Em 2007, um filme romeno reclamou uma estética semelhante: "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" de Cristian Mungiu, Palma de Ouro de Cannes nesse ano (prémio que os Dardenne já receberam por duas vezes). Dá vontade de dizer que se trata do melhor filme que os Dardenne não fizeram desde a sua obra-prima, "Rosetta", apresentando também alguns pontos de contacto com "Le Fils" (2002) e "L'Enfant" (2005) .
O filme desenrola-se, no entanto, em plena Roménia comunista, ano de 1987, e conta a história de uma amizade profunda entre duas jovens estudantes, que é estreitada no decurso de um drama humano terrível (um aborto). Mungiu fala-nos ainda das dificuldades de comunicação entre homem e mulher, e a falta dela entre pais (ora ausentes, ora autistas) e filhos, numa sociedade de valores falidos.
Os sentimentos angustiantes de caos e vazio perseguem-nos do primeiro ao último minuto do filme, mas sobretudo até ao momento em que ganha nitidez "o esquema" das duas amigas (também são precisos muitos minutos, na realidade, o filme quase todo, para sermos confrontados, a seco, com a história que subjaz o estado de espírito convulso e mortificante da personagem de Olivier Gourmet, em "Le Fils").
No centro de "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" está o retrato cru (ligado a um tempo, é certo, mas de valor universal) de uma jovem que se sacrifica para salvar uma amiga e que acaba por descobrir que também ela precisava de salvação. Sentimos isso na sequência genial daquele estuporado jantar em família, que acaba por ser o principal inferno deste sufocante filme.
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