quarta-feira, 15 de maio de 2013

Abram alas para o dossier 'Raoul Walsh, Herói Esquecido' (II)


Não vale a pena dizer que gosto muito deste texto, porque - suspeito que sou - gosto muito de todos os textos que vão sair neste dossier. Sobretudo aqueles que republicamos agora, pela primeira vez em português. Foi um prazer traduzir «Crise, Compulsão e Criação: o Cinema do Indivíduo de Raoul Walsh» e entrar em contacto com o seu autor, Dave Kehr. Aliás, mesmo que não fale ou leia português (ainda assim, foi um dos primeiros norte-americanos a pôr o cinema de Manoel de Oliveira no mapa), registei com satisfação a sua reacção ao nosso espaço: "your remarkable site. It isn't every day that you see pieces on Ray Enright!"

Abaixo transcrevo algumas passagens, com o intuito de incentivar o leitor à descoberta do texto completo.

(...)

Porventura parte do problema com Walsh é que o seu estilo e valores estão ligados de forma tão apertada com o género – acção-aventura – no qual ele trabalhou que é difícil dizer onde a forma sai fora e o realizador começa. Falar de um filme de guerra de Walsh é, de uma certa maneira, falar de todos os filmes de guerra, falar de um western de Walsh é falar de todos os westerns - no sentido em que o principal impulso temático dos seus filmes, o poder redentor da acção, é também o impulso temático dos seus géneros nos seus estados mais puros. (...)

Flynn era o trepador social, Cagney era o desordenador social – mas ambos agiram a partir da mesma compulsão interior, uma compulsão para criarem-se a si mesmos através das suas acções, para arrancar uma identidade do mundo. Em Walsh, os mitos americanos do sucesso e da mobilidade encontram uma ressonância profundamente psicológica e talvez existencial: ao produzirem-na, o herói de Walsh está a fazer-se a si mesmo. (...)

Os heróis dos filmes biográficos movem-se no tempo, ao passo que os dos “map movies” movem-se no espaço, mas ambos enfrentam o mesmo tipo de desafio – não um de punição ou purgação, mas de aprendizagem e provação. As personagens retiram algo dos seus confrontos: elas crescem em força e identidade. (...)

Mas a celebração da liberdade em Walsh só vai até aí: existe um lado negro também, um sentido de anarquia, e muitos dos seus melhores filmes têm a ver com a procura por uma linha – o ponto a partir do qual a liberdade vira caos, quando o impulso interior do herói se torna destrutivo, demencial. (...)

O plano favorito de Walsh é o plano americano, com os seus actores cortados entre a cintura e os joelhos. Através da composição os actores são tornados parte do espaço contínuo, a sua própria fixidez nele parece ténue. Eles raras vezes se plantam firmes, completamente nele; ao invés, eles habitam um primeiro plano indefinido, desconfortavelmente suspendido, instável, ante o mundo atrás deles. (...)

As personagens de Walsh movem-se com liberdade através do mundo, mas o mundo não se rende a elas: ele permanece um desafio constante, sólido e ligeiramente à parte. (...)


Leia tudo aqui.

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