Depois o realizador de "House of Games" escreveu "Edmond" (2005) com base numa peça sua e supervisionou de perto este filme realizado por Stuart Gordon ("Re-Animator"). O elenco é mametiano (William H. Macy, Joe Mantegna e Rebecca Pidgeon), os diálogos robotizados também nos são familiares, mas o resto é um desastre em toda a linha. Foi lançado directamente em DVD cá em Portugal. O mesmo aconteceu, de forma totalmente despropositada, com este "Redbelt". Não que seja uma obra fundamental, mas bastava a qualidade do elenco para merecer o seu visionamento em sala. Os filmes de Mamet são sempre uma experiência diferente; mesmo quando estão longe da sua obra-prima ("Homicide", um dos incríveis filmes dos anos 90).
As debilidades de "Redbelt" são as mesmas das de "Spartan", ainda que o desequilíbrio aqui se tenha acentuado. O filme começa fora do universo Mamet, (falsamente) empenhado em contar a história mais banal do mundo (um treinador de jiu-jitsu falido, um acidente no seu ginásio e um convite para integrar um torneio com os melhores dessa arte marcial...). Qualquer cinéfilo desconfia de tanta "normalidade" num filme de Mamet e com razão: a meio, a acção dá uma volta de 180 graus (digna de um "The Spanish Prisioner") e factos acidentais ou personagens aparentemente inócuas ganham sentido numa intriga de grandes dimensões, que espanta a "normalidade" do ecrã.
O resultado deste twist é avassalador e renova o nosso interesse pelo filme: afinal, caímos no bluff que Mamet, um vicíado no jogo, nos montou, o que se traduz no avanço de alguns peões no campo de jogo e a queda de outros tantos. É nesta altura que a escrita de Mamet ganha alguma inspiração, ao mesmo tempo que entram em cena dois dos seus actores-fetiche mais emblemáticos: Joe Mantegna e Ricky Jay. Contudo, pouco tempo depois o filme volta ao registo inicial, com um romance enfiado a martelo entre as personagens de Emily Mortimer e Chiwetel Ejiofor e com este último a (quase) participar, como muito se sugeria no começo, no torneio de artes marciais.
O final resume um filme com uma grande dispersão de personagens-objecto que têm uma função excessivamente pontual na narrativa e, nesse sentido, algumas delas (claro, Mantegna, Ricky Jay e até Tim Allen) justificavam um maior aprofundamento. Enfim, um Mamet menor, que nem por isso merecia ser lançado directamente para o mercado de aluguer.
Ler mais aqui: IMDB.
4 comentários:
Um dos meus filmes favoritos e imprescindíveis do ano passado/deste ano. Não só tem uma interpretação notável e inesquecível como absorve muito bem a narrativa de um homem fiel aos seus princípios e como tal o força a encontrar diversos obstáculos na vivência diária. Brilhante em todos os aspectos.
Não percebo, sinceramente. Ao pé de outros Mamets, este passa por "banal". Para mais, tem uma estranha tentativa final de puxar pelo sentimento, absolutamente desconcertante tendo em conta coisas como "House of Games" e "Homicide".
Um filme excelente, e até hoje o melhor que vi do Mamet.
Pois, eu achei o pior filme dele. Até o ameno "Things Change", uma sombra de "House of Games", filme anterior que marcou a estreia na realização de Mamet, é mais interessante.
Mas se calhar viu-o num mau dia. Who knows?
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