"Kagemusha" (o sósia ou "guerreiro fantasma") conta a história de um Japão dilacerado: em meados do século XVI, três poderosos "senhores da guerra" dominam as terras nipónicas, ao abrigo de um statu quo precário, mantido (apenas) pela respeitabilidade dos seus nomes. Quando Shingen, o chefe do clã Takeda, é mortalmente ferido, os seus homens procuram rapidamente evitar o descalabro do seu domínio. A solução improvisada passa por ocultar aos clãs rivais a notícia da sua morte e rapidamente colocar no lugar do nobre falecido um sósia insuspeito: um vulgar ladrão condenado ao crucifixo.
A partir daqui, Kurosawa aplica a sua visão artística a um filme megalómano, cuja logística imponente está à vista em várias sequências, nomeadamente, a do massacre final (cortesia dos multimilionários produtores Francis Ford Coppola e George Lucas?). O mais interessante neste filme é o facto de alternar entre o pequeno e o grande com um sentido de todo notável: a câmara transporta-nos frequentemente das pequenas salas, onde os grandes senhores conferenciam sobre os destinos do conflito, para espaços abertos, onde exércitos infindáveis se digladiam. O individual passa para o colectivo anónimo precisamente quando o sangue é jorrado - no palco da guerra não há protagonistas gloriosos, nem nenhuma divisão clara entre bem e mal que consiga negar a sua universal crueldade.
Por isso, a câmara mantém-se distante, resgatando humanidade das imagens lindíssimas que as batalhas produzem na interacção com (mais uma vez...) a natureza. Com efeito, as panorâmicas de "Kagemusha" são impressionantes - e terão sido certamente decisivas para que Kurosawa conquistasse, na edição de Cannes de 1980, a única Palma de Ouro da sua carreira.
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1 comentário:
Apesar de gostar de muitas obras do Akira, esse eu nunca tive a oportunidade de assistir.
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