quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Seven Men From Now (1956) de Budd Boetticher


Se Hawks é um círculo e Ford uma sinusóide, Boetticher é uma linha recta progressiva. Claro que há variações dramáticas, clímaxes e anti-clímaxes, mas os seus filmes estendem-se normalmente num percurso de irredutível linearidade; são, por norma, sobre uma travessia que vai de um ponto a outro - travessia recta sobre a rectidão moral, entenda-se. Claro que "Buchanan Rides Alone" e "Decision at Sundown" são mais concentracionários do que dou a entender, contudo, aí a linha recta é puramente narrativa - e, no caso do segundo vê-se ainda melhor, mais recta do que o percurso percorrido num "Ride Lonesome" ou neste "Seven Men From Now". Vai-se da primeira situação para a última, com poucas, quase nenhumas mesmo, variações de permeio.

"Seven Men From Now" é um dos mais destilados Boetticher. É protagonizado por Randolph Scott, ele é um ex-xerife que perdeu a mulher e que procura fazer justiça com um bando de "outlaws", ao mesmo tempo, rivaliza essa "busca" com o pouco fiável Lee Marvin. A ameaça paira durante a viagem - irá Lee Marvin virar-se contra o protagonista antes da chegada à vila onde "esperam" os criminosos? Irão os índios aparecer para atacar Scott e Marvin e acabar com as aspirações, antagónicas, dos dois? Nada de verdadeiramente "alarmante" se realiza, apenas se joga subtilmente nas margens do risco inerente a qualquer viagem pelo Oeste selvagem - e, a sul, a América é fértil em "ratoeiras" imprevisíveis.

Boetticher põe as peças todas em cima do tabuleiro, meticulosamente, para as mandar abaixo, uma a uma, nos instantes finais... até chegar o momento-chave do duelo: Marvin vs. Scott. Entre eles: a caixa cheia de ouro (faz lembrar o final de "Buchanan Rides Alone"). Quem puxará primeiro da pistola e acabar com a raça do outro? É uma cena clássica, mas neste filme sentimos - sem excesso melodramático - a rivalidade entre os dois, com uma certa indiferença niveladora, que põe tanto o protagonista acossado pelo fantasma da morte da mulher - será que ele não deseja secretamente o suicídio? - como o vilão - será Lee Marvin mesmo um sacana maior do que os outros "criminosos", que executaram o assalto? - num nível quase similar. Não fosse o machismo exuberante de Marvin - que contraste com o machismo "encoberto" de Scott - e podíamos fingir que não sabíamos o desenlace desse confronto de titãs. Entre o campo e o contra-campo o tiro é disparado e o herói, mesmo de perna manca, mantém a pose quase estatual, de uma dignidadade - e rectidão -, ouso dizer, puramente boetticheriana. Bang!

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...