terça-feira, 20 de julho de 2010

Go Get Some Rosemary (2010) de Ben & Josh Safdie


Lembrei-me da Nova Iorque de Woody Allen e dos ciclones domésticos que minavam o seu cinema, logo à cabeça, o da lagosta insubordinada de "Annie Hall". Lembrei-me de Baumbach e interroguei-me como seria o realizador de "The Squid and the Whale" se filmasse como o realizador de "Husbands". Lembrei-me da vibração das ruas de Cassavetes, do grão das suas imagens, da agitação da sua câmara ante os actores - ou será antes a agitação dos actores ante a câmara? Lembrei-me do burlesco de Seymour Cassel em "Minnie and Moskowitz", mas antes lembrei-me, em versão sadia, do Cassavetes-pai de "Love Streams" - bem a propósito este título - a oferecer uma bebida ao seu filho pequeno e a deixá-lo trancado no quarto de hotel enquanto este ia para a borga. Lembrei-me do encontro de intelectuais beat de "Pull My Daisy" e do filho de Robert Frank, que estava para ali perdido entre poetas, músicos e um padre; a flutuar mais ou menos despercebido ao sabor das correntes e contra-correntes provocadas pelas palavras off de Kerouac. Lembrei-me daquele plano, também cheio do grão característico do Novo Cinema Americano - que documenta com a mesma facilidade com que ironiza -, da bandeira americana a dançar ao vento e a acabar por tapar por completo o rosto do padre orador. Lembrei-me de The Kinks, Simon and Garfunkel, Magnetic Fiels, Belle & Sebastien, Kings of Convenience, Sufjan Stevens... mas deles não ouvi uma nota. Lembrei-me de como o senhor Hulot respirava vida por todos os poros e como isso contagiava tudo o que tocava, incluindo os seus pobres sobrinhos, cativos de uma vida doméstica cinzenta, sem amor. Lembrei-me das crianças endiabradas de Morris Engel e Ruth Orkin, e das partidas infantis que os seus adultos pregavam uns aos outros. Lembrei-me de como é duro crescer ou de quão não-magnífica - já diz a música dos The National... - é a vida mal deixamos de ser crianças. Lembrei-me de tudo isto e lembrei-me da minha infância. O bastante para considerar os irmãos Safdie, depois do genial "The Pleasure of Being Robbed", a coisa mais interessante que anda por aí.

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...