domingo, 16 de novembro de 2014

A carne não se encena*

"Before the Devil Knows You're Dead" (2007) de Sidney Lumet

"Welcome to New York" (2014) de Abel Ferrara

[Acho que desde a cena de sexo entre Philip Seymour Hoffman e Marisa Tomei que abre "Before the Devil Knows You're Dead" que não sentia desta forma não só a carnalidade do corpo como, na realidade bem mais que isso, o corpo maciço de um (grande) actor como aparição performática."Welcome to New York", melhor filme que vi neste LEFFest (sendo um dos piores o outro Ferrara mostrado, "Pasolini", e assim se resume, de facto, o "risco de ser Ferrara"), é uma parábola sobre o poder e o dinheiro (ou "a verdade" do poder e do dinheiro). Todavia, o grande happening aqui é o próprio Depardieu, a sua respiração ofegante, o ritmo no despir e no vestir ou, em plano geral, a forma bulbosa e grosseira do seu corpo. *O Carlos Natálio disse tudo: a carne não se encena - é este o verdadeiro tagline deste filme de Ferrara. No filme, também é quase comovente esse gesto de renúncia ao poder em benefício de uma incorrigível natureza viciosa. Como diz o próprio Depardieu no prelúdio, a política é uma coisa odiosa, mas ele fala da política dos políticos. A política do corpo, essa, é a redenção possível para si enquanto actor e, talvez o momento em que a personagem coincide com o actor na perfeição, para Dominique Strauss-Kahn enquanto viciado em sexo que, afinal, não quer ser "o próximo Presidente de França".]

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XXIV)


O meu destaque maior foi a entrevista que fiz a Jennifer Kent, autora do maior filme do terror do ano até agora: "The Babadook". Voltei a dedicar a minha crónica Civic TV à programação dos canais TVCine, fechando assim uma parceria com o canal. O meu elogiou maior foi para a exibição do magnífico "Wings" de William A. Wellman. Na Sopa de Planos sobre fumo, entrei com um ingrediente  de Ralph Steiner e Willard Van Dyke.

Assinei um Estado da Arte em memória de Marilyn Burns, a inesquecível protagonista de "Texas Chainsaw Massacre" de Tobe Hooper.

Da minha cobertura no DocLisboa 2014 à retrospectiva do documentarista Johan van der Keuken, resultou este texto. O seu interesse maior está no pequeno apanhado de ideias que fiz da mesa redonda que se realizou em torno do cineasta holandês, na Culturgest, e que contou com as presenças, entre outros, da sua viúva Nosh van der Lely e de José Manuel Costa.

No próximo mês, esperamos trazer novidades, entre elas, uma entrevista que realizei a Gabe Klinger, a propósito do seu "Double Play: James Benning and Richard Linklater".

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XXIII)


Muita coisa a destacar, mas a primeira coisa que gostaria de (re)publicar aqui é o mais recente Estado da Arte que assinei e que me deu mais trabalho que alguns artigos escritos para o À pala de Walsh. O que procuro promover aqui, para além do óbvio paralelismo entre a linguagem dos videojogos e a dos filmes, é uma pequena homenagem aos jogos que povoaram a minha infância e princípio de adolescência. Outro Estado da Arte que assinei dá as voltas ao desafio do Ice Bucket Challenge, a moda mais silly da silly season.

Mais substancial serão as duas últimas Conversas à Pala que organizámos e publicámos no site. A nona foi dedicada às novas cinefilias digitais, representadas pelos nossos convidados Paulo Soares, Ana Cabral Martins e Jorge Pereira, e foi moderada por mim e pelo Carlos Natálio. A décima teve como convidado Pedro Borges, distribuidor (Midas Filmes) e exibidor (Cinema Ideal).

Dos textos, destaco o último número da minha crónica sobre cinema na televisão, Civic TV. Nele, faço um pequeno raio-x à programação dos canais pagos de cinema TVCine, na sequência de uma parceria que estará ainda por trás da próxima crónica. (No mês de Julho, que não divulguei aqui, escrevi sobre o genial Richard Fleischer.) Outro texto que escrevi, este já em Agosto, materializa uma tentativa minha de homenagear a obra e o pensamento de Harun Farocki. Outro momento solene foi a publicação do texto, assinado pelos quatro fundadores do site, de indignação face aos constrangimentos que assolam a actividade programática da Cinemateca Portuguesa. (O mesmo assunto foi, aliás, objecto de discussão nas Conversas à Pala com Pedro Borges.) Já em Setembro cobri com o Ricardo Vieira Lisboa e o Carlos Natálio o festival de cinema de terror de Lisboa MOTELx 2014.

Participei ainda no Filme Falado sobre "Jersey Boys", o decepcionante mais recente filme de Clint Eastwood. E contribuí com o meu ingrediente para a Sopa de Planos que é, na realidade, uma "sopa da pedra" bem rija.

Aproveito estas linhas finais para deixar uma nota que muito me entusiasma. Em Setembro tivemos a oportunidade e a felicidade de lançar textos dos nossos preciosos novos reforços: Inês Lourenço, Francesco Giarrusso e Vasco Baptista Marques. Para seguirem melhor os seus textos, como os dos outros walshianos, como é claro, aproveite para partilhar e/ou subscrever, se ainda não o fez, a recentemente criada newsletter mensal do À pala de Walsh. A partir dela poderá receber no seu mail uma súmula mensal das actividades (críticas, entrevistas, eventos, passatempos, etc.) do À pala de Walsh (tenha este primeiro número como exemplo).

Em Outubro, serei eu o editor, com a expectativa de conseguir trazer umas quantas boas surpresas.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Match made in hell

"Leave Her to Heaven" (1945) de John M. Stahl

"Gone Girl" (2014) de David Fincher

[O filme mais politicamente incorrecto de Fincher, que, palpita-me, vai dar muito que falar (já ouço ao fundo: "misógino"! "Mau cristão"!), é mais uma superfície cinematográfica impecavelmente polida, meticulsamente construída… meticulosamente construída para destruir o santo matrimónio, como se este fosse um filme de terror cozinhado até explodir numa panela de pressão de aço inox e "de design". Um passo em frente neste percurso magistral em que Fincher assimila Fincher, redu-lo às tais superfícies lisas - as mesmas do subvalorizado "The Girl With the Dragon Tattoo"? Sim - que escondem manchas de sangue ainda mais perturbantes que as dos crimes de "Se7en" ou então "Gone Girl" é um hardware robusto com um software várias vezes mais monstruoso que "Social Network" (o network social é a pessoa que mais amamos…) ou um "Zodiac" em que "o mal" é mais pervasivo que o próprio Zodiac (e tem o rosto da pessoa que mais amamos…). Enfim, o filme mais incontornável do ano até agora. Mais uma coisa para aguçar apetites: a apoteose deste filme é uma montagem arrepiante, música de Trent Reznor e fades rápidos penetrantes onde a tal superfície lisa, "branca", é pintada com jorros de sangue. O pós-"Psycho", em certo sentido.]

sábado, 20 de setembro de 2014

Rentrée com o Dossier Arkadin


Celebro a entrada num novo ano de trabalho com a mudança de conteúdos do meu site de divulgação académica Abîme para um espaço já só meu que baptizei de Dossier Arkadin. Como post "corta-fitas", resolvi publicar o filme que realizei em 2010, "Lugar/Vazio", que, deste modo, fica acessível a quem queira ver, comentar, partilhar ou simplesmente ignorar.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

domingo, 20 de julho de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XXII)



O À pala de Walsh fechou o dossier "Os Filhos de Bénard" no passado mês com um belíssimo texto (ficcional?) de João Lameira sobre Duarte de Almeida, actor muito chegado (mesmo, mesmo muito chegado) a João Bénard da Costa. Foi uma jornada de textos que provou, sob as mais diversas formas, que é possível olhar-se para trás com a frescura do que está por vir. Bandas desenhadas, colagens que deram origem a textos impossíveis, uma tradução multilíngue, uma aula (também ficcionada?), uma entrevista intemporal, textos que cobrem o amor desse programador de todos os tempos pelo cinema e ainda uma Conversa à Pala com Manuel S. Fonseca que aqui ponho em destaque.

Outro momento importante neste ano À pala de Walsh foi a fundação da rubrica Filmes Fetiche, poucos dias depois do segundo aniversário do site. Podem ler o brilhante texto de introdução da Sabrina D. Marques (curadora desta série) e ver os respectivos filmes aqui (eu contribuí modestamente com o "A Revolta dos Gansos").

A mais recente Sopa de Planos teve como ingredientes elevadores, onde gostava de destacar o excelente texto de João Palhares sobre "Sweet Exorcist" de Pedro Costa. A minha crónica Civic TV deste mês, a última antes das férias de Agosto, é sobre um dos maiores cineastas de todos tempos, que, contudo, permanece ainda numa estupidamente injusta "segunda divisão" da cinefilia: Richard Fleischer.

Por fim, quero destacar a cobertura que João Araújo fez ao último festival de Vila do Conde. Temos orgulho de não estarmos acantonados na capital e de podermos ir até onde o grande cinema passa.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XXI)


Foi um mês marcado por uma das melhores Conversas à Pala até hoje. O diálogo entre Rui Simões e Leonor Areal vai muito para lá das "histórias do cinema português", tocando em assuntos como os limites e desafios do chamado "cinema de intervenção" e os modelos de consumo da Sétima Arte, ontem como hoje. A Sabrina D. Marques estreia-se na moderação do evento, na companhia de Ricardo Vieira Lisboa, e o resultado deixa este operador de câmara (algo titubeante, devido ao novo cenário e a novos, mas ultrapassados!, constrangimentos técnicos) deveras orgulhoso. Veja e ouça aqui.

Para além disso, destaco o primeiro tomo da minha dissertação acerca do cinema de Steven Seagal, que tomou de assalto a minha crónica Civic TV. Assinei ainda duas imagens gif do Estado da Arte, que pode ver aqui e aqui. Deixei ainda a minha flor na nova Sopa de Planos, que pode ser provada aqui.

O mês, como vêem, foi sólido, mas com poucas surpresas. Estas reservam-se para já amanhã, com o lançamento do primeiro artigo do dossier "Os Filhos de Bénard". Deixamos entrever o espírito desta enorme empreitada cinéfila na colagem acima, da autoria de Dox.

sábado, 24 de maio de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XX)


O mês já vai avançado, mas não queria deixar de fazer o levantamento habitual de textos meus no À pala de Walsh e sobretudo alguns destaques de textos escritos por outros walshianos. O destaque individual e colectivo que quero fazer, antes de mais, é a muito especial cobertura que o núcleo duro do site mais o Ricardo Gross e a Mariana Castro fizeram ao festival IndieLisboa 2014 - pode consultá-la aqui. Pessoalmente, faço um balanço da minha experiência enquanto jurado do prémio de Distribuição TVCine aqui, exercendo ainda a minha indignação face aos acontecimentos que limitaram a liberdade dos programadores do festival e da Cinemateca de fazerem o seu trabalho.

A minha crónica Civic TV foi dedicado aos actores que dão o salto e experimentam a realização. Leia-a aqui. Das brincadeiras cinéfilas, desta vez, não participei na Sopa de Planos sobre chuva, para lá do habitual primeiro parágrafo introdutório. No entanto, fica aqui a referência. Nos Estados da Arte, apetece-me sobretudo destacar um da autoria de Ricardo Vieira Lisboa e no qual testemunhei as dificuldades enfrentadas para… pôr Passos Coelho no formato scope. O resultado é delicioso (como vêem acima).

As Conversas à Pala tiverem como convidado Carlos Conceição, realizador de um dos dois filmes portugueses presentes no festival de Cannes, "Boa Noite Cinderela" (o outro, "A Caça Revoluções", merece o meu elogio no balanço IndieLisboa 2014, com link indicado acima). Veja a conversa aqui.

Por fim, recomendo a leitura da entrevista que eu e o Carlos Natálio fizemos ao Professor de Harvard Tom Conley, em torno de um dos cineastas por si mais estudados: Raoul Walsh. Leia-a aqui.

Com Carlos Natálio como editor, teremos até ao final do mês o arranque do dossier dedicado a João Bénard da Costa. Esperemos estar à altura da sua memória.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

IndieLisboa 2014 no À pala de Walsh


A presença do À pala de Walsh no próximo IndieLisboa, que começa já na próxima semana, dia 24 de Abril, merece um post à parte por várias razões. A primeira prende-se com o prémio de distribuição TVCine que, pela primeira vez no festival, será entregue por bloggers de cinema: eu, o Francisco Valente e o Pedro Fernandes. A companhia é muito boa, mas a razão para esta convocatória ainda é melhor, já que a criação deste prémio significa um passo de gigante da blogosfera no sentido do seu reconhecimento como crítica de cinema adulta. O passo seguinte será criar um prémio geral de imprensa onde críticos do papel e do online se combinem indistintamente no júri. De qualquer maneira, queria congratular o IndieLisboa por esta iniciativa e partilhar com o resto da blogosfera esta nossa vitória. Hoje sou eu, o Francisco e o Pedro, mas no próximo ano serão outros bloggers.

A outra razão para este contentamento tem a ver com os moldes em que iremos cobrir esta edição do festival. Teremos uma cobertura escrita a várias mãos e produziremos ainda uma especialíssima cobertura fotográfica da autoria de Mariana Castro, que o leitor poderá acompanhar diariamente no Facebook do À pala de Walsh. Outros dois walshianos, Ricardo Vieira Lisboa (da organização do festival) e Carlos Natálio, irão apresentar algumas sessões in loco. Muitos motivos para seguirem o próximo Indie à pala de Walsh.

domingo, 6 de abril de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XIX)



Março foi um mês em que voltei ao velho assunto do cinema na RTP2. Primeiro, falei com João Garção Borges sobre o fim do seu "Onda Curta" - leia a entrevista aqui. Segundo, escrevi a minha crónica Civic TV sobre o novo Contrato de Concessão da RTP e a passagem de "Feral" na ausência desse programa histórico da televisão pública - leia-a aqui. Terceiro, os mesmos assuntos foram conversados com a actriz Joana de Verona e o meu colega walshiano João Lameira nas quintas Conversas à Pala - veja-as aqui ou clicando já aqui no vídeo acima.

Entrevistei ainda o responsável pelos Encontros Cinematográficos do Fundão, Carlos Fernandes. Nas rubricas habituais, colaborei com o meu sol, um "raio verde", para a hiper-solarenga Sopa de Planos. Os meus dois Estados da Arte procuraram produzir um novo olhar sobre as repetições de lances da bola e uma nova perspectiva sobre o embate José Rodrigues dos Santos versus José Sócrates.

Fora dos meus contributos, queria destacar, em primeiro lugar, o texto de Carlos Natálio sobre o muito interessante cineasta japonês Kiyoshi Kurosawa e, em segundo lugar, uma estreia de luxo: do outro lado do Atlântico, escreve-nos agora, numa crónica chamada Constelações Fílmicas, o crítico Luiz Soares Júnior. O seu primeiro objecto de reflexão foi o excelente "Lilith".

Este mês serei eu o editor. Teremos em Abril uma preciosa cobertura ao ciclo Mario Bava, que acontecerá no âmbito do próximo Festival do Cinema Italiano (iremos dar bilhetes na nossa página do Facebook), e daremos azo a uma maneira muito particular de celebrar o 25 de Abril.

domingo, 23 de março de 2014

sábado, 8 de março de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XVIII)


Foi um mês polarizado pelo encontro nocturno entre os quatro walshianos em torno da "fogueira das vaidades" dos Óscares (rebaptizados por nós, na imagem, "Óscardozos"), onde pizza e selfies deram mais que falar do que filmes e cinema. Desse encontro resultaram dois podcastas que publicámos aqui.

Para as Conversas à Pala convidámos José Fonseca e Costa e dessas conversas resultaram também dois vídeos que podem ver e ouvir aqui. No Estado da Arte, o Ricardo Vieira Lisboa cruzou, pela primeira vez na rubrica, cinema com cinema e desta redundância resultou um dos mais imprevistos casamentos que se poderiam imaginar - mas que já se anunciara aqui. O Razzie Shyamalan e Nicholas Ray. Pela minha parte, decidi sabotar as notícias ainda mais do que estas já se sabotam a si mesmas, na sua missão de fazer jornalismo sério.

Na minha crónica Civic TV, aproveitei a passagem de "The Thomas Crown Affair" no ciclo universitário que organizei e no canal Hollywood para antecipar os festejos de celebração da libertação de John McTiernan da prisão. A habitual Sopa de Planos foi feita, desta vez, debaixo de água.

Mais recentemente, publiquei a entrevista que fiz a Billy Woodberry. Por fim, queria destacar o texto que o Francisco Valente escreveu em homenagem à memória do grande Alain Resnais. Podem-no ler aqui.

Este mês, sob os comandos do Carlos Natálio, posso desde já antecipar a publicação de uma entrevista altamente relevante sobre o fim do histórico programa da RTP2, "Onda Curta". O entrevistado será o seu criador: João Garção Borges. Fique atento.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

The Sacrament com novo poster e já com trailer


Apesar de provocar experimentações interessantes sobre a linguagem do medium cinematográfico, o found footage é um género fechado sobre si mesmo, que parece promover mais repetição inconsequente do que avanços substantivos da sua própria gramática. Quando se anuncia mais um destes títulos filmados com câmara nervosa, explorando a aleatoriedade (simulada) das imagens e promovendo a indagação voyeur, de reality show, da matéria que tem à frente, não ficamos propriamente em pulgas. Apesar do meu guilty pleasure por filmes deste género, tenho de assumir a predominância de objectos inúteis neste domínio.

Posto isto, repetindo algo que já escrevi aqui, de momento "The Sacrament" activa-me algumas resistências. Pelo que vejo do seu trailer, este é um tímido found footage film ao pé de outro projecto com a mão de Ti West, "V/H/S". Não sei o que é pior: assumir o género ou escondê-lo como coisa embaraçosa, mas… narrativamente necessária. Para se infiltrar no core de uma seita religiosa, West torna as suas personagens repórteres de televisão. Há uma confusão aparente entre "o directo" do horror e ir directo ao horror. Como sabemos, até pelo que a televisão nos mostra, ou melhor, até pela forma como a televisão nos mostra diariamente o horror, o "directo" não é condição sine qua non de maior contacto com uma determinada verdade. Tenho receio, pelo que vejo do trailer de "The Sacrament", que West tenha caído neste raciocínio básico e algo preguiçoso de associar "reportagem", found footage e verdade como traduções imediatas e necessárias entre si.

Olhando para "The House of the Devil" e "The Innkeepers", fica claro que a filiação de West é clássica e assim deve permanecer. Esta é a principal fonte de desconfiança que me provoca o trailer de "The Sacrament". Fora isso, vemos, a subirem à superfície, todos os elementos - os melhores elementos - do seu cinema: esta ideia de invadir um espaço ou uma comunidade tomada por actividades ocultas, senão mesmo paranormais, cola perfeitamente com as obras anteriores do realizador. O destaque dado ao "mestre" desta congregação ou seita poderá aproximar West de uma espécie de versão horrífica, ou ainda mais horrífica, de "There Will Be Blood" e "The Master", dois filmes de Paul Th. Anderson onde a religião funciona como sistema vicioso  não de revelação mas de aniquilação dos espíritos. Esperemos que, por esta via, West prove ser "mestre do seu mundo" e não traia a minha crença no brilhantismo que lhe é inato.

Um certo olhar de cão triste e débil (quase punk)

"Journal d'un curé de campagne" (1951) de Robert Bresson

"Edward Scissorhands" (1990) de Tim Burton

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XVII)



Foi, fundamentalmente, um mês de alta criatividade. A rubrica Estado da Arte nasceu, com o intuito de pôr a dançar os movimentos das imagens (da TV, do Cinema, da Internet, etc.). Pus aqui em destaque dois dos meus pares favoritos, mas pode ir visitando as nossas criações - minhas e do Ricardo Vieira Lisboa - a partir daqui. A minha colaboração ao longo do mês resumiu-se ainda à habitual crónica Civic TV, cujo tema foi o cinema de Blake Edwards. Entrei nas terceiras Conversas à Pala, na presença do meu colega Carlos Natálio e do convidado Vasco Baptista Marques. O objecto da conversa foi o ano cinematográfico que passou e o que se projecta para o novo ano.

Escrevi com a Sabrina D. Marques um texto de homenagem a Miklós Jancsó. Em mês de importantes desaparecimentos - onde se contou ainda o do documentarista brasileiro Eduardo Coutinho, paz à sua alma -, deixei ainda umas palavras sobre uma das personagens mais marcantes de Philip Seymour Hoffman. O texto conta com participações de cada um dos membros do grupo fundador do À pala de Walsh.

A Sopa de Planos do mês teve como tema "sombras". Fui levado pela minha memória recente e escolhi "Elvis", o pouco visto biopic de John Carpenter. As minhas palavras podem ser lidas aqui.

Para o que resta de Fevereiro, mês editado por João Lameira, reservo a expectativa de conseguir publicar a entrevista que fiz ao excelente cineasta norte-americano Billy Woodberry, durante o programa de Harvard na Gulbenkian. Deixo ainda o convite a todos os leitores do CINEdrio: apareçam, dia 14 de Fevereiro (sexta-feira), às 19h30, livraria da Cinemateca (Babel), nas quartas Conversas à Pala, com João Lameira, Ricardo Vieira Lisboa e o convidado especialíssimo José Fonseca e Costa. O principal pretexto para este encontro é o lançamento recente no nosso mercado DVD de três dos filmes mais celebrados do veterano cineasta português: "Kilas, o Mau da Fita", "Sem Sombra de Pecado" e "Balada da Praia dos Cães". Imperdível.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

O eterno toque no leito da morte

Foto de Sentimental Journey, Winter Journey (1971-1991) de Nobuyoshi Araki

"Le passé" (2013) de Asghar Farhadi

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

domingo, 19 de janeiro de 2014

Duche cortante

"Psycho" (1960) de Alfred Hitchcock

"Days of Wine and Roses" (1962) de Blake Edwards

[Não é o único paralelismo inusitado que podemos encontrar entre estes dois títulos. Por exemplo, é interessante como a obsessão de Kirsten (Lee Remick) por chocolates no filme de Edwards é usada como pista para o alcoolismo que desenvolverá na companhia de Joe Clay, seu marido (Jack Lemmon). Também Norman Bates joga nervosa e insistentemente bombons para a boca, dando a ler - se não a Marion Crane, pelo menos ao espectador - a sua inclinação obsessiva, viciante ou viciosa. A imagem que se segue ao "duche cortante" de Kirsten é a de Joe com um colete de forças, enlouquecido pelo alcoolismo. Uma imagem de alienação que não é estranha à situação final de Norman Bates no clássico de Hitchcock, um filme quase nos antípodas deste pungente melodrama de pulsão realista - e, contudo, tangente a este nalguns pontos.] 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XVI)


Para lá do que já destaquei em matéria de entrevistas na última ligação à pala de Walsh, venho retransmitir-vos os conteúdos que mais trabalho me deram neste último mês de 2013. O primeiro, curiosamente, não me inclui (na imagem), mas ocupou-me durante um ou dois dias no processo de montagem. As segundas Conversas à Pala, moderadas pelo João Lameira e pelo Carlos Natálio, contam com uma interessante entrevista à cineasta Salomé Lamas, a propósito do seu "Terra de Ninguém".

Outro contributo meu, mas desta vez mais visível, foi dado no debate de lançamento da caixa de DVDs "The Story of Film: An Odyssey" de Mark Cousins. O João Lameira aproveitou esse debate para escrever a sua última crónica "Em Série", deixando lá link para que os nossos leitores possam ouvir o debate que se desenrolou entre mim, ele e os convidados especiais João Mário Grilo e Maria João Madeira.

Na minha crónica "Civic TV", despedi-me do canal TCM, um desaparecimento que me enluta. Recordo que 2013 também foi o ano em que a RTP2 voltou a suspender o "5 Noites, 5 Filmes", deixando de passar cinema numa base minimamente regular.

O prato forte de Dezembro terá sido o post com os Tops do ano de todos os redactores do À pala de Walsh que quiseram responder ao nosso desafio de fazer um balanço do que de melhor passou pelas nossas salas.

Escrevi ainda uma crítica Em Sala a um excelente filme que poderá estar a passar ao lado da maioria dos portugueses: "O Som ao Redor" de Kleber Mendonça Filho. Menos excelente foi o Filme Falado do mês.

A fechar o ano, pus a minha colherada numa Sopa de Planos feita de paisagens e fechei, com o Ricardo Vieira Lisboa, a rubrica Actualidades, que termina assim um ano a reprojectar a agenda noticiosa através das imagens dadas do cinema.

Em Janeiro, mês editado pelo Ricardo Vieira Lisboa, teremos como destaque máximo as Conversas à Pala #3, onde eu, o Carlos Natálio e o nosso convidado Vasco Baptista Marques iremos falar do ano cinematográfico que passou. Apareçam!

Bom 2014 a todos e desejos de mais e melhores filmes!

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