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(É assinalável a coragem, mas acima de tudo o árduo trabalho dos Coen, ao terem evitado o uso de qualquer tema musical, mas nem por isso enjeitando a existência de uma banda sonora, já que a engenhosa manipulação de sons supostamente "naturais" resulta na potenciação de um ambiente realista de tensão.) Tudo isto pode não ser totalmente novo nos Coen (veja-se, ou melhor, ouça-se de novo a ventoinha ou o "estorricador de moscas" em "Blood Simple"), mas não nos cansamos de sublinhar que em "No Country for Old Men" a montagem funciona como um relógio suíço: mecanicamente perfeita.
Na segunda metade do filme (sensivelmente depois da primeira “confrontação” entre Javier Bardem e Josh Brolin), parece que os irmãos Coen se recostam nas páginas do romance homónimo de Cormac McCarthy e param de nos assoberbar com momentos espantosos de acção muda, directa e narrativamente descomprometida. Se antes ouvíamos apenas os passos das personagens, e as suas movimentações rumorejantes, dia e noite, no deserto e na cidade (que parece abandonada), surge na segunda parte uma dimensão discursiva, algo circular e exibicionista, que denota um certo desespero, a meu ver, precipitado, em dar profundidade literária às personagens – a “caça” dá lugar a uma intelectualização, pontualmente interessante, mas pouco original, da violência.
Para mais, notamos que a personagem de Javier Bardem muda ligeiramente: mantém-se robótica, fria, com os estereótipos de um vilão de um qualquer slasher movie, mas, na segunda parte, mais apostada em fazer valer a sua "doutrina do mal", tão simplista quanto o seu joguinho de sorte e azar - que tem um volte-face "divino" no fim, numa espécie de cedência tímida, mal disfarçada, à típica redenção hollywoodiana.
Mas não tenhamos dúvida de uma coisa: quem mantém a fasquia elevada até ao derradeiro minuto é Tommy Lee Jones (a melhor interpretação do filme) que é o rosto, marcado de dor, de uma América imisericordiosa, animal, mas também desencantada, resignada e fisicamente fatigada.
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