(Para consultar a versão pública da Newsletter #22, clique na imagem.)
Uma edição especialmente rica, que sofreu ainda assim contratempos que nos foram alheios (atrasos nos CTT que prejudicaram a sua realização atempadamente), o número 22 da Newsletter do CINEdrio, dedicado ao cineasta norte-americano Don Siegel, foi possível graças, entre outros apoios, às editoras Lusomundo e Columbia University Press. Da colaboração resultaram os destaques feitos ao magnífico "O Gebo e a Sombra" e a "The Cinema of Béla Tarr: The Circle Closes" de András Bálint Kovács. Excepcionalmente, abrimos nesta amostra acesso ao arquivo onde estão, na íntegra, as 21 Newsletters anteriores.
Quero agradecer ainda ao Francisco Valente, não só por ter respondido ao nosso inquérito, mas por ter respondido como respondeu, isto é, indo muito além da mera citação de títulos "a adquirir", envolvendo, enfim, o leitor na descoberta das obras recomendadas. E eu, enquanto leitor, fiquei muito curioso com algumas das suas sugestões.
Em "The Lineup" (1958), Julian explica ao noviço no mundo da mafia e do tráfico de droga quem é o homem mais conhecido por "The Dancer", assassino a soldo que anda de porta em porta a "recolher" droga escondida na bagagem de gente anónima, a proverbialmente denominada "innocent people". Não há nenhum soft side - nota de humanidade ou, dizendo de outro modo, "possibilidade de redenção" - por trás da ira incandescente de Eli Wallach, o actor que dá corpo mas sobretudo que dá olhos - e como faíscam ferozmente aqui! - a este brutal cobrador de vidas. O sue hábito é matar, a sua energia diabólica vem do ódio que sente por quem se lhe atravessa à frente, seja este inocente ou culpado, bom ou mau, amigo ou inimigo. "The Big H". Num comentário áudio delicioso, o escritor James Ellroy diz que esse teria sido, para si, o melhor título alternativo possível a dar a este "hell of a movie" de Don Siegel.
Julian: Dancer is an addict, an addict with a real big habit. Sandy McLain: 'H' like in heroin, uh? Julian: 'H' like in hate.
O dossier Walsh é, obviamente, o prato forte do mês passado à pala do dito. De qualquer modo, a actividade "normal" do site não parou. Prova disso, mesmo que associado ao nosso dossier, é o filme falado do mês: a obra-prima "Gentleman Jim" de... sim, Raoul Walsh. Apesar de ser uma conversa descontraída e espontânea, trata-se, quanto a mim, de um dos pedaços mais valiosos - e, por isso, integrantes - desta colecção de reflexões walshianas.
Dos meus textos pessoais, destaco a análise, ainda fresca, a "M" de Joseph Losey, que me deu muito mais trabalho que o texto que redigi - e que os leitores do CINEdrio bem conhecem - a propósito do maravilhoso "Before Midnight". O filme de Linklater marca um ponto alto do ano cinematográfico, mais um boy meets girl (depois de Brisseau e Hong Sang-soo) que eleva a qualidade média - muito baixa - de 2013. Ainda mais fresca é a minha crónica Civic TV, sobre Brisseau e um "ousado" ciclo de cinema do Correio da Manhã TV.
Colaborei ainda nos proverbiais artigos colectivos do contra-campo: sopa de planos sobre "a visão de Deus" e as actualidades do mês de Maio.
Queria destacar ainda a estreia de um novo colaborador (e revisor de serviço): Pedro Jordão, do belíssimo blogue The Heart is a Lonely Hunter. A sua primeira "ligação acidental" está já online e é assombrosa.
O mês de Junho terá edição partilhada entre mim e o João Lameira. Agora regressados à nossa actividade "normal", não deixaremos de prometer diversidade nos filmes escolhidos e qualidade nos olhares que neles se activam.
E com "As fúrias de viver" de Sabrina D. Marques conclui-se o dossier "Raoul Walsh, Herói Esquecido". Termina, aliás, com uma reflexão sobre a juventude que representa (mais) um marco na evolução do pensamento walshiano que aqui se tentou compilar. Fechamos o "objecto" dossier, mas abrimo-lo agora a uma leitura finalmente completa, acabada. Pegando por onde pegar, encontrará o resultado de uma dedicação 100% amadora (no sentido etimológico, profundo, da palavra) ao cinema - digo cinema porque Walsh é sinónimo de imagens em movimento, é sinónimo, aliás, de movimento posto em imagens, coisa ainda mais poderosa! Movimente-se então na descoberta deste cineasta "absoluto" e "enciclopédico". Tudo está aqui, neste dossier, nesta empreitada que, a contra-corrente do país paralisado e paralisante, põe a acção em pensamento e o pensamento em acção.
Com uma longa carreira, que começa nos anos trinta e quarenta, trabalhando com nomes como Howard Hawks e sobretudo Raoul Walsh, Don Siegel absorveu destes a linearidade, a energia e a mesma economia dramatúrgica. Enquanto realizador, começou em séries B noirs, hoje relativamente obscuros (mas em progressiva "recuperação"), até que em 1956 realiza o seu grande "cult classic", "The Invasion of the Body Snatchers".
Nos anos que se seguem, dedica-se à televisão, colaborando para algumas séries de referência, como "The Twilight Zone", começando-se a especializar no decurso dos sixties no policial musculado ou no western urbano, nomeadamente ao lado daquele que viria a ser um dos seus pupilos mais bem sucedidos: Clint Eastwood. Siegel, mais até que Huston provavelmente, será a principal influência do Eastwood-realizador e é a ele, perto do ano da sua morte, que "o último dos clássicos" dedicará "Unforgiven". Por tudo isto, propomos um mês devotado ao seu cinema.
Para além disso, iremos destacar, no mercado home cinema, importantes lançamentos ou descobertas DVD e Blu-ray: de Manoel de Oliveira a Edward Ludwig, de Wellman a Brisseau, de Chabrol a Straub-Huillet, de Satyajit Ray a Bruce Lee, etc. e etc. Nos livros, posso antecipar destaques ou referências a Rancière, Chesterton, Douchet, Mourlet, Merleau-Ponty, Bresson, Biette, etc. e etc.
Publicaremos as respostas ao nosso inquérito de Francisco Valente, jornalista cultural do Público e livreiro da Babel Cinemateca.
Até já!
(Devido a atrasos nos CTT, a preparação e publicação Newsletter #22 sofreram um atraso inesperado. Apresentamos as nossas desculpas por isso.)