sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Beyond a Reasonable Doubt (2009) de Peter Hyams


Aqui está um exemplo de como um trabalho de argumento relativamente bem feito pode não resultar obrigatoriamente num filme bom. Este remake do "especialista dos remakes/sequelas/filmes de acção inanes" Peter Hyams, de argumento assinado pelo próprio, corrige alguns dos problemas de credibilidade do original de Lang, um filme com uma narrativa com tantos buracos quanto um queijo suíço. Por exemplo, os motivos das personagens são, agora, mais claros e convincentes, pese embora se mantenham algumas incongruências, no mínimo, dispensáveis: desde logo, Hyams não consegue abstrair-se do acessório, isto é, saber "quem matou quem", o que, para o "motivo central" da narrativa, é de uma irrelevância total.

Mas, pois é, estamos em Hollywood e não podem ser deixadas perguntas sem resposta mal as luzes do cinema se voltem a acender. Então, Hyams arranja uma história algo mirabolante, mas, ainda assim, mais convincente que o original, nomeadamente, quanto às razões que levam o protagonista a enveredar por uma tentativa de fazer implodir o sistema de justiça, expondo ao país um district attorney ultra-maquiavélico interpretado por Michael Douglas - uma interpretação que soa a "part-time job", ou naquilo que em bom português se define como "dar uma perninha", face às poucas aparições da super-estrela neste filme que, com um elenco de actores de quarta categoria e um cuidado visual próprio de um telefilme, parece ter custado cinco tostões.

Nem menciono todo o subplot inacreditável do capanga de Douglas, que é um pretexto para haver perseguições e tensão num filme que se devia, a meu ver, centrar na ideia original, eticamente contestável, do seu protagonista. Seria, a meu ver, muitíssimo mais interessante que todo o plano do jornalista corresse, no fim, depois de uns quantos imprevistos vá - tem de haver algum suspense, c'um raio! This is Hollywood, baby! -, digo, que o plano do jornalista corresse como previsto, mas que, MESMO ASSIM, com o paleio e jogo de cintura do district attorney este convencesse o júri a condená-lo. Seria este, a meu ver, o caminho a seguir num filme político - o de Lang era, coisa que este não é nem por um segundo - que pusesse em causa, de algum modo, o funcionamento da justiça americana. (No filme de Hyams há uma pessoalização excessiva no embate entre o jornalista e o district attorney que o esvazia de uma intenção mais geral ou extrapolável.)

Mas não, nada disso: "Beyond a Reasonable Doubt", apesar dos esforços claros de Hyams de tornar mais coeso o plot do original, é irrelevante como objecto cinematográfico e, mais do que isso, como parábola política.

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