoguchi, num golpe cínico de génio, nos fizesse ver que não precisa de destruir o sistema, se consegue evidenciar a sua natureza degenerativa. Com efeito, no fim, para os dois amantes, a opressão significou libertação; a morte, eternidade.
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