terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Programação de cinema na RTP2 (XL): acção, finalmente

DOIS MIL SETECENTOS E SETENTA E CINCO

Acção. Foi isso que sempre esperei, nesta fase, da Assembleia da República, dos nossos representantes nas mais altas esferas do poder: acção. Não vejo utilidade num órgão representativo que não representa nada sem ser interesses pequenos dos aparelhismos partidários ou preconceitos "estabelecidos" - e, por vezes, como é o caso, ilegais.

Com a deputada Catarina Martins do Bloco de Esquerda, tivemos um diálogo virado para soluções concretas. E foi com promessas muito nítidas de acção que abandonámos a casa da Democracia, a casa que nos representa, isto é, que deve representar todos aqueles que se batem pelo interesse público e cumprimento da Lei. No mínimo.

Resultaram, então, duas propostas concretas para pressionar a actual direcção da RTP2 a ouvir as reclamações de cerca de 3000 telespectadores (ou potenciais seus telespectadores): por um lado, requerer à actual direcção de programas informações sobre o cumprimento do número 13, alínea D da cláusula 10.ª do Contrato de Concessão de Serviço Público e, por outro lado, pedir à ERC as auditorias que terá realizado - como a lei a obriga - à programação e gestão da RTP2.

Até lá, procuraremos reunir as 4001 assinaturas, para levarmos esta causa da sociedade civil a debate Plenário. Garantido está, esclareceu-nos a deputada, o debate em Comissão, visto que já temos bem mais de 1000 assinantes.

Continuem a fazer crescer este movimento e fiquem atentos a mais novidades, para breve. Até lá, importa sublinhar o comentário que Pedro Costa faz a "Diary of a Country Priest", no site da editora Criterion Collection:

I first saw it on TV, one Easter Sunday. I was nine or ten, sick in bed. It made my convalescence so much sweeter (just like the old Lubitsch touch). I also remember Chronique d’Anna Magdalena Bach by Huillet and Straub being aired on a Christmas Day! If you’re this lucky, you’re hooked for life (imagine watching these films on TV nowadays).

(o sublinhado a bold é meu)

Para bom entendedor...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Programação de cinema na RTP2 (XXXVIII): o resultado de hoje é que "não há resultado"

DOIS MIL SETECENTOS E DEZ


Fomos à Assembleia e bem recebidos pela deputada Inês de Medeiros, pessoa afável e admirável - para mim, sempre foi... - que, mais no início do que agora, parece estar relativamente envolvida nesta nossa causa (recordo que é uma das nossas assinantes).

Contudo, o resultado foi zero. Ou melhor, um zero que resultou nisto: uma palmadinha nas costas em quem reuniu 2710 assinaturas, de cidadãos exemplares, que, para além de assinarem, participaram com ideias e indignação, todas elas compiladas no documento que debatemos hoje (e que publico aqui, abaixo).

Uma palmadinha nas costas em pessoas como José Mattoso (o historiador), Rui Cádima (o teórico da TV), João Mário Grilo (o teórico do cinema) ou o saudoso Carlos Pinto Coelho (o homem do jornalismo cultural), entre outros grandes nomes, é, a meu ver, no mínimo, lamentável. Mas, pelos vistos, defender o interesse público é mau, quando pode "parecer mal". Por quê? Porque sim e porque não convém, que é chato.

Claro que tudo seria diferente para melhor, imaginem!, se tivessemos pedido a cabeça do senhor Wemans - uma espécie de linchamento na praça pública... - ou se tivéssemos 4000 assinaturas para a petição ir a Plenário - sendo que estas 2710 são mais do que suficientes para activar o ponto 2 da cláusula 35ª do Contrato de Concessão de Serviço Público (CCSP) - ou se esperássemos de braços cruzados até 2012, ano em que o CCSP será revisto, alegadamente, tendo em conta as nossas reivindicações - mas, já agora, qual é o mal do actual Contrato que a RTP2 desprezou e continua a desprezar olimpicamente e nas barbas do Estado?

Tudo seria diferente se não existíssemos, mas nada é particularmente diferente agora, só que, existindo, exasperamos a esgrimir argumentos em torno do óbvio. Como diz Jorge Campos sobre a nossa petição, "o óbvio dispensa comentário". Neste país, caro Professor, não, mesmo N-Ã-O. (Só neste blogue já lá vão 38 posts e tudo continua na mesma para os lados do segundo canal...)


Dossier Petição Cinema na RTP2 -

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Eu, morto (visão impossível/pré-visão profanadora)

"Vampyr" (1932) de Carl Th. Dreyer

"Self Portrait as Being Dead" (1987) de Duane Michals

Nada de muito novo, mas importa contextualizar: abro com este tópico uma rubrica (foto-síntese) dedicada a convocar num mesmo espaço as imagens do cinema e as imagens da fotografia, isto é, e por isso não é "muito novo", desapossar a fotografia e o cinema, tal como tradicionalmente entendidos, das suas imagens. Procurarei, aqui, entender a história do cinema como a história, lato sensu, das visões de "o fotográfico e o cinematográfico", que encontramos em obras de fotógrafos e cineastas, em dispositivos tipicamente fotográficos ou tipicamente cinematográficos. Ou não eram os Lumière também, e antes de tudo, fotógrafos?

Quando a realidade é ultrapassada pela ficção ou quando a ficção sacraliza (não nega) a realidade

Martin Scorsese, "Gangs of New York" (2002)

Quando, nessa manhã [11 de Setembro de 2001], assistimos em directo à descrição do atentado, todos vivemos a experiência da ultrapassagem da ficção pela realidade, a ponto de alguns filmes de Hollywood terem sido obrigados, a partir dessa experiência, a rever* os seus cenários.

Adriano Duarte Rodrigues, "Ficção e realidade" in Revista de Comunicação e Linguagens, Relógio D'Água, Dez. 2003, p. 33


* - rever significa "voltar a ver" ou, se preferirem, pensar de novo "mais atentamente".

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Regarding Harry (1991) de Mike Nichols


Este filme, que para muitos será um banalíssimo "caso da vida" para digerir domingo à noite, suscitou-me uma reflexão em torno daqueles que, durante os anos 70, 80 e 90, foram os principais operários do melodrama ou do "drama adulto" mainstream norte-americano. Mike Nichols, James L. Brooks e Rob Reiner - e, se calhar, ainda Robert Benton - são alguns dos nomes mais notáveis a nível de popularidade e, nalguns casos, consagração da crítica.

Muitos dos seus filmes parecem hoje datados - veja-se como Rosenbaum se mostra embaraçado, em post recente no seu blogue, com as 4 estrelas (pontuação máxima) que atribuiu a "As Good as it Gets" de L. Brooks. Datados, dizia, talvez por apostarem nas fórmulas clássicas antigas de Hollywood, variando entre a comédia light para toda a família ("Stand By Me" ou "When Harry Met Sally" de Rob Reiner) e o tearjerker pós-Sirk ("Tearms of Endearment" de L. Brooks). Vendo os filmes destes realizadores hoje, num tempo muito diferente, é curioso verifcar como todos eles preservam uma espécie de naivité tão anacrónica quanto desconcertante.

Todos estes filmes, mais ou menos comoventes, mais ou menos nostálgicos, revelam uma visão risonha da vida, uma inclinação para narrativas simples centradas em personagens de coração grande que, ao longo do filme, são testadas nas suas acções. Não há nada de verdadeiramente incómodo, não há statement político, só há emoções simples tratadas com maior ou menor profundidade. "Regarding Harry" é exemplo disso. Diria que podia ser descrito como um "Bigger Than Life" ao contrário - um pai de família insensível ganha "coração" depois de um incidente na sua vida, o oposto do que acontece no clássico de Nick Ray - ou um Capra hardcore - a co-habitação do espectador com a face menos "heartful" de Harry constitui uma percentagem ínfima do tempo total de filme.

Um cinema cómodo, sem "papelões" ou quaisquer ideias de cinema significativas, que manipula sempre no sentido de uma moral benigna. Está datado talvez porque não o encontramos tão facilmente hoje em dia, em tempos de ruído CGI, explosões e super-heróis ou muito bricolage pseudo-filosófico.

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