sexta-feira, 26 de setembro de 2008

À noite com o Discovery

Esta coisa de estudar até altas horas da noite tem disto: ligar a televisão a horas indecentes, à procura de alguma coisa sem ser TV Shop ou reposições de programas da tarde. Durante muito tempo, mantive uma atitude conservadora, cingindo-me aos canais de sempre: os generalistas, os informativos, a SIC Mulher e a SIC Radical. A descoberta do canal Discovery surgiu tarde. "Caçadores de Mitos", "Brainiac" e o maior dos guilty pleasures, a série "Pesca Radical", são exemplos de programas que considero ideais para quem quer esvaziar a cabeça durante uns minutos em frente à televisão. Pouco ou nada se preocupam em serem pedagógicos e a probabilidade de encontrarmos neles alguma coisa de minimamente útil para as nossas vidas é quase nula. O que até é bom.

Em "Caçadores de Mitos", dois especialistas em efeitos especiais põem à prova os mitos mais irrisórios. A título de exemplo, será que: um ninja consegue mesmo defender-se com as mãos de sucessivos ataques de espadas ou um elefante tem mesmo medo de ratos ou o acto de soprar numa bolacha depois de esta ter caído ao chão faz alguma diferença? Há três respostas possíveis: "Busted", "Plausible" e "Confirmed". O resultado nem sempre é o mais óbvio - e se eu disser que os elefantes têm mesmo medo de ratos?

"Brainiac" é um programa de ciência anti-pedagógico e, em certo sentido, os minutos mais divertidamente terroristas num canal tido globalmente como "chato" ou "desinteressante" (muito lixo sobre carros, não é?). Do cardápio fazem parte coisas tão extraordinárias como: mandar roulotes pelos ares e fazer experiências tresloucadas para saber, por exemplo, qual o fruto mais difícil de descascar ou até que ponto comer muitos bombons com álcool embriaga. Existe um conjunto de rubricas que se repete a cada novo episódio, sendo que numa das suas mais interessantes temos a oportunidade de ver "coisas, mas muito lentamente". É qualquer coisa não muito distante da cena da explosão de "Zabriskie Point" de Michelangelo Antonioni, mas aplicada a coisas corriqueiras como fazer bolhas num copo com água ou levar uma chapada (ver abaixo). Numa palavra, se os Monty Python fizessem ciência, por certo gostariam de trabalhar neste laboratório.

"Pesca Radical" é um programa que só cabe num canal temático de ciência (?!?!?!) como o Discovery: dentro dele, e às tantas da noite, é um relaxante reality show onde praticamente nada acontece, sem ser homens de barba rija a esvaziar armadilhas com bacalhaus e caranguejos, em pleno Mar do Norte; fora dele, não me teria como espectador, porquê? Porque se calhar o Discovery é mesmo feito para os espectadores que estão fartos das reprises do "Portugal no Coração" na RTP1, das telenovelas brasileiras na SIC ou do "Levanta-te e Ri" na SIC Radical e já ganharam coragem para se aventurar, noite dentro, pelo desconhecido, sabendo como estimar cada uma das suas insignificantes conquistas. Ou pelo menos é isso que eu gosto de imaginar.

Indescritível sequência final do filme "Zabriskie Point" (1970) de Michelangelo Antonioni

Compilação da rubrica "things but very slowly" do programa "Brainiac"

4 comentários:

Lord disse...

RTP Memória. Tenho dito.

Luís Mendonça disse...

Vou pensar nisso... Ou melhor, já tentei, mas só dava "Os Principais", aquela espécie de mini (muito mini mesmo) chuva de estrelas apresentado pelo Humberto Bernardo, um dos maiores has been da TV nacional. Enfim, também via aquele talk show com o Nuno Rogeiro e a Paula Moura Pinheiro, mediado por uma... boneca virtual mamalhuda. Memorável ver o notável comentador de política internacional da SIC Notícias e a actual apresentadora do programa de alta cultura "Câmara Clara" a disputarem tempos de antena com uma boneca insuflável virtual.

Abraços

Lord disse...

De entre o vasto espólio, gostaria de destacar o programa "Coleccionando", aquele mesmo com que os gato fedorento nos brindaram na sua arca dos tesourinhos deprimentes. Garanto que aquilo que foi para o ar do talk show humorístico nem sequer foi a mais fina flor do dito programa...

Entre as preciosidades, destacaria também os jogos sem fronteiras (volta Eládio, estás perdoado!), o bombordo (especialmente os programas dedicados às formigas), jogos de andebol / basquetebol (Benfica com Carlos Lisboa e Jean Jacques...) / hóquei em patins / voleibol da década de 80 e 90, os programas de culinária da década de 90, o parabéns e o herman 98 /99 (skeatches priceless que ainda não existem no youtube), nós os ricos e nico dobra (acho que não se escrevia assim mas enfim), o heranças d'ouro (especialmente quando o convidado é um obscuro realizador de televisão da década de 50), o programa de viagens da adelaide de sousa, o top+ do ínicio dos inicios (quem foi o primeiro apresentador da coisa? aquele que aparecia SEMPRE com um casaco de cabedal?). Sei lá tanta coisa. E ainda faltam tantas e tantas e tantas.

Quem disse um dia que eu era viciado em telelixo tinha razão.

Luís Mendonça disse...

Ehehehheehhe... POIS TINHA! Falta o "Eu Show Nico" ou aquele em que o Nicolau Breyner aparece todo suado, e obeso que nem um porco, a entrevistar celebridades...

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