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"Uwasa no onna" fala-nos de duas gerações de mulheres, representadas na história de uma mãe e de uma filha: a primeira, Hatsuko (Kinuyo Tanaka), gere um bordel e, a segunda, Yukiko (Yoshiko Kuga), regressa a casa vinda de Tokyo, depois de ter sido abandonada pelo marido e tentado pôr termo à vida.
Yukiko é o verdadeiro protótipo da mulher moderna da cidade: usa roupa ocidental, cabelo curto e crê que o estigma de ter uma mãe prostituta é a principal causa da falta de sucesso na sua vida. O discurso que traz "da civilização", sobre a necessidade de afirmação das mulheres numa sociedade injusta dominada por homens, vem desorganizar o dia-a-dia daquela velha casa de geishas, esquecida no interior japonês.
Ao mesmo tempo, a mãe redescobre o amor e inicia um período de dúvida angustiante, amplificada pelas convenções sociais imperantes que censuram e ridicularizam o amor entre os mais velhos - e que belo que é o espelho realidade/ficção das encenações do teatro Noh.
O mais notável neste filme é, mais uma vez, a forma inteligente como Mizoguchi se desvia dos clichés moralizantes do melodrama: se inicialmente pensávamos que o gesto libertador de "Uwasa no onna" partiria da filha, perto do fim, Mizoguchi troca as voltas à história e às personagens, amenizando o ímpeto progressista da filha e dando algum espaço à mãe para esta assumir, ao arrepio de todos os "bons costumes", um amor não correspondido. Isto é, a velha prostituta reivindica o direito a amar, mesmo sabendo que não será correspondida, enquanto a filha amolece e se transforma numa vulgar geisha.
Tal como em "Chikamatsu monogatari", a libertação/mudança vem com o amor nefasto.
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