Este último, interpretado pelo grande Richard Widmark (falecido este ano, RIP), é o anti-herói fulleriano com os sentimentos à flor da pele e pouco interessado em tudo aquilo que não envolva dólares (política incluída). Ele mexe-se para um (polícia) e outro (comunistas) lados com a mesma ligeireza com que põe a sua mão delicada nas carteiras de senhoras no metro.
Skip McCoy (é o seu nome) não está totalmente sozinho: tem ao seu lado Moe, uma informadora de rua que fez da delação uma profissão em full time. Trata-se de uma personagem moralmente ambígua (bem, não serão quase todas, aqui?) que se redime no fim, numa sequência de grande violência filmada com músculo e elegância. Aliás, antes de ser um filme com uma mensagem politicamente incorrecta sobre a guerra-fria - no que diz respeito a Skip, who gives a damn? -, "Pickup on South Street" é um exercício magistral de mise en scène, com uma câmara, lânguida e precisa, sempre em movimento.
A mise en scène de Fuller pode vir sobretudo de um muito treinado gut feeling - o próprio diz que "escreve, por instinto, com a câmara" -, mas dificilmente haverá trabalho mais completo sobre o espaço e a posição dos corpos como este. Há nele um equilíbrio quase perfeito entre uma visão pragmática e excitante do cinema e uma abordagem esteticizante e filosófica da imagem. Pensamos que terá sido este segundo aspecto que mais inspirou Robert Bresson na realização de "Pickpocket" (1959), filme que concentra toda a sua "violência" no interior atormentado das suas personagens.
Fuller era um homem de emoções fortes que gostava de fumar grandes charutos - vejam-no(s) em "Pierrot le fou" (1965) de Jean-Luc Godard. Por isso, num filme seu, um beijo é seguido quase sempre de uma estalada. Quando um homem e uma mulher se zangam, o cenário quase vai abaixo com a violência da pancadaria. Bresson consideraria "Pickup on South Street" excessivo e Fuller adormeceria a ver "Pickpocket". Esta é a diferença fundamental que, paradoxo dos paradoxos, junta estas duas obras-primas absolutas do cinema mundial.
Fuller era um homem de emoções fortes que gostava de fumar grandes charutos - vejam-no(s) em "Pierrot le fou" (1965) de Jean-Luc Godard. Por isso, num filme seu, um beijo é seguido quase sempre de uma estalada. Quando um homem e uma mulher se zangam, o cenário quase vai abaixo com a violência da pancadaria. Bresson consideraria "Pickup on South Street" excessivo e Fuller adormeceria a ver "Pickpocket". Esta é a diferença fundamental que, paradoxo dos paradoxos, junta estas duas obras-primas absolutas do cinema mundial.
Sem comentários:
Enviar um comentário