terça-feira, 14 de agosto de 2012

Filmes que (não) vou ver em sala (VII): Promises Written in Water

Contam-me que Gallo pegou fogo à única cópia disponível do filme (estilo Raquel Freire, mas à séria, estão a ver?). Escreve-se que não, nada disso: Gallo guarda a única cópia debaixo da sua cama sob apertadíssima vigilância pessoal. Dizem também que ele disse que este filme não será compreendido hoje e, portanto, irá guardá-lo para um público "por vir". Apesar de tudo, o seu filme recebeu algumas críticas entusiasmantes há já dois anos, no Festival de Veneza e de Toronto. Francisco Ferreira não hesitou em classificá-lo como uma das "obras-primas" do certame italiano (por outro lado, Jorge Mourinha, o verdadeiro rei da pequenada lusitana, à falta de uma banda sonora de Hans Zimmer ou de um argumento de Joss Whedon, fala de um "embuste") e Rui Pedro Tendinha (knock on wood...), que o viu na cidade canadiana, recorda uma "experiência sensorial fracturante".

Não há trailers e as imagens são quase nenhumas - a única que encontro e que circula na Internet é um still com o título do filme... Sabemos alguma coisa da história, mas o que é que isso interessa num filme de Gallo? Também se sabe que durará - se ainda durar... - 75 minutos, bem menos que o seu anterior e polémico filme. Com efeito, depois do magnífico "Brown Bunny", Vincent Gallo parece estar a jogar inteligentemente com os ritmos do mundo contemporâneo, onde tudo se sabe, onde tudo está acessível, onde tudo circula e é posto a circular "sem esforço". Ao mesmo tempo que joga com as nossas expectativas (puro teasing?) vai perpetuando o mito em torno de um filme que é como a pescada: antes de o ser já o era. Um filme perdido, quer dizer, um filme pedido depois de perdido?

O filme está feito, mas o seu público não. Ideia não tão inédita, mas nunca antes levada tão radical e pós-modernamente à letra. Philippe Garrel, por exemplo, já disse que faz filmes para um público futuro... Também já tivemos um actor-produtor a privar a humanidade de uma obra-prima do cinema mundial - falo de Jack Nicholson e de "The Passenger" de Michelangelo Antonioni, filme que esteve durante décadas cativo na colecção particular do excêntrico actor norte-americano, sem que o mundo lhe deitasse olho, mas quanto mundo não foi fantasiando com ele? Muito bem: Gallo antecipa tudo e todos e monta um mito "antes" sequer do filme estrear - se estrear... Claro que o facto do tragicamente desaparecido Sage Stallone fazer parte do elenco também ajudará e muito ao mythmaking.

... de Vincent Gallo

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