sexta-feira, 15 de maio de 2009

A pré-visão de Marker: a imobilidade fetichista na era do digital

Chris Marker, "La jetée"

The slowing down and the stilling process opens up new areas of fascination, especially with the human figure. Certain privileged moments can become fetischized moments for endless and obsessive repetition, while looks or gestures can suddenly acquire a further dimension of fascination once freed from their subordination to narrative.

Laura Mulvey, «Stillness in the Moving Image: Ways of Visualizing Time and Its Passing», in Cinematic

The pause and rewind buttons along with online viewing have made analysts of us all to some extent.

David Company, Photography and Cinema

Etc.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Cannes 2009: a Palma que falta dar e as outras (V - fim de votação)

O Festival de Cannes já começou e, por isso, fechamos as urnas da nossa sondagem sobre a mais acertada Palma de Ouro dos últimos 8 anos. Apesar de alguma divisão inicial e um certo tête-à-tête final entre o filme de Van Sant e o de Polanski, a maioria acabou por premiar de novo a obra-prima "Elephant", que obteve mais dois votos que "O Pianista" (35% contra 27%). "A Turma", a Palma do ano passado, ainda beneficia do hype que gerou na crítica e no público. O seu brilhantismo permanece bem fresco na mente de, pelo menos, três dos votantes (12%). O mesmo parece acontecer com a pungente obra de Cristian Mungiu, que também recebe três votos (12%).



Nanni
Moretti e o drama familiar "O Quarto do Filho" recebem dois votos, deixando para os últimos lugares "Brisa de Mudança" de Ken Loach, "A Criança" dos irmãos Dardenne e, com zero votos, "Farenheit 9/11". Curiosamente ou não, é nestes filmes que encontramos alguma ponte com a actualidade: Ken Loach está de novo na competição pela Palma com "Looking for Eric", protagonizado pelo jogador de futebol Eric Cantona, e Tarantino ("Inglorious Basterds"), que presidiu ao júri que atribuiu a Palma a Michael Moore por "Farenheit 9/11", é o único americano na competição oficial.

Não tendo mais nada a acrescentar, resta-nos agradecer aos 26 visitantes do CINEdrio que votaram nesta pequena sondagem.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

It's a Free World... (2007) de Ken Loach

O senhor Ken Loach fez um grande filme, um dos retratos mais crus, anti-moralistas da realidade social britânica, leia-se, europeia, mas nenhuma distribuidora se dignou a distribui-lo nas salas nacionais. "It's a Free World..." é mais um caso inexplicável de direct-to-DVD cinema aqui no nosso país. Não há obra mais pertinente que esta: um pedaço vivo da realidade da imigração ilegal, da questão do desemprego, da desintegração das famílias, todo o círculo vicioso que aflige as sociedades modernas está aqui contido e filmado sem juízos ou um pingo de sentimentalismo, sem leituras abusivas, retórica política ou super-heróis salvíficos ou sacrificiais. A protagonista aqui é como um protagonista de um filme de Laurent Cantet, que com "Entre les murs" se transformou num insólito sucesso de bilheteiras - estejam atentas, senhoras distribuidoras, que o realismo de forte cariz sociológico nunca chamou tanta gente às salas.

Ken Loach está aqui dez mil vezes mais depurado que o Mike Leigh de "Happy-Go-Lucky", filme totalmente inútil, quase patético, ao pé deste verdadeiro soco no estômago, de muito fina e cortante ironia - compare-se a primeira imagem do filme, quando a protagonista ainda "segue as regras" e está perfeitamente assimilada pelo establishement, com a imagem final, em que a sua aventura pelo mercado paralelo de recrutamento de trabalhadores atinge um ponto de saturação para nós e, imaginamos, para ela (os seus olhos cansados, face deformada e cabelo desgrenhado não mentem). O que se filma aqui é alguém que queria vencer na vida pelos seus próprios meios, mas acabou pior do que começou.

O final é de impasse: não há saída para aquela pessoa, que, como nós, é produto de uma educação desfasada - de outro tempo... como ela bem explica ao seu pai, também ele algo contraditório nos seus princípios - e, acima de tudo, de uma sociedade e de um mercado à beira da implosão. É através do "testemunho" de Angie, a protagonista de que falamos e que é interpretada brilhantemente pela bela Kierston Wareing, que todo este monstro se eleva e nos esmaga. "Há algo de profundamente errado na forma como estruturamos as nossas sociedades", pensamos isto e depois perguntamos "o que fazer, então?" - deste filme emana uma força que nos (quer) leva(r) a agir.

"It's a Free World..." é um filme para a crise, para um Portugal, leia-se, uma Europa, em tempo de eleições, em tempo de auto-reflexão e auto-avaliação. Pena que certas distribuidoras (Zon Lusomundo, em primeiro lugar) não pensem assim... (Estreou-se internacionalmente em 2007, mas "It's a Free World..." será um dos grandes filmes deste ano de cinema em Portugal.)

Ler mais aqui: IMDB.

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