quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Barreto Xavier e a Cinemateca: "não me agrada que os meus directores gerais façam dramatizações em público"


Abaixo transcrevo um excerto da entrevista (que pode ser vista aqui, a partir do minuto 17:10) realizada por Luís Gouveia Monteiro ao secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, no programa "O que Fica do Que Passa" do canal Q. Momento decisivo para se perceber o que já tinha escrito aqui, no CINEdrio, a propósito do jogo do telefone estragado que se tem desenvolvido entre a actual direcção da Cinemateca e a Secretaria de Estado da Cultura. As declarações de Jorge Barreto Xavier são graves e podem significar a última estocada na autoridade da actual direcção. O lamentável episódio da reabertura ou não da Cinemateca neste Verão é qualificado pelo próprio de "um disparate" e uma "e(n)fabulação" feita - e Jorge Barreto Xavier não se poupa em informalismos - "pela Maria João Seixas".

Quanto à gestão financeira da instituição, o secretário de Estado não se coíbe de criticar também a direcção (os seus responsáveis...) por não conseguir suprir a receita que falta ou reduzir a despesa. Denuncia ainda aquilo que será uma orçamentação "miraculosa" das actividades da Cinemateca desde 2008: "não corresponde à verdade das coisas". Recordo que Maria João Seixas anunciou no dia 21 de Agosto que a Cinemateca não reunia condições financeiras para abrir portas. Menos de 24 horas depois, com um simples mail, o secretário de Estado da Cultura prontamente garantiu que a Cinemateca não ia fechar - e, de facto, não fechou. Durante todo o processo, a directora da Cinemateca nunca criticou directamente a acção do secretário de Estado e mesmo quando a casa estava a arder manifestou a sua crença de que tudo iria correr bem.

Mas não é consensual por exemplo que se tenha chegado a uma situação a que se chegou neste Verão de emergência de não haver dinheiro para funcionar...

Não. Essa foi uma dramatização excessiva feita pela Maria João Seixas. E eu, de facto, não me agrada que os meus directores gerais façam dramatizações em público.

Se não tivesse sido essa dramatização, a Cinemateca teria dinheiro para funcionar até ao fim do ano?

Isso é um disparate. Isso é um disparate. Obviamente eu não vou discutir em público aquilo que é o meu trabalho com os meus directores gerais, mas aquilo que eu consensualizo com os directores gerais - e isso aconteceu com os da Cinemateca - é explicar que as dificuldades existiam, existem, mas que eu garantia que não iria haver fecho da Cinemateca. Tive de o repetir em público, o que não era necessário.

E teve que aparecer com aqueles 700 000 euros...

Eu não apareci com 700 000 euros nenhuns. Tudo isso já existia. Isso foi uma enfabulação [sic] de uma circunstância feita... eu ainda hoje não percebi porquê.

(...) Ainda a propósito daquela questão Ministério versus Secretaria de Estado, diz-me a minha quinta coluna que esse dinheiro terá vindo de fundos europeus depois postos no Fundo de Fomento (...)

No que diz respeito à questão da Cinemateca, a questão do financiamento não tem de todo a ver com fundos comunitários. Nós estamos a suprir as necessidades de funcionamento da Cinemateca com montantes adicionais que fomos buscar ao Fundo de Fomento Cultural. A Cinemateca desde 2008 que tem decréscimo de receita. Mas desde 2008 que a Cinemateca inscreve todos os anos, erradamente, uma previsão orçamental em função do montante de 2007. Ou seja, ou os governos tinham encontrado a diferença do gap entre o montante inscrito e o montante da receita - visto que a taxa de publicidade televisiva baixou 50% de 2008 a 2013.. Cada ano, desde essa data, a Cinemateca não tinha o dinheiro da previsão orçamental. É expectável que os seus responsáveis e obviamente os membros do governo encontrem um caminho ou para suprir a receita que falta ou para reduzir a despesa. Não existem orçamentos miraculosos, em que se coloca um certo número no Orçamento de Estado que não corresponde à verdade das coisas. Isto foi mal feito e não foi mal feito em 2013, foi mal feito sucessivamente, durante vários anos. Nós estamos a corrigir isso e obviamente temos propostas para o Orçamento de Estado de 2014 para suprir isso. Não vamos é agora pensar que é uma coisa que de repente aconteceu em Julho de 2013. Isso é completamente falso e por isso é lamentável o modo como o processo passou, mesmo em termos públicos.

1 comentário:

Miguel Domingues disse...

Os "meus" directores-gerais? O cesarismo deste senhor enoja-me. A única lealdade de um director-geral deve ser para com a instituição que dirige. Eu se fosse a Maria Joao Seixas respondia que a mim nao me agrada lidar com Barretos Xavieres, mas tenho que aguentar. E depois que a exonerassem e metessem la um boy, que era para forca-los a sair da carapaça.

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