quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Recorte de falas (XIV): The Fountainhead

Eu recorto a seguinte passagem, relativamente extensa, do colossal "The Fountainhead" (1949) por dois grandes motivos: primeiro, para mostrar que um filme sobre um arquitecto e a sua batalha para combater os cânones empedernidos pode ser essencialmente sobre outra coisa bem diferente, isto é, sobre o regime ditatorial que a política dos estúdios então impunha aos seus cineastas-funcionários, sobretudo, àqueles que questionavam e queriam mudar as normas; segundo, complementarmente, para revelar que Vidor, em 1949, estava ciente que Hollywood tal como a conhecia tinha os dias contados: a estética neo-realista mostrara brilhantemente como retomar o caminho iniciado por filmes, precisamente, de King Vidor, dos anos 20 e 30 (sobretudo, "The Crowd" e "Our Daily Bread"), fazendo ao mesmo tempo frente às grandes produções americanas e, mais importante, sem com isso cercear a liberdade criativa do cineasta-autor.

Por estas duas razões, as alegações finais do arquitecto visionário Howard Roark são mais do que aparentam: Vidor, que tinha marcadas na pele as chicotadas impostas pela ganância da indústria (os vários problemas de produção que rodearam "Duel in the Sun" lançaram o mote...), põe Gary Cooper a dizer umas verdades duras, a dar "uma lição de verdades duras... sobre a estrutura das revoluções não só científicas como artísticas da História" (um parêntesis: Thomas Kuhn só escreve "Structure of Scientific Revolution" em 1961), aos manda-chuvas de Hollywood. Esta situação de tribunal, em acta como em filme, serve de manifesto a tudo o que viria a seguir: o nascimento de um cinema dito moderno, onde o realizador era um autor, como uma ilha de um arquipélago vasto, cuja administração gozaria, enfim, de plena autonomia em relação às directivas da grande metrópole. Se isto aconteceu exactamente assim, não sei, mas lá que foi anunciado pelo grande arquitecto "moderno" Roark, no filme "The Fountainhead", isso não duvido.

Howard Roark: [delivering the closing statements of his own defense] Thousands of years ago the first man discovered how to make fire. He was probably burned at the stake he had taught his brothers to light, but he left them a gift they had not conceived of, and he lifted darkness off the earth. Through out the centuries there were men who took first steps down new roads, armed with nothing but their own vision. The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won.

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