Sei que o vou ver mais vezes e dá-lo a ver às pessoas que gosto. Sei que todas as minhas palavras são fracas nesta altura para poder fazer jus à graciosidade de "Old Joy", um pequeno filme de uma fragilidade comovente que vem das suas duas personagens e da forma como comunicam, entre si e com a paisagem verdejante, isolada da cidade (quanto baste). É um Cassavetes sem as convulsões e massacres psicológicos, é um Sayles sem o reticulado político-sociológico, é uma Loden sem o grão pessimista, é tudo isto, certo, mas Kelly Reichardt é ela mesma. Ao pé de Courtney Hunt, autora do magnífico "Frozen River", não há realizador(a) mais interessante na cena (DE FACTO) indie norte-americana. "Wendy and Lucy", filme que se seguiu a "Old Joy", mostra boa continuidade, mas aqui está a sua obra-prima até agora.
A comunicação faz-se sobretudo de monólogos interiores, muito doces e amargurados, sem pingo de nostalgia, mas preenchidos por sucessivos "engolires em seco" sobre um passado, uma geração, um(a vivência do) tempo... A alegria do título está gasta e a culpa não é de ninguém - como lidar com isso?, esta será a pequena grande interrogação deste road movie adulto e sereno, franco no olhar, sem tentações dramatizantes ou vontade de forjar uma tragédia a partir da ideia de dois homens isolados na floresta. Não há contas a saldar ou motivos thrillescos, que agradariam até ao auditório pseudo-indie norte-americano da actualidade.
Só há isto: diálogos poucos; monólogos muitos, interiores e transbordantes, feitos de surdina e sons fundos que circulam pelos olhares, atravessam as pontas dos dedos e se esboroam perante a cadência inelutável da vida. Sorrow is nothing but worn out joy, diz a certa altura Kurt, o amigo triste, "sem futuro" (ou já sem tempo para ter "um passado"), que diz a Mark, entre lágrimas, que tudo está bem. É a humanidade sem filtros. Pequena e frágil.
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