quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Caos calmo (2008) de Antonio Luigi Grimaldi

Num artigo do Público sobre "Caos calmo" lia-se no título "o filme que confundiu os fãs de Moretti". A nosso ver, dizer isto é totalmente despropositado, até porque nesta altura temos de falar em Morettis e não apenas num Moretti (o de "Ecce Bombo" até "Caro Diario"/"Aprile", passando pelo genial "Palombella Rossa"). "La stanza del figlio", filme que este sim deve ter confundido quem na altura era fã do realizador, está na origem de um Moretti menos acerbo, em que o político se transformou na mais profunda e comovente reflexão sobre as relações humanas. O amor (entre pai e filho, tal como entre homem e mulher , etc.) passou a ser o objecto de interesse do cineasta, que, por assim dizer, suavizou o tom colérico, violento, agreste, tempestuoso que caracteriza especialmente o começo da sua obra.

"Il Caimano" mistura os dois Morettis de forma errática e confusa. É o filme de transição para "Caos calmo", que é o Moretti mais próximo de "La stanza del figlio", isto é, obra adulta pontuada por uma visão tão doce quanto dura da vida. História sobre a vontade de parar no tempo, de passear no jardim e quebrar a rotina que nos distancia das coisas importantes da vida - da beleza enorme das pequenas coisas que nos rodeiam (no jardim, a filha despede-se do pai, a rapariga bonita passeia o cão, uma mulher surge de mão dada com um rapaz mongolóide...) e das pessoas que de facto importam (aqueles que amamos e nos amam, incondicionalmente e "porque sim").

Moretti pode ser dirigido por outro realizador, mas "Caos calmo" dá-lhe espaço para existir como nunca antes enquanto actor (e escritor!) e é a partir da sua interpretação magnífica que este filme também se torna num "filme do seu cinema" (as listas, a comida, o sexo, o jogo... tudo elementos típicos num filme de Moretti - ah, e Silvio Orlando noutra interpretação deliciosa).

Sabe bem ver este filme; é um dos feel good movies do ano, mas esta etiqueta não lhe faz justiça e pode induzir em erro: Moretti passa por dois desafiantes testes à sua condição de actor (a cena em que "explode" no carro e a tensa, sensual e desconfortável, porque longuíssima, cena de sexo) e muito do que se diz aqui é sinal de que nas sociedades modernas há pouco espaço para o amor e para as relações humanas. É um alerta que nos chama para a vida. Talvez seja possível sair da sala a "saber vivê-la" melhor e isso, só por si, constitui um pequeno milagre.

Ler mais aqui: IMDB.

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