segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Comment ça va? (1978) de Jean-Luc Godard


Um jornal comunista quer documentar o seu processo de trabalho, a sua cadeia transformadora: entram os factos em bruto que, no fim da linha, são impressos em grandes folhas de papel. Nele temos imagem e texto, um deve-se relacionar com o outro, cada um deve bastar-se a si mesmo apesar do outro... O jornalismo é isto: conciliar linguagens que se afirmam numa unidade de leitura chamada texto, ou seja, na maior parte das vezes - merda de jornalistas! -, acaba por se tornar nisto: conciliar linguagens inconciliáveis...

A imagem é dada a ler num jornal, mas nós não lemos imagens; vemos imagens. E o realizador encarregado do dito documentário vai percorrer um caminho digamos que "epifânico" para descobrir, muito por incentivo da sua colega-camarada interpretada por Miéville, que o seu olhar se passeia na imagem, que, pela acção do olhar, assim se desdobra em inúmeras narrativas possíveis - cada gesto, cada face, uma "história possível", uma "estória verdadeira", um "furo"... o que quiserem chamar. O documentário, encomenda do Partido, deverá seguir esse movimento, diríamos, mcluhaniano ou barthesiano, da imagem nos seus processos de "produção", na redacção, na edição e impressão de notícias.

"Comment ça va?" parte desta premissa, para depois se prender a uma imagem: uma foto da revolução num país chamado Portugal, onde se vivem tempos de incerteza e de esperança. Tensão e alegria, uma alegria louca, quase "demencial"... perigosa? Aquela foto conta-nos isso e, talvez, mais; depende por "onde" a lemos, melhor, por onde a vemos. Uma imagem fotográfica pode remeter para uma camada de imagens, que o texto deve complementar, mas em relação à qual este é uma "imagem pobre" - partir da imagem não-textual parece ser a palavra de ordem de Godard, nesta sua reflexão sobre um homem atormentado pelos problemas da representação. Matéria obrigatória.

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