"Sogni d'oro", de Nanni Moretti, é uma obra-prima violenta, colérica, quase terrorista, contra o cinema, a televisão, quem dela faz parte, dos realizadores, aos produtores... ao próprio público.
O filme data de 1981, mas lança uma pergunta, que ainda hoje carece de uma resposta clara: a quem devemos atribuir a responsabilidade pela mediocridade generalizada da televisão? Por regra, quem nela trabalha diz - e não duvido que acredite piamente nisso - que a televisão dá aquilo que o público quer, refugiando-se, ao mesmo tempo, na argumentação auto-vitimizante da "ditadura das audiências" ou de "os malefícios da concentração".
No fundo, como a televisão depende da publicidade e o investimento publicitário é directamente proporcional aos níveis de share, a forma mais segura que cada canal tem para ser visto é apostar em programas feitos à medida da sua audiência. Mas, do lado de fora, questionamo-nos se a televisão não deverá ter, afinal, uma função pedagógica, formadora, que eduque o seu público, fazendo-o evoluir - e será que assumir essa função torna a televisão num meio elitista, economicamente inviável?
Ao mesmo tempo, não se pode fugir a este facto: se a maioria da população portuguesa gosta de coisas como os "Malucos do Riso" foi porque, numa primeira instância, a televisão lhe tentou a ver coisas como os "Malucos do Riso".
Estamos a poucos (?) anos da implantação da Televisão Digital Terrestre (TDT) em Portugal e o poder de "fazer televisão" continua concentrado num conjunto restrito de pessoas, que pouco tem feito para evitar a perpetuação de uma "tele-socialização" estupidificante, alimentando os espectadores com programas enlatados, que exploram sucessivamente as mesmas fórmulas - aquelas que eles chamam "de sucesso".
Apesar das aparências, a TV Cabo não veio melhorar esta situação. Pelo contrário, actualmente, calam-se os chatos dos "intelectuais" com canais pagos, que não são mais do que arquivos desordenados de programas dispensados pelos canais de sinal aberto, e, no mainstream, insiste-se numa política de "engorda do porco".
Dir-me-ão que o público deve impor "as regras do jogo" e não ser passivo; que o público é uma merda e eu dir-vos-ei apenas isto: só em "Animal Farm", de George Orwell, os porcos tomam as rédeas do poder.
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