quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Viva a Cinemateca!


No texto "Clarificação e rápida resolução da actual situação da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema", que eu subscrevi, pode-se ler a certa altura:

Reivindicamos, enquanto utentes da instituição, enquanto contribuintes e cidadãos do Estado português, que as partes (direcção e tutela) se reúnam e que desse encontro resulte um documento, cujas linhas principais sejam tornadas públicas, onde conste um rigoroso compromisso com soluções de longo prazo. É mister que este conjunto de medidas assegure a resolução das várias insuficiências – materiais, financeiras, estruturais e/ou políticas – que têm, cumulativamente, perturbado e comprometido o funcionamento da casa-mãe do cinema.

A reivindicação é simples e directa. Nada justifica o jogo do telefone estragado que há demasiado tempo se tem desenrolado entre a direcção da Cinemateca e a tutela - e destas duas com a opinião pública. É tempo da sociedade civil chamar as partes à sua responsabilidade e provocar uma resolução imediata e sustentada de todos os problemas que minam a credibilidade do nosso Museu do Cinema.

Adenda (do dia 23 de Agosto): transcrevo abaixo o comentário deixado pelo Samuel Andrade, do blogue Keyzer Soze's Place, no supracitado artigo do À pala de Walsh. Um comentário que me parece muito significativo.

Confesso-me bastante perturbado com as notícias recentes sobre uma eventual impossibilidade, por motivos financeiros, de reabertura da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. No entanto, e como fã inveterado de todos os quadrantes da actividade da Cinemateca, também não posso deixar de manifestar desagrado pela natureza da reacção, ou ausência da mesma, a essa perspectiva.

Com todo o respeito pelo cariz público da instituição e dos seus representantes, sinto-me na obrigação de frisar que temos — e não é só de agora… — apenas assistido, por parte dos responsáveis da Cinemateca, ao mero anúncio da “catástrofe iminente” e posterior cruzar de braços, numa atitude de quem espera que sejam “os outros” a resolver os problemas presentes.

Há muito que deveriam ter sido encontradas fontes alternativas de financiamento. Há muito que se exige um comportamento substancialmente mais proactivo por parte de quem gere a instituição. Há muito que a Cinemateca deveria ter aberto as suas portas à comunidade que a rodeia, numa efectiva demonstração de adaptação e capacidade de atracção pública, social e financeira à prova de qualquer “tumulto” ou negligência de ordem política.

E a rápida resolução da actual situação da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema tem de passar, portanto, pela obrigatória e radical remodelação do seu modelo humano, estratégico(?) e organizativo presentemente em vigor.

Adenda (do dia 24 de Agosto): acabo de assinar uma petição pública dirigida à Assembleia da República que pretende "promover o debate urgente deste assunto, visando as iniciativas legislativas e políticas necessárias para garantir o funcionamento e evitar o encerramento da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, protegendo, desta feita, grande parte da memória de todos nós, que é um enorme pedaço de Portugal, em risco de se perder para sempre".

A iniciativa é louvável, mas a sua formulação incompleta, já que, como se percebeu, a Cinemateca irá reabrir, mas a sua reabertura poderá não querer dizer que os problemas que a têm afligido tenham sido resolvidos ou que o seu encerramento não esteja simplesmente a ser adiado. Esta petição poderia ser mais útil se procurasse abrir a discussão acerca de um novo modelo de gestão assente em compromissos claros mutuamente acordados entre tutela e direcção, que dêem garantias aos utentes de que a Cinemateca não vai continuar a ser vítima deste processo de rápida e aparentemente inevitável degenerescência.

Adenda (do dia 29 de Agosto): apelo a todos que marquem presença na "Concentração contra o encerramento da Cinemateca Portuguesa". A iniciativa é boa, dará visibilidade pública (e esperemos que também mediática) à presente situação da instituição. Penso que seria de bom tom que, durante esta concentração, a direcção fizesse como no passado protesto e tomasse a palavra para, primeiro, actualizar os níveis de alarme provocados há uma semana e, segundo, sensibilizar os presentes para todas as insuficiências que precisam de ser superadas para que a Cinemateca não só assegure a estabilidade no funcionamento como a qualidade programática e aptidão museológica de todos os seus serviços.

Adenda (do dia 1 de Setembro): a concentração da passada sexta-feira deu para comprovar várias coisas que tenho aqui escrito e descrito. Primeiro, a Cinemateca, tal como anunciou a directora Maria João Seixas e o subdirector José Manuel Costa, irá reabrir já amanhã- o programa, aliás, pode ser consultado aqui. Segundo, a solução encontrada com a tutela é meramente provisória ou, pior adjectivação é impossível, "excepcional". Isto é, o dinheiro que foi desbloqueado para assegurar a manutenção dos serviços da Cinemateca e ANIM cobrirá, de modo excepcional (!), o período que vai de Setembro a Dezembro deste ano. Findo este remendo mal amanhado, a Cinemateca regressa à estaca zero e, nessa altura, os protestos serão, certamente, menos intensos - todos nós conhecemos a história do Pedro e do Lobo... Terceiro, confirma-se que a verdadeira luta não se deve ficar apenas pela abertura ou não desta que é não só a nossa única Cinemateca como é, inquestionavelmente, uma Cinemateca única no panorama internacional.

O funcionamento de uma instituição como esta não pode ser susceptível de discussão, o que é susceptível de discussão - e indignação! - é a forma como a nossa Cinemateca está a ser tratada, rasando neste momento a mais inconcebível indignidade. Posto isto, a sociedade civil tem como missão assegurar um debate sério e objectivo sobre a sustentabilidade desta instituição. Para tal, as duas partes (direcção e tutela) terão de se sentar à mesma mesa e, com total clareza e transparência, REPENSAR o modelo de financiamento e a própria orgânica de poder da Cinemateca/ANIM. É urgente que tal aconteça, visto que o poder político - de novo, muito à la Griffith - fixou Dezembro como o novo deadline, uma "linha de morte" que poderá, desta feita, ser traçada pela última vez.

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