sexta-feira, 30 de julho de 2010

Safdie vs. Cassavetes (XIV): barbear


Irmãos Safdie estão para


como Cassavetes está para

Um sonho meu de infância espelhado no grande ecrã: entrar nele, precisamente

"Sherlock Jr." (1924) de Buster Keaton

"Last Action Hero" (1993) de John McTiernan

Queria sugar a medula da vida...

Sean Penn, "Into the Wild" (2007)

Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender o qe ela tinha a ensinar-me, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido. Não desejava viver o que não era vida, sendo a vida tão maravilhosa, nem desejava praticar a resignação, a menos que fosse de todo necessária. Queria viver em profundidade e sugar a medula da vida (...).

Henry David Thoreau, in Walden ou a vida nos bosques (1854), Antígona, p. 108

quinta-feira, 29 de julho de 2010

The Hangman (1959) de Michael Curtiz


Muito subvalorizado western de Michael Curtiz que, com ironia, desenrola um intrincado novelo feito de mentiras ou, como sagazmente apontam os seus avanços e recuos narrativos, "não-verdades". Há, por isso, uma componente ensaística nesta obra com título de filme (de terror) violento onde não há uma única morte e os poucos tiros que são disparados saem todos por cima, propositadamente ou não.

Em "The Hangman", estamos por isso sujeitos a um exercício sobre as aparências, protagonizado por um homem que não acredita nelas - e desconfia de toda a gente - e outro que acredita - e, por isso, confia em toda a gente.

No meio, claro, está a bela Tina Louise, uma jovem cujo carácter vai ser posta à prova em face destes dois homens e mais um: um criminoso à solta que, vamos vendo, não é propriamente o típico vilão de um western. Na realidade, a certa altura, este parece menos vilão que o xerife (o primeiro homem, interpretado magnificamente por Robert Taylor).

E Tina Louise, que se parece "prostituir" no início, acaba por se revelar íntegra por... ter mentido! A mentira pode conduzir à verdade com a mesma facilidade com que a desconfiança é isso mesmo: uma palavra ("confiança") desfeita pelo seu prefixo ("des"), qual sanguessuga que não larga a sua vítima; qual casal ligado por umas algemas cuja chave é, enfim, o amor. Obra-prima deliciosa.

O filme do ano (VII)


O alinhamento da competição do próximo Festival de Veneza já foi divulgado e não há, ao contrário dos boatos, Malick, não há Eastwood e não há, meus caros leitores, John Carpenter. Por isso, como diz CR9, vamos ter de guardar "o fogo" para outra altura.

De qualquer maneira, encontramos alguns nomes sonantes em competição, onde destaco (por ordem de preferência) os últimos de Abdel Kechiche, Kelly Reichardt, Sofia Coppola e Vincent Gallo (ai ai ai, ele está de volta...).

Ficarei atento também ao trajecto dos últimos filmes do vietnamita Anh Hung Tran e do chileno Pablo Larraín. (Sim, não incluo "Black Swan" de Aranofsky, porque acho que "The Wrestler" foi a excepção numa carreira, até ver, medíocre.) Os portugueses João Nicolau e Manoel de Oliveira estarão em secções paralelas do festival.

Momento Feio


Sei que esta introdução foi feita a pedido do "realizador" Fernando Fragata. E basta isto para percebermos o nível (ético e intelectual) deste senhor, que seguramente irá até ao fim do mundo para se tornar no "Steven Spielberg português". Este dispositivo de pôr António Feio a introduzir o trailer da sua última produção é uma exploração quase pornográfica das emoções: qualquer coisa entre um daqueles momentos evangelizantes de um canal de TV religioso e aquelas "histórias de vida" lacrimejantes que intervalam os episódios das novelas brasileiras.

É triste a forma como Fragata faz uso da situação - conhecida de todos - de António Feio para vender mais bilhetes e gerar lucros para o seu próximo blockbuster de vão de escada. Veja-se, em plano frontal, o rosto de um actor cuja fragilidade emocional e física é usada como primeiro "efeito especial" espectacular de um trailer!

Cá está um filme que não tenciono ver e, devo dizer, tenho pena que haja tanta gente que se deixa iludir por estes truques abjectos, dignos da mais bárbara forma de marketing.

Actualização: Acabo de ler a notícia chocante da morte do actor António Feio. Quero sublinhar que escrevi este post antes do sucedido e que lamento muito a morte de um homem talentoso e bom da nossa cultura.

Safdie vs. Cassavetes (XIII): chocolates

Irmãos Sadfie estão para


como Cassavetes está para

Glengarry Glen Ross (1992) de James Foley

Tem contornos de crime o que se passou aqui: só aos 24 anos me chega aos olhos um dos filmes melhor escritos e interpretados dos anos 90. Não há palavras e suspeito da existência de uma conspiração internacional, que deverá envolver o actual Primeiro-Ministro, empenhada na ocultação desta obra-prima na minha vida... até hoje.

É o mais genial pedaço de escrita de Mamet e, curiosamente, quem realizou este seu argumento baseado numa peça de teatro da sua autoria foi Foley. É difícil descrever o fulgor criativo e infindáveis subtilezas deste "filme de palco" com alguns dos maiores actores do cinema norte-americano.

Também me faltam adjectivos, neste momento, para qualificar a interpretação de Lemmon como de Pacino. E fico-me por aqui, porque tenho de levar este caso a tribunal.

América e as suas palavras de ordem: sell, sell, sell/buy, buy, buy

"Salesman" (1968) de Al & David Maysles

"Glengarry Glen Ross" (1992) de James Foley

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Safdie vs. Cassavetes (XII): consolas

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como Cassavetes está para


(Por favor, avisem-me quando chegar à Essência.)

Programação de cinema na RTP2 (XII): uma medalha vermelha pela (falta de) coragem


Obrigado RTP2 por teres passado "The Red Badge of Courage". Sei reconhecer o mérito desta escolha e valorizar, de novo em termos puramente cinematográficos, o double bill recente dedicado ao grande John Huston. É um dos meus realizadores favoritos (como está patente no cabeçalho deste blogue) e os dois filmes mostrados não são, longe disso, as escolhas mais óbvias dentro da filmografia do realizador. Agora, não vejam no que digo qualquer acto de contrição.

As críticas que tenho dirigido à RTP2 não se prendem com a qualidade dos filmes que esta mostra em sessão dupla aos sábados, mas, repito, com a forma como esta (não) os enquadra e liga entre si. Muito bem, para mim, que conheço razoavelmente bem a obra de Huston, não me é estranho o (aparente) eclectismo de este ter na sua filmografia um filme de guerra tão brilhante como "The Red Badge of Courage" (1951) e depois, nos anos 70, fazer um arrojado filme político, de título "The MacKintosh Man".

O problema é que, para o espectador-médio, Huston é só um nome no genérico, que lhe dirá pouco antes e não dirá muito mais depois desta sessão. Por outro lado, pergunto-me se não seria pertinente enquadrar histórica e esteticamente o período que separa um filme de 51 cujo tema é, stricto sensu, a guerra civil norte-americana de um thriller político - muito em consonância com o espírito do chamado cinema liberal norte-americano dos anos 70 - realizado vinte anos mais tarde, não nos Estados Unidos mas na Grã-Bretanha e Malta - ai, o "exotismo" dos pós-clássicos!

Eu, que vejo tanto cinema na televisão como comprado e sacado - e compro muito -, agradeço estes excelentes momentos de cinema, atomizados e saídos a conta-gotas, que a RTP2 lá nos vai proporcionando. Contudo, agora que "5 para a Meia-Noite" merece dose dupla quase todos os dias da semana, eu pergunto: não acham que podia haver uma melhor programação de cinema no canal 2? Melhor: não teremos nós, o seu público, o seu meio de subsistência, direito a mais do que esta prática de enxotar filmes para o sábado, como quem atira lixo para debaixo do tapete? Vou ser franco: eu sinto que ando a comer migalhas num prato que poderia estar farto de boa comida e manter, sem dificuldade, uma boa apresentação.

Obrigado RTP2 pelos Hustons, mas eu quero mais Hustons e quero que nos ajudem - a mim, que já conheço algumas obras-primas do realizador, e ao espectador que não conhece nenhumas - a apreciá-los em toda a profundidade.


Peço a todos para votarem na sondagem colocada na coluna à direita. Também gostava de ouvir/ler as vossas opiniões sobre este assunto, sobretudo daqueles que não concordam comigo e acham que a programação de cinema da RTP2 é muito boa, boa ou suficiente.

Se concordarem, podem-se envolver previamente na iniciativa enviando as vossas informações pessoais para peticaortp2@hotmail.com.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O filme do ano (VI)


A menos de dois meses da estreia do último filme de Carpenter nos EUA - espero notícias de Veneza, para muito breve -, é tornado público o link para aquele que será o site oficial de "The Ward". Ainda em construção (na visita que acabo de fazer constato que acabam de alterar alguns ícones), podemos encontrar nele um punhado de vídeos de rodagem, uma sinopse completa, mas sobretudo um espaço para onde convergem as mais frescas notícias sobre este filme.

Em matéria de imagens, pouco tem saído cá para fora, salvo a algo duvidosa montagem que acima publico - nestas coisas, a especulação nunca fez mal a ninguém, por mais imprecisa que seja... A ansiedade está em cima por estes lados.

Safdie vs. Cassavetes (XI): tabaco

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Os trailers mais geniais (= filmes mais geniais?)


a. Trailer de "Le mépris" (1963) de Jean-Luc Godard


b. (O já
aqui citado) trailer de "Femme Fatale" (2002) de Brian De Palma


c. Trailer de "Dogville" (2003) de Lars von Trier

Qual a sua escolha?

(Outros momentos aqui - vote!)

Numa batalha vão-se os anos de juventude*

"The Big Parade" (1925) de King Vidor

"The Red Badge of Courage" (1951) de John Huston

*- stricto e lato sensu.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Safdie vs. Cassavetes (VIII): canetas


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O filme do ano (V)


Algumas notícias apontam "The Ward" como provável filme de abertura do próximo Festival de Veneza, que acontece entre os dias 1 e 11 de Setembro. A minha pergunta é: por que não incluir o filme de Carpenter na competição, para que finalmente um festival de cinema lhe faça a devida homenagem? Memorável seria vê-lo com o ouro, seja em Veneza, Berlim ou Cannes. Memorável e mais do que merecido. E acho que, apesar da sua pose punk who gives a damn, Carpenter iria apreciar grandemente a coroação.

(Um obrigado ao meu amigo Francesco pela dica.)

Ups... (actualizado hoje, dia 23 de Julho)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

Lições de mise en scène (profundidade de campo)

"Best Years of Our Lives" (1946) de William Wyler

"Fantastic Mr. Fox" (2009) de Wes Anderson

Safdie vs. Cassavetes (VI): sobremesas


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(Obrigado à Sara Campino por me ter transmitido os seus vastos conhecimentos em matéria de sobremesas alcoolizadas.)

Safdie vs. Cassavetes (V): livros


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Go Get Some Rosemary (2010) de Ben & Josh Safdie


Lembrei-me da Nova Iorque de Woody Allen e dos ciclones domésticos que minavam o seu cinema, logo à cabeça, o da lagosta insubordinada de "Annie Hall". Lembrei-me de Baumbach e interroguei-me como seria o realizador de "The Squid and the Whale" se filmasse como o realizador de "Husbands". Lembrei-me da vibração das ruas de Cassavetes, do grão das suas imagens, da agitação da sua câmara ante os actores - ou será antes a agitação dos actores ante a câmara? Lembrei-me do burlesco de Seymour Cassel em "Minnie and Moskowitz", mas antes lembrei-me, em versão sadia, do Cassavetes-pai de "Love Streams" - bem a propósito este título - a oferecer uma bebida ao seu filho pequeno e a deixá-lo trancado no quarto de hotel enquanto este ia para a borga. Lembrei-me do encontro de intelectuais beat de "Pull My Daisy" e do filho de Robert Frank, que estava para ali perdido entre poetas, músicos e um padre; a flutuar mais ou menos despercebido ao sabor das correntes e contra-correntes provocadas pelas palavras off de Kerouac. Lembrei-me daquele plano, também cheio do grão característico do Novo Cinema Americano - que documenta com a mesma facilidade com que ironiza -, da bandeira americana a dançar ao vento e a acabar por tapar por completo o rosto do padre orador. Lembrei-me de The Kinks, Simon and Garfunkel, Magnetic Fiels, Belle & Sebastien, Kings of Convenience, Sufjan Stevens... mas deles não ouvi uma nota. Lembrei-me de como o senhor Hulot respirava vida por todos os poros e como isso contagiava tudo o que tocava, incluindo os seus pobres sobrinhos, cativos de uma vida doméstica cinzenta, sem amor. Lembrei-me das crianças endiabradas de Morris Engel e Ruth Orkin, e das partidas infantis que os seus adultos pregavam uns aos outros. Lembrei-me de como é duro crescer ou de quão não-magnífica - já diz a música dos The National... - é a vida mal deixamos de ser crianças. Lembrei-me de tudo isto e lembrei-me da minha infância. O bastante para considerar os irmãos Safdie, depois do genial "The Pleasure of Being Robbed", a coisa mais interessante que anda por aí.

Safdie vs. Cassavetes (IV): comunicação


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Programação de cinema na RTP2 (XI): tempo de tirar a venda

"Olhos da Ásia" (1996) de João Mário Grilo

Vamos a factos.

1. A RTP2 passa dois filmes ao sábado quando, há coisa de 5 anos, estava a passar um filme todos os dias.

2. Nesse espaço, muitas vezes, verifica-se uma repetição das escolhas, dentro da própria rubrica ou em relação à RTP1.

3. Nem sempre é evidente a escolha desses dois filmes, faltando ao público-médio (é para ele, antes de mais, que se destina a TV pública) instrumentos para que seja levado a ver e/ou a saber descodificar o que vê - relembro as introduções de Bénard da Costa ou dos entrevistados de Inês de Medeiros em "Filme da Minha Vida".

4. Há, efectivamente, uma programação de cinema na RTP2? Há, se não entendermos programação como um macrotexto ou um "discurso" que atenda às necessidades e sensibilidades do público e que seja sólido, coerente e inteligível na sua formulação para a maioria.

5. A falta de oferta de cinema na RTP2 espelha a falta generalizada de cinema no resto dos canais, cabo ou não, pagos ou gratuitos. E curto é o leque de filmes que todos estes canais passam, tal como curta acaba por ser a própria oferta dos vídeo clubes, onde o predomínio de cinema norte-americano é desproporcionado em relação a outros interessantes cinemas do mundo (como o português). Face a isto, o segundo canal tem perdido uma boa oportunidade para se afirmar como uma "alternativa", dever a que está vinculado pelo disposto no Artigo 54.º da Lei da Televisão.

Concordam que se podia fazer mais neste domínio numa estação que, a bem ver, é financiada por todos nós? Se sim, como diz o outro, é tempo de mais acção e menos conversa - ou melhor, é tempo de transformar a conversa em acção! Para tal, sugeria começar por se juntar a nós via peticaortp2@hotmail.com.

(Sublinho que não está aqui em causa o concordar ou não com cada uma das opiniões que expressei. A ideia até é haver uma saudável troca de ideias entre os membros que se queiram juntar ao grupo-base, que só depois de formado com um número mínimo de pessoas - que cubram mais ou menos o espaço nacional - irá debater entre si as versões do texto da petição.)

Safdie vs. Cassavetes (III): copos

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Safdie vs. Cassavetes (II): música

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Safdie vs. Cassavetes (I): lume

O discurso escrito, mas também a fotografia, o cinema, a reportagem, o desporto, os espectáculos, a publicidade, tudo isso é susceptível de servir de suporte à fala mítica. O mito não pode definir-se pelo seu objecto nem pela sua matéria, dado que toda e qualquer matéria pode arbitrariamente ser dotada de significação: a flecha que se entrega a fim de significar o desafio é também uma fala.

Roland Barthes, in "Mitologias"

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domingo, 18 de julho de 2010

Let's end this motherfucking shit/ O final apocalíptico par excellence


a. Extracto de "Videodrome" (1983) de David Cronenberg


b. Extracto de "Fight Club" (1999) de David Fincher


c. Extracto de "Escape From L.A." (1996) de John Carpenter


Qual a sua escolha?

sábado, 17 de julho de 2010

O beijo mais cinemático


a. Extracto de "Body Double" (1984) de Brian De Palma



b. Extracto de "Pickpocket" (1959) de Robert Bresson


c. Extracto de "Punch-Drunk Love" (2002) de Paul Thomas Anderson

Qual a sua escolha?

Still stolen stills

"Les quatre cents coups" (1959) de François Truffaut

"Blowup" (1966) de Michelangelo Antonioni

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