sexta-feira, 8 de maio de 2009

It's a Free World... (2007) de Ken Loach

O senhor Ken Loach fez um grande filme, um dos retratos mais crus, anti-moralistas da realidade social britânica, leia-se, europeia, mas nenhuma distribuidora se dignou a distribui-lo nas salas nacionais. "It's a Free World..." é mais um caso inexplicável de direct-to-DVD cinema aqui no nosso país. Não há obra mais pertinente que esta: um pedaço vivo da realidade da imigração ilegal, da questão do desemprego, da desintegração das famílias, todo o círculo vicioso que aflige as sociedades modernas está aqui contido e filmado sem juízos ou um pingo de sentimentalismo, sem leituras abusivas, retórica política ou super-heróis salvíficos ou sacrificiais. A protagonista aqui é como um protagonista de um filme de Laurent Cantet, que com "Entre les murs" se transformou num insólito sucesso de bilheteiras - estejam atentas, senhoras distribuidoras, que o realismo de forte cariz sociológico nunca chamou tanta gente às salas.

Ken Loach está aqui dez mil vezes mais depurado que o Mike Leigh de "Happy-Go-Lucky", filme totalmente inútil, quase patético, ao pé deste verdadeiro soco no estômago, de muito fina e cortante ironia - compare-se a primeira imagem do filme, quando a protagonista ainda "segue as regras" e está perfeitamente assimilada pelo establishement, com a imagem final, em que a sua aventura pelo mercado paralelo de recrutamento de trabalhadores atinge um ponto de saturação para nós e, imaginamos, para ela (os seus olhos cansados, face deformada e cabelo desgrenhado não mentem). O que se filma aqui é alguém que queria vencer na vida pelos seus próprios meios, mas acabou pior do que começou.

O final é de impasse: não há saída para aquela pessoa, que, como nós, é produto de uma educação desfasada - de outro tempo... como ela bem explica ao seu pai, também ele algo contraditório nos seus princípios - e, acima de tudo, de uma sociedade e de um mercado à beira da implosão. É através do "testemunho" de Angie, a protagonista de que falamos e que é interpretada brilhantemente pela bela Kierston Wareing, que todo este monstro se eleva e nos esmaga. "Há algo de profundamente errado na forma como estruturamos as nossas sociedades", pensamos isto e depois perguntamos "o que fazer, então?" - deste filme emana uma força que nos (quer) leva(r) a agir.

"It's a Free World..." é um filme para a crise, para um Portugal, leia-se, uma Europa, em tempo de eleições, em tempo de auto-reflexão e auto-avaliação. Pena que certas distribuidoras (Zon Lusomundo, em primeiro lugar) não pensem assim... (Estreou-se internacionalmente em 2007, mas "It's a Free World..." será um dos grandes filmes deste ano de cinema em Portugal.)

Ler mais aqui: IMDB.

1 comentário:

A Hermenêutica da Epistemologia disse...

legal o blog, eu criei um blog de cinema tambem achoei bem legal o seu,
da uma olha la no meu, assim sao os filmes que estao aqui nos cinemas do tocantins.
http://cinemaecigarros.blogspot.com/

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...