sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Margot at the Wedding (2007) de Noah Baumbach

A política de distribuição em Portugal carece de uma séria revisão. À preocupante falta de cinema não-americano nas salas, junta-se o problema do punhado de filmes com seguros valores de produção que vai directamente para o mercado DVD. Nesta matéria, "Margot at the Wedding" é uma entre as já numerosas vítimas desta aparente ausência de critérios (entre elas,"The Savages", "Stop-Loss", "Leatherheads" e parece que já estão anunciados "Pineapple Express" e "The Visitor"). No entanto, achamos que o caso desta última obra de Noah Baumbach é especialmente grave: não estamos aqui a falar do seu valor artístico, mas do óbvio interesse que este objecto teria para o "mercado nacional".

Desde logo, o público português tinha recentemente visto "The Squid and the Whale" (2005), uma excelente apresentação ao universo de Baumbach. Por outro lado, "Margot at the Wedding" conta com um leque de actores incontornável: Nicole Kidman, Jack Black e Jennifer Jason Leigh. Para pior ainda mais, "Margot at the Wedding" assenta raízes sobretudo na grande tradição do cinema europeu: se o título parece retirado de um filme de Eric Rohmer, o facto de uma das personagens se chamar "Pauline" desfaz todas as dúvidas (o filme era para se chamar originalmente "Nicole at the Beach"). O cenário campestre, o sensualismo das imagens, a montagem elíptica, a escrita rica e doce-amarga e a fotografia outonal (do grande Harris Savides) são reminiscentes das histórias de amor de Eric Rohmer.

Contudo, neste filme também encontramos algumas pontes com a denominada weird America: histórias de adultos a braços com uma crise de meia idade, que partem numa viagem simbólica de redescoberta interior. Contudo, em Baumbach há qualquer coisa mais do que isto, na medida em que nos seus adultos predomina um sentimento nostálgico em torno de uma juventude idealizada, repleta de aventuras amorosas e de uma sensação irrepetível de liberdade. Da mesma forma, revelam uma completa inadaptação em relação à sua condição de pais, o que só sublinha a permanente dicotomia, interna e externa (o "eu" envelhecido e o meu filho ou o "eu" jovem), entre o presente e o passado. Depois de "The Squid and the Whale", o diálogo surdo entre pais e filhos volta a ser tema.

Por outro lado, "Margot at the Wedding" fala-nos sobre a dureza do processo de crescimento e as grandes descobertas que dele fazem parte: o corpo na adolescência e o amor, ou a sua impossibilidade, na idade adulta. Em relação a este último, Baumbach deixa-nos com a certeza de que o amor puro e autêntico não passa de uma utopia e que, para seguirmos em frente, apenas no resta a seca aceitação disso mesmo. Com efeito, só assim se selará a tão evitada passagem à idade madura. E por isso a personagem de Jennifer Jason Leigh faz as pazes com o seu noivo (Jack Black). E por isso Margot resolve, no último minuto, partir com o seu filho Claude de volta à "vida de sempre", em Vermont. Tudo muda para que, no fim, tudo fique na mesma. Mais rohmeriano que isto é impossível.

Ler mais aqui: IMDB.

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