quarta-feira, 30 de abril de 2008
Movie brats: crianças para sempre (IV)
Brian De Palma
O cinema de De Palma está repleto de excentricidades visuais, nomeadamente, os seus planos-sequência impossíveis ou as inesperadas divisões na imagem. E, por isso mesmo, "Femme Fatale" (2002) é o epítome ideal do seu virtuosismo, até porque, para além disso, é o "plágio dos plágios" de De Palma - é "Vertigo" (1958) ou o próprio "Obsession" (1976) de De Palma que é homenageado? É "Rear Window" (1954) ou o seu duplicado, "Body Double" (1984), que é remisturado? Mas, infelizmente, o YouTube, como muita comunidade cinéfila, desvaloriza essa obra-prima, sendo difícil de encontrar, por exemplo, imagens da sua inebriante sequência inicial (filmada em Cannes). Mas não há problema, porque não faltam grandes momentos no cinema de De Palma: por exemplo, os 10 minutos em plano único que iniciam o igualmente subvalorizado "Snake Eyes" (1998).
George Lucas
Escolhi um momento da distopia futurista, asfixiante e claustrofóbica, "THX 1138" (1971) de George Lucas, filme algo esquecido, bastante conotado politicamente (a sociedade totalitária das "massas pelas massas" é uma alusão clara ao comunismo), mas que é um trabalho plástico muito interessante, que desengana todos aqueles que pensam que Lucas sempre foi, para o bem e para o mal, um realizador inteiramente comercial.
William Friedkin
Aqui não quis ser óbvio. Claro que a perseguição de "French Connection" (1971) será o momento mais importante na filmografia de Friedkin, mas "The Hunted" (2003), o seu penúltimo filme, merece uma menção aqui. Para mim (sei que estou só...), trata-se de um dos filmes mais injustamente desprezados dos últimos tempos: "The Hunted" é directo, cru e selvagem, como se Friedkin quisesse filmar uma caçada entre dois homens, expurgada de toda a verborreia que reveste, talvez para disfarçar um certo complexo de "género menor", grande parte dos filmes de acção. "The Hunted" não precisa de uma segunda leitura: é um homem atrás de outro; "apenas" um filme de acção, que assume a sua dureza e straightforwardness com total desassombro. Ah, e esqueçam o CGI.
terça-feira, 29 de abril de 2008
Movie brats: crianças para sempre (III)
Francis Ford Coppola
Pode ser uma escolha óbvia, mas a forma como "Apocalypse Now" (1979) começa é qualquer coisa de maior que o próprio cinema - estranhamente, a imagem inicial de Martin Sheen faz-me lembrar um dos malabarismos de câmara do recente "Youth Without Youth". Gostava também de lembrar os comoventes minutos finais do muito subvalorizado "The Godfather: Part III" (1990).
Steven Spielberg
Para mim, Spielberg é, acima de tudo, um enorme realizador de acção/suspense/terror. Não me interpretem mal, "E.T." (1986) é a sua maior obra-prima, mas filmes como o muito esquecido "Duel" (1971) e o ainda hoje arrepiante "Jaws" (1975) são magistrais rebentos da escola que Hitchcock fundou com "The Birds" (1963). Escolhi uma das perseguições de "Duel" - pergunto-mo se os minutos finais de "Death Proof" não terão também vindo beber aqui.
Martin Scorsese
A abertura de "Raging Bull" (1980) não é só a abertura do maior filme americano dos anos 80. A música belíssima, em harmonia com o preto-e-branco nostálgico, mais o título violento retêm nela os instantes que parecem resumir uma vida: a do pugilista Jake LaMotta. É o maior Scorsese.
(continua)
domingo, 27 de abril de 2008
We Own the Night (2007) de James Gray
O elemento desestabilizador no filme é 'Bobby', que, vivendo no limiar desses dois universos, é o órfão e o apátrida; o problema e a solução de "We Own the Night". A complexidade da personagem interpretada por Joaquin Phoenix é um dos elementos que fazem desta subvalorizada obra de Gray muito mais do que um produto de um realizador deslumbrado, "agarrado" às suas próprias idolatrias.
É "um dos", porque, sejamos justos, "We Own the Night" não precisava de muito mais para ser um grande filme do que aquele momento magnificamente filmado em que 'Bobby' regressa para os braços da sua namorada, depois de ter visto o irmão desfigurado na cama do hospital. Ou aqueles minutos em que Gray cria uma das melhores sequências de perseguição automóvel na história recente: real (o CGI foi usado, mas nem se nota...) e siderante como todo o filme.
Ler mais aqui: IMDB.
sábado, 26 de abril de 2008
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Movie brats: crianças para sempre (II)
Francis Ford Coppola - Acabou de fazer "Youth Without Youth" e já está a filmar "Tetro", obra que começou mal. A sua casa em Buenos Aires foi assaltada, tendo os ladrões levado equipamento de filmagem, notas de pré-produção e o computador que armazenava a única cópia existente do argumento, que se debruça sobre as rivalidades que ameaçam dividir uma família italiana de artistas na Argentina. Este episódio traumatizante não demoveu Coppola, que já se encontra a filmar com base num novo argumento, que contém uma alteração significativa em relação ao anterior: o protagonista é, agora, uma protagonista; ou seja, se antes Javier Bardem estava nos créditos, agora está Carmen Maura, a antiga musa de Pedro Almodóvar. A personagem Tetro será interpretada por Vincent Gallo.
Steven Spielberg - Está prestes a estrear internacionalmente, no Festival de Cannes (14 a 25 de Maio), a quarta parte da saga Indiana Jones, "Indiana Jones and the Kingdomn of the Crystal Skull". Mas Spielberg, tal como Scorsese (ver abaixo), também sonha com um filme sobre um Presidente histórico dos Estados Unidos: Abraham Lincoln. "Tintin" continua na agenda do realizador.
Martin Scorsese - Depois do multi-premiado "The Departed" (2006), que lhe valeu os Óscares de melhor filme e realização, Scorsese não tem parado. Em 2007, embarcou numa "experiência secreta": realizar uma curta-metragem chamada "The Key to Reserva", que é a transcrição para película de três minutos de um filme que Alfred Hitchcock nunca realizou, exactamente "The Key to Reserva" - podem vê-la aqui, juntamente com um delicioso prólogo (e não só...) do próprio Martin Scorsese. Chegamos a 2008 e Scorsese já estreou internacionalmente, no último festival de Berlim, "Shine a Light" (estreia dia 1 de Maio em Portugal), documentário musical de homenagem aos Rolling Stones, espécie de sucedâneo de "No Direction Home: Bob Dylan" (2005). Quanto ao futuro, vários são os seus desejos: filmar o livro "Shutter Island" de Dennis Lehane; fazer um filme sobre Theodore Roosevelt; homenagear George Harrison; ou contar a história do livro "O Silêncio", que se debruça sobre a viagem que, em 1638, o jesuíta português (!) Sebastião Rodrigues fez até ao Japão.
Brian De Palma - O experimental "Redacted" (2007) pode ter sido uma experiência esporádica, que, até ver, não sofrerá um desenvolvimento no seu próximo projecto. Com efeito, parece estar de regresso ao mainstream, com a anunciada sequela de "The Untouchables" (1987), intitulada "The Untouchables: Capone Rising", mas, ao mesmo tempo, todos sabemos que De Palma é tudo menos um realizador previsível.
George Lucas - Não tem nenhuma realização na agenda, mas acaba de produzir "Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull" e tem estado associado a vários subprodutos da saga "Star Wars".
William Friedkin - Com o fabuloso "Bug" (2006), Friedkin voltou a conquistar a crítica, mas isso não impede que este continue a avançar com muita cautela para cada projecto. Daí que, por enquanto, não tenha nenhuma longa-metragem no horizonte. Contudo, na senda de Tarantino, filmou, em 2007, um episódio para a série "CSI: Las Vegas".
segunda-feira, 21 de abril de 2008
O que falta na TV portuguesa
Não me venham com o argumento "mas isso não interessada nada a ninguém", porque, no último (que foi o primeiro, e, já agora, único?) festival de terror em Lisboa, Motelx, as salas encheram-se para o visionamento de alguns dos seus episódios. (E que excelente que foi ver, no grande ecrã, o delirante "Pro-Life" de John Carpenter.)
domingo, 20 de abril de 2008
Kiss Me Deadly (1955) de Robert Aldrich
A partir daqui, é noir puro: Hammer inicia uma investigação particular, começa a ligar variadíssimos nomes (o enredo é difícil de seguir, como um "The Big Sleep" ou "Murder, My Sweet") e, entrementes, seduz várias mulheres, algumas loiras (venenosas?) e uma morena (aquela que verdadeiramente ama). O mais especial nesta obra-prima de Robert Aldrich é, para além da sua extrema negridão e violência (a lembrar, a espaços, esse autêntico mergulho no abismo que é "Nightmare Alley", filme maldito de Edmund Goulding), a forma como paulatinamente vai perdendo o contacto com a realidade, deixando que a paranóia se apodere da história como um vírus.
Perto do fim, "Kiss Me Deadly" desliza para uma espécie de vertigem horrífica, só comparável a um David Lynch, mais concretamente, ao seu noir revisionista, "Mulholland Drive" - o que esconde a caixa misteriosa a que todos querem deitar mão?
Aldrich filma este noir febril e demencial, seguindo um objectivo claro: a cada plano, uma obra de arte. Com a câmara em posições inauditas, a sublinhar permanentemente a estranheza da história-pesadelo de Hammer, Aldrich constrói uma teia de imagens plasticamente notáveis e engenhosas. Singular.
sábado, 19 de abril de 2008
Futsal enxotado para a SIC Radical
sexta-feira, 18 de abril de 2008
O directo de Menezes
Na sequência de várias manifestações de desagrado em relação à actual liderança (ou lideranças, como alguns acusam) do PSD, Luís Filipe Menezes decide renunciar, anunciando a imediata convocação de directas. E quando digo imediata, digo imediata: daqui a cerca de um mês, temos novas eleições dentro do partido, depois de há apenas seis meses as "bases" terem elegido, de forma peremptória, o autarca de Gaia.
O anúncio foi feito durante o jornal das 9 da SIC Notícias, o que obrigou Mário Crespo a interromper a análise de Ângelo Correia, em estúdio naquele exacto momento, sobre o actual estado do partido e da liderança que subscreve(u).
A demissão de Menezes, com a ambiguidade em torno de uma eventual recandidatura, apanhou toda a gente desprevenida, incluindo o próprio Ângelo Correia, que, a gaguejar, lá disse que apoiaria Menezes, se este, por hipótese, decidisse entrar na corrida. Mas, no jornal das 22, já Ana Lourenço dava como facto consumado a não recandidatura de Menezes... Impressionante este relampejante "pingue-pongue" noticioso em tempo real.
Filmar o tempo
"The New World" (2005) de Terrence Malick
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Rir na SIC Radical
O pior? O pior é que claramente não há dinheiro nem vontade para dar vida nova ao canal. É verdade que ainda lá encontramos bons programas, exemplo de "Family Guy" (que passa de manhã...), "Seinfeld" (que já vimos um milhão de vezes...), "Daily Show", "Conan O'Brien", "Swinging", "Comedy Inc." (em reposição) e "Quase Toda a Verdade", mas o último golpe de mestre de repor, do primeiro ao último número, o "Levanta-te e Ri" é um sinal de alerta: a SIC Radical está desesperada e a televisão nacional começa a ter saudades dos Gato Fedorento (que também estão em reposição nesse canal e na RTP1, a fazerem concorrência a si mesmos).
É que, depois dos gatos, o programa "Levanta-te e Ri" parece ter sido feito no século passado, num tempo em que os portugueses facilmente se riam, de modo boçal e automático, de piadas que se resumiam à expressão "José Castelo Branco" ou "Miguel Ângelo". Ou seja, graças à SIC Radical, estação que se calhar já se encontra numa espécie de antecâmara gold da sua própria extinção, confirmamos que "Levanta-te e Ri" marcou um período meramente transitório na história do humor em Portugal. Por tudo isto, sugeria que se mudasse de rumo, antes que seja tarde demais.
O Poder da Imagem III: O Olhar e o Olhado em They Live (I)
2. O Olhar e o Olhado em They Live (I)
Stay Asleep.
No Imagination.
Submit to authority.
They Live data de 1988, época que marca o fim da era do Presidente Ronald Reagan, que nesse ano deu lugar a Bush Senior. A incerteza instalara-se no periclitante momento em que a ameaça comunista se desvanecia e a guerra-fria chegava ao fim dos seus dias. Foi precisamente nesta fase de rescaldo, ou seja, num momento em que a América inicia um período de recuperação pós-trauma, que Carpenter decide fazer They Live, obra anti-sistema que, ao invés de alimentar a ilusão da vitória norte-americana numa guerra que nunca chegou a deflagrar, apostou numa parábola política, disfarçada de cinema sci-fi de acção.
Este subvalorizado filme de Carpenter procurou, numa investida espinhosa contra a América de Reagan, da intimidação anti-comunista, dos yuppies e do corporate power, deslindar o universo subterrâneo que fluía, em conspirativo secretismo, no cerne da sociedade norte-americana.
Neste tempo passado, que ainda é o do presente, porque, alerta Carpenter, o reaginismo, de facto, ainda não morreu, os media eram os mensageiros de um "sistema", zelando pela manutenção da ordem – o tal statu quo reaginista – e reproduzindo a ideologia dominante – do capitalismo selvagem e de um certo repúdio irreflectido dirigido ao inimigo comunista.
(alerta para alguns spoilers, a partir daqui)
De início ao fim, não conhecemos nada sobre o protagonista, nem mesmo o seu nome, que nos créditos finais mereceu um baptismo irónico: Nada. Vemo-lo inicialmente com uma enorme mochila às costas, vindo de uma estação ferroviária. Quando chega à grande cidade, Nada não descansa enquanto não encontra um trabalho, abrigo e comida. A muito custo, arranja um trabalho precário nas obras; abrigo e comida numa pequena comunidade, que se estabeleceu num vasto terreno, situado na zona periférica da cidade.
Desde o começo, Nada pressente algo de estranho: não só no espaço onde agora vive, mas naquilo que lhe chega aos olhos, via TV, uma vez que a emissão normal das televisões tem vindo a ser interrompido por um sinal exterior. Entre os programas fúteis e estupidificantes que proliferam no espaço televisivo, revela-se, ocasionalmente, a imagem de um homem que, em tom profético, apela à humanidade que reaja ao perigoso estado de adormecimento em que submergiu…
Nada começa, de imediato, a desconfiar da constante actividade que rodeia uma igreja, situada perto da comunidade. Dentro dela, descobre que os cânticos religiosos, que de lá se faziam soar, não passam de gravações em cassete.
À socapa, Nada apercebe-se que aquilo que aparenta ser um espaço de culto, foi substituído por uma espécie de organização secreta, responsável pelas interferências no sinal televisivo. Antes de conseguir agarrar sequer uma das misteriosas caixas que se encontravam na igreja, Nada é surpreendido por um pregador cego que, contra a sua condição, afirma que “Deus fê-lo ver”.
Quando a noite cai, helicópteros e carros da polícia invadem violentamente o espaço da igreja e executam uma autêntica “limpeza de hereges”. Inquietado com o sucedido, Nada procura retirar da igreja uma das caixas que, no dia anterior, lhe haviam despertado um inusitado fascínio. Na cidade, resolve abrir a caixa, mas desilude-se com o que, dentro dela, encontra: um punhado de banalíssimos óculos escuros. Mas o que era banal torna-se em algo excepcional: postos os óculos, Nada vê um mundo novo.
No substrato dos outdoors, dos textos das revistas, dos discursos políticos televisionados, Nada vislumbra, “preto no branco”, perturbantes mensagens de ordem, tão agressivas quanto lacónicas: Stay asleep, No imagination, Submit to authorithy, Obey, Consume, etc. Por outro lado, os óculos permitem reconhecer, entre humanos, seres de outro planeta – alguns dos humanos apresentam um fácies transmutado em algo de abominável e macabro, contactando entre si, através de relógios de pulso.
A reacção do nosso herói é, sem grande hesitação, a de exterminar, a tiro de caçadeira se for preciso, esses seres diabólicos que se regozijam com a manipulação e controle da espécie humana…
(continua)
domingo, 13 de abril de 2008
Movie brats: crianças para sempre (I)
Resultados a publicar daqui a um mês.
Uwasa no onna (1954) de Kenji Mizoguchi
"Uwasa no onna" fala-nos de duas gerações de mulheres, representadas na história de uma mãe e de uma filha: a primeira, Hatsuko (Kinuyo Tanaka), gere um bordel e, a segunda, Yukiko (Yoshiko Kuga), regressa a casa vinda de Tokyo, depois de ter sido abandonada pelo marido e tentado pôr termo à vida.
Yukiko é o verdadeiro protótipo da mulher moderna da cidade: usa roupa ocidental, cabelo curto e crê que o estigma de ter uma mãe prostituta é a principal causa da falta de sucesso na sua vida. O discurso que traz "da civilização", sobre a necessidade de afirmação das mulheres numa sociedade injusta dominada por homens, vem desorganizar o dia-a-dia daquela velha casa de geishas, esquecida no interior japonês.
Ao mesmo tempo, a mãe redescobre o amor e inicia um período de dúvida angustiante, amplificada pelas convenções sociais imperantes que censuram e ridicularizam o amor entre os mais velhos - e que belo que é o espelho realidade/ficção das encenações do teatro Noh.
O mais notável neste filme é, mais uma vez, a forma inteligente como Mizoguchi se desvia dos clichés moralizantes do melodrama: se inicialmente pensávamos que o gesto libertador de "Uwasa no onna" partiria da filha, perto do fim, Mizoguchi troca as voltas à história e às personagens, amenizando o ímpeto progressista da filha e dando algum espaço à mãe para esta assumir, ao arrepio de todos os "bons costumes", um amor não correspondido. Isto é, a velha prostituta reivindica o direito a amar, mesmo sabendo que não será correspondida, enquanto a filha amolece e se transforma numa vulgar geisha.
Tal como em "Chikamatsu monogatari", a libertação/mudança vem com o amor nefasto.
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quinta-feira, 10 de abril de 2008
'Je vous salue, Marie' (1985) de Jean-Luc Godard
O corpo que engravida, por acção dos céus (da lua e do sol), sem permissão da virgem, está na génese de um drama feminino real: em primeiro plano está Maria, a revolta e o corpo martirizado, só depois aqueles que a rodeiam (entre eles, José e Julieta). O filme está repleto de belíssimas imagens (algumas delas quase divinais) e Godard aplica-as a uma história que não viveria sem elas.
Ou melhor, o cinema sempre difícil de Godard parece sofrer de uma condição: a sua fortíssima veia estética mais os seus diálogos existencias, por vezes herméticos e vagos, confundem-se muitas vezes com intrusão intelectual, mas a verdade é que, ao mesmo tempo que nos revolta e agride, a sua arte também interroga (os espectadores e o cinema). Será justo pedir mais?
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sábado, 5 de abril de 2008
There Will Be Blood (2007) de Paul Thomas Anderson
O que vi em "There Will Be Blood" é a superação, como raras vezes aconteceu, das expectativas monumentais que criei à volta de um filme. Trata-se de um daqueles filmes que já não se fazem sobre as raízes de toda uma civilização; sobre as camadas densas e imperscrutáveis que enformam as frustrações, sonhos, todas as virtudes e defeitos de um povo (com objectivos que lembram, a espaços, a trilogia sobre a construção dos Estados Unidos de Sergio Leone e esse autêntico ensaio sobre a ganância e avareza humanas que é "The Treasure of Sierra Madre", de John Huston).
O último filme de PT Anderson é isto, mas também é muito mais: é uma projecção da História na história de hoje; é uma reflexão crítica sobre os valores que fizeram erguer a nossa civilização. E, de uma maneira superlativa, por tão estrondosamente cinematográfica, "There Will Be Blood" diz-nos que essa civilização resultou do esforço criador, solitário e errático, de poucos homens, entre eles, Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis numa interpretação que ficará na história), que funciona como a figura-síntese perfeita do seu, ou do nosso, tempo.
O sangue do título são as feridas, as lágrimas e o petróleo, mas também o ódio e o amor esmagadores desse pai, que tem tanto de pecador como de crístico ou tanto de devoto (na relação com o "filho" e no seu negócio) como de herege (a "vingança final" ).
Meus senhores, este filme grita-nos: é tempo de mudar o cinema e reposicioná-lo na sua escala original; na grande escala humana de um “Citizen Kane”!
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quarta-feira, 2 de abril de 2008
O Caso não do, mas dos telemóveis
As escolas, e nelas os alunos, professores e... - é impressão minha ou alguém se esqueceu dos pais? -, andam à deriva por causa não de um, mas de dois telemóveis: o que motivou o conflito entre aluna e professora e aquele que foi usado para o filmar - que foi? O rapaz estava a fazer videovigilância e ainda o acusam de ser cúmplice de tão hediondo "crime"?
Eu tenho uma sugestão a fazer para este caso e que exponho aqui, a pensar em todos aqueles que vêem o país pelo YouTube: acabem, de uma vez por todas, com os telemóveis nas salas de aula, mas depois não se espantem que a violência continue, isto é, continue "de facto".