segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

The Curious Case of Benjamin Button (2008) de David Fincher

Continua a parecer que David Fincher é incapaz de fazer um mau filme. Mesmo quando aceita realizar um filme tão complicado como este, mesmo quando metade desse filme é uma evocação, pouco original, da fábula moderna "Forrest Gump". "The Curious Case of Benjamin Button" é como o seu protagonista: à medida que avança no tempo, ganha vigor e aproxima-se do melhor que conhecemos do realizador de "Se7en". Na segunda parte - quando Benjamin tem o corpo de Brad Pitt - Fincher quase que nos consegue fazer esquecer das opções fáceis, e algumas quase inestéticas, que toma logo no começo do filme: os múltiplos flashbacks (ainda assim, há Elias Koteas) e as personagens unidimensionais, com lição de moral na ponta da língua.

Claro que este filme podia ser uma experiência de cinema mais completa, e até ousada, se apostasse numa radicalização das suas duas partes; se mandasse o "Forrest Gump" para as urtigas e imprimisse realismo na infância de Benjamin - lhe desse dureza em vez de rosas (se se ouvisse "My Body is a Cage" e não a insossa banda sonora de Alexandre Desplat) - e deixasse a segunda parte próxima de como está: uma estupidamente arrebatadora história de amor, sem limites no seu estonteante idealismo.

Caramba, Blanchett e Pitt, um hino à beleza plástica e aos beijos na praia ou ao entardecer. Com aquela "primeira parte", Fincher teria de todos nós a permissão para ser piroso, para elevar ao infinito aquele amor impossibilitado, pelo corpo, na infância e agora realizado entre rostos tocados pela perfeição. Seria o mais desbragado, e ultrajante!, elogio à beleza e destruiria o agreste realismo presente na história do "outro" Benjamin (quando ainda não era Button, quando era pobre e velho). O que faria Cronenberg com este material?

Mais ousadia, senhor Fincher, e este filme seria, num choque entre as suas partes, uma obra-prima do excesso sentimental e cosmético; um anti-"Zodiac" ou um "Duel in the Sun" da modernidade. Mas não ficamos desiludidos, porque, para não falar do avanço tecnológico que este filme representa (e que nos deixou embasbacados), faz-se nele uma comovente reflexão sobre a vida e a morte na figura do amor como há muito não víamos no cinema de Hollywood. Nada mau, portanto.

Ler mais aqui: IMDB.

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