domingo, 30 de janeiro de 2011
Os melhores de 2010
sábado, 29 de janeiro de 2011
The House of the Devil (2009) de Ti West
No percurso até lá, a mesma câmara vai saboreando cada instante desse seu tempo incerto: não estamos no século XXI, nem tão-pouco nos anos 90... cenário a cenário, as roupas, os objectos vão-nos "deslocando" temporalmente para, no limite, meados dos anos 80; para, enfim, outra América e outros cinemas. É retro? É, mas sem grande deslumbramento. São os anos 80 filmados como se fossem 2011, mas num processo de degustação material muito lento, isto é, muito pouco contemporâneo - ou num ritmo que se impõe contemporaneamente, quando o melhor cinema de Carpenter, Argento, Hooper nos deixa nostálgicos? Enfim, a reflexão sobre o tempo, a capacidade (maturidade mesmo) que Ti West revela em não se prender ao filme-homenagem-de-um-tempo-em-que-os-filmes-de-terror-eram-assim é notável.
Outra coisa espantosa: como em "Halloween", os sinais gráficos do género tardam em chegar ao ecrã, fazendo reverter todos os códigos pr(é)escritos do genéro institucionalizado do filme de terror CONTRA as próprias expectativas do espectador. Isto é, a certa altura, "The House of the Devil" leva-nos a interrogar: será isto mesmo um filme de terror ou um filme de terror que apenas (pré-)existe na nossa cabeça? "Halloween" continua a ser o mais radical objecto cinematográfico a explorar esta fronteira entre o género e a sua impossível, ou desnecessária, concretização, mas "The House of the Devil" é, dos filmes de terror contemporâneos, o que leva mais longe esta ideia, ao ponto de a certa altura eu ter julgado possível ver, pela primeira vez, uma das minhas fantasias ganharem forma: um filme de terror sem sangue, um "quase" filme de terror, ou seja, um objecto propositadamente mal concebido - isto é, treslendo em toda a linha as receitas do género - que apenas explore a paranóia do espectador de cinema, ela em si mesma material de sobra para se aguentar hora e meia de suspense puro, de um "what if?" angustiante. Isto é, como seria "The House of the Devil" sem os seus minutos finais? Ainda melhor, estou certo.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Recorte de falas (IV): The Hospital
Dr. Bock: (...) If there is a despised, misunderstood minority in this country is us, poor impotent bastards. Well, I'm impotent and I'm proud of it. Impotence is beautiful, baby. Power to the impotent, right on, baby!
Barbara: Right on!
Dr. Bock: You know, when I say impotent, I don't say merely limp. Disagreable as it may be to a woman, a man may lust for other things. Something a little less transient than an erection. The sense of permanent worth, that's what medicine was to me (...).
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Recorte de falas (III): Death Proof
Stuntman Mike: Do I frighten you?
[Arlene silently nods]
Stuntman Mike: Is it my scar?
Arlene: It's your car.
Recorte de falas (II): The Last Run
Paul Rickard: I never called anything a her in my life. It, a car is an it.
Harry Garmes: With you, Rickard, everything is an it.
Recorte de falas (I): Jaws 2
Martin Brody: Where the hell are they?
Hendricks: About ten degrees off the starboard bow. You take...
Martin Brody: Don't give me that shit! Just point!
sábado, 22 de janeiro de 2011
Falar de África, pensar África (em África)
"La pyramide humaine" (1961) de Jean Rouch
(O Rouch americano? Ou é Rouch o Rogosin francês? Enfim, Cassavetes também dificilmente foi indiferente a este grande cineasta norte-americano, que precisa de ser mais divulgado - um obrigado à Carlotta por continuar a recuperar as pérolas mais escondidas do cinema independente norte-americano.)
sábado, 15 de janeiro de 2011
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
O filme do ano (XIV): o trailer completo
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Programação de cinema na RTP2 (XXXVI): a palavra "regular"
A RTP2 aguentou duas semanas seguidas com cinema, todos os dias da semana, acrescendo à sua tradicional sessão dupla dois ciclos dedicados ao cinema europeu, um à nova geração de cineastas italianos (como Sorrentino, Luchetti e Di Gregorio) e outro ao cinema espanhol (com muito Almodóvar, talvez numa perspectiva algo redutora sobre os últimos anos, mais produtivos, do cinema espanhol). Defendi que esta opção de programação não teve nada a ver com a nossa iniciativa de reivindicar mais e melhor cinema na RTP2; defendi isso, mas comecei a duvidar quando vi a programação desta semana: uma semana dedicada ao western, nomeadamente, com o excelente "Johnny Guitar" a abrir e dois Peckinpahs.
Foi uma boa surpresa para este início de ano, mas o meu entusiasmo rapidamente diminuiu quando consultei não só a sessão dupla do próximo sábado - das mais esquizofrénicas dos últimos tempos, com a proposta incompreensível "All the President's Men" de Pakula seguido de "Election" de Johnnie To - mas acima de tudo quando verifiquei que, na semana que vem, a RTP2 volta a descartar o cinema de segunda a sexta. Toda esta "indecisão programática", que dificilmente fideliza quem quer que seja, fez-me lembrar da importância da palavra REGULAR no título da nossa petição.
Reformulamos a exigência: que se "horizontalize" um conteúdo/fim fundamental que é o cinema e a formação cinéfila!
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
O filme do ano (XIII): o trailer ou parte dele
domingo, 2 de janeiro de 2011
Janelas para se pensar o cinema na televisão pública
Lá impuseram as "quotas do serviço público" ao homem dos junkets e das festas loucas de Hollywood. Não tenho nada em particular contra o "jornalismo" - vêem-se as aspas? Mas vêem-se mesmo? Não será melhor pôr a bold? Ó mãe, vê lá, está mesmo bem? Ok, continuando... - praticado por Mário Augusto, homem simpático que já tive o prazer de conhecer, mas a RTP não conseguia fazer melhor? Teve de roubar da concorrência alguém para fazer, contra-natura, a promoção do malquisto cinema nacional, misturado com a pipocada-mor do boxoffice?
A título de exemplo, veja-se os créditos de abertura de "Janela Indiscreta", com frases célebres da Sétima Arte como "O meu nome é Bond, James Bond" e... "Até que a voz me doa" ("Amália"). Isto revela não só a ausência de uma programação (pensada) de cultura na televisão pública como, muito especificamente, a condução editorial do resto do programa: euforia incontida quando é para falar da última comédia de Nora Ephron interrompida a espaços com os malditos dos filmes portugueses... enfiados a martelo. É tudo tão artificial quanto pôr um Mário Jorge Torres a entrevistar Hugh Grant num junket sobre a sua última produção "Ouviste falar dos Morgan?".
Não está a RTP equipada para conceber, de raiz, uma coisa que não tem, que não há, de facto, na televisão nacional: uma programação cultural com espaços, vá, com UM espaço que produza reflexão/informação relevante sobre a actualidade cinematográfica, que promova a descoberta dos clássicos e não se limite a "vender blockbusters" como quem vende um creme para as rugas? Caramba, não consegue a RTP arranjar, até mais barato, uma pessoa minimamente telegénica para falar ou/e pôr gente a falar empenhada e seriamente sobre Cinema?
Bring Me the Head of Alfredo Garcia (1974) de Sam Peckinpah
Com avanços e recuos, lá se aclara o único plano possível para Oates: cortar a cabeça de Al, mas Al está morto, portanto cortar a cabeça de um morto. Entramos aqui na mitologia mexicana ou esta entra dentro de nós, mais concretamente: a culpa inerente à profanação sepulcral dos subsolos pelos vivos, o tipo de pecado que não se expia propriamente na paróquia ao virar da esquina, mas sim, provavelmente, antecipando a justiça divina e ceifando a vida do mandatário de tal bestialidade. Mas quem é este mandatário? Onde vive? Com quem vive? Por que e para que é que quer a cabeça deste tipo?, perguntas que a personagem de Oates faz a si mesma - solilóquio efervescente com os fantasmas...- enquanto guia o seu carro clássico, tipo banheira, amolgado por todos os lados e coberto de pó e morte.
A narrativa de "Bring Me The Head of Alfredo Garcia" vive deste jogo de "espanta espíritos" entre o aqui e o além, entre o amor e o ódio, a vingança e a redenção; é uma monumental tragédia RELIGIOSA sobre um tipo que está farto de viver, que está sujo, ensanguentado, sem mulher, e só com uma cabeça pútrida infestada de moscas a seu lado, no "lugar do morto". A solução para ele fica clara: vai muito para lá do dinheiro, vai muito para lá do terreno. Estamos num filme de Peckinpah? Estamos na última fronteira possível do seu cinema tipicamente "fronteiriço" com muchos cojones.