quarta-feira, 30 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
"Não posso, mas amo-te" ou os amores indizíveis de Setsuko Hara
"Banshun"/"Late Spring" (1949) de Yasujiro Ozu
"Yama no oto"/"Sound of the Mountain" (1954) de Mikio Naruse
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Los abrazos rotos (2009) de Pedro Almodóvar
É o filme mais fracassado do realizador espanhol, melodrama confuso que negligencia, como nunca antes aconteceu com Almodóvar, parte das suas personagens, usando-as como pretextos para forjar momentos conceptualmente fortes - a cena em que Penélope se "dobra" a si mesma ou a cena à la "Persona" em que Mateo procura tocar, e guardar para sempre, a imagem do último beijo que deu à mulher da sua vida.
Por outras palavras, se excluirmos momentos pontuais no filme, que procuram explorar um imbricado, visualmente sofisticado, jogo de espelhos entre perspectivas (a das personagens e a das imagens que estas tanto fetichizam), toda a arquitectura dramática de "Los abrazos rotos" é um perfeito caos, repleto de indecisões, buracos e inconsistências que poderão equivocar drasticamente um espectador que não conheça as grandes obras de Almodóvar, que se demarcam precisamente pela sua clareza clássica e, outra coisa que não encontramos aqui, por uma mordacidade, que é uma plasticidade..., sem limites.
Por outras palavras, se excluirmos momentos pontuais no filme, que procuram explorar um imbricado, visualmente sofisticado, jogo de espelhos entre perspectivas (a das personagens e a das imagens que estas tanto fetichizam), toda a arquitectura dramática de "Los abrazos rotos" é um perfeito caos, repleto de indecisões, buracos e inconsistências que poderão equivocar drasticamente um espectador que não conheça as grandes obras de Almodóvar, que se demarcam precisamente pela sua clareza clássica e, outra coisa que não encontramos aqui, por uma mordacidade, que é uma plasticidade..., sem limites.
Os buracos deste filme são vários, começando precisamente pela forma como abre: Harry Caine, um argumentista cego que se encontra numa situação emocionalmente difícil (perdeu o amor da sua vida de forma trágica e obscura) tal como criativa e financeiramente instável (terá de começar a escrever guiões mais "vendíveis"), é-nos apresentado numa cena de flirt com uma loiraça que o terá encontrado na rua e que, segundos depois, está envolvida com ele no sofá. Caine aparece como um cego cheio de lábia, alguém no auge da sua virilidade - a cegueira até parece ser um isco conveniente. Mas, depois, com o desenrolar do longo puzzle de "Los abrazos rotos", percebemos quão desenquadrada esta cena está com o tom geral do filme.
Mais à frente, para não destoar, temos Almodóvar a inserir cenas absolutamente redundantes ou outrossim injustificadas. A cena em que a fraca personagem de Penélope Cruz desvela uma vida paralela onde ganha umas massas como call girl é descabida e quase caricatural para a personagem do empresário Ernesto Martel - ou pretendia Almodóvar retratá-lo como um velhinho pervertido, com dinheiro, influência mas sem good looks, sedento de carne fresca? Para além de cenas desnecessárias e injustificadas, Almodóvar não consegue gerir todas as histórias que tem em mãos: há um claro problema de perspectiva, mas acima de tudo Almodóvar mostra-se incapaz de destrinçar o essencial do acessório, omitindo pedaços do filme que seriam importantes em detrimento de cenas (como as já citadas) que são grotescas ou inúteis ou ambas.
Nunca vimos o realizador espanhol esquecer-se de modo tão escandaloso das suas personagens - a mãe e o pai de Penélope são, com muito pouca subtileza, postos de lado no filme nem este vai a meio - ou a dar tanta atenção a personagens tão desleixadamente caracterizadas como Ernesto Filho, um peeping tom, diabolicamente gay, empenhado numa estranha e muito pouco convincente vingança contra o seu pai homofóbico. Tudo muito esquemático, mal articulado e desinspirado. A ideia do filme dentro do filme que é aqui explorada será das soluções mais abusivamente auto-referenciais no cinema de Almodóvar ou não teria este posto as personagens de "Los abrazos rotos" a refilmar a sua mais que célebre obra-prima "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" e tornado a odisseia da sua montagem num disparatado, e mais uma vez, pouco claro, motivo moral.
Com efeito, o que quer mesmo Almodóvar dizer com a última frase que Mateo diz na mesa de montagem? "Deve-se acabar um filme, nem que seja às cegas", frase que diz mais sobre "Los abrazos rotos" do que sobre o filme que este contém. Acreditamos que Almodóvar mudou de método aqui: pensou primeiro em imagens e, só depois, em como chegar até elas, criando e sacrificando personagens unidimensionais, recorrendo a clichés antigos, mas sem brilho (e ultrapassando muitas vezes, como nunca antes repita-se, a linha ténue que separa o kitsch do piroso) ou enredando ainda mais as suas personagens num plot desinteressante, mal construído, repleto de pequenos pretensos twists dramáticos que tomam o espectador por burro (todas as revelações finais são mais óbvias que a intriga de uma telenovela da TVI). Em suma, "Los abrazos rotos" é um filme que Almodóvar conseguiu concluir, mas tomado por uma total cegueira criativa.
Ler mais aqui: IMDB.
Revolutionary Road (2008) de Sam Mendes
Mendes não é um realizador que nos tenha impressionado muito até aqui. Vemos este "Revolutionary Road" tardiamente, porque o virtuosismo formal de Sam Mendes e as suas histórias mais ou menos satíricas, no limite da caricatura, nos têm parecido artificiais, manipuladoras e calculadas. A surpresa chega agora. "Revolutionary Road", baseado na obra homónima de Richard Yates, é um dos melodramas mais negros sobre a terrível transfiguração do american dream num american nightmare; é uma actualização do velho, mas ainda hoje acutilante, Douglas Sirk (à cabeça, "All That Heaven Allows") ou uma prequela necessariamente brutal do contemporâneo John Cassavetes (à cabeça, "A Woman Under the Influence").
Estamos em meados dos anos 50, num típico subúrbio norte-americano onde vive o casal-modelo, daqueles que a publicidade não se cansa de representar. Jardim arranjadinho, móveis novos, tudo pintado de fresco a branco asséptico. E na vizinhança não há uma nota que destoe, tal como a luz incandescente, sempre intrusiva, claustrofóbica porque inescapável, que invade cada divisão da casa: não há sombras, espaços de escuridão que convidam a outros pensamentos, a outros sonhos.
A luz (Roger Deakins é, de facto, genial) diz que a vida é como nos outdoors da publicidade - uma vida de papel, de fachada, portanto. Mendes entra neste "paraíso infernal" e expõe, com a ajuda das interpretações poderosas de Di Caprio, Winslet e sobretudo Shannon, o desmoronamento e a decepção do sonho americano. É hábil quando concentra a acção entre as quatro paredes da casa do casal ou não cede à tentação, típica em filmes "históricos", de variar constantemente de cenário para exibir os altos valores de produção da obra ou sublinhar as particularidades mais ou menos pitorescas da época - até porque o que se trata aqui é intemporal.
Ao mesmo tempo, esta concentração espacial resulta numa continuidade quase teatral que leva ao limite a nossa co-habitação com os protagonistas e os seus sonhos frustrados. Claro que, em certos momentos, sentimos que Sam Mendes não resiste a uma certa gratuitidade - exemplo da cena em que Winslet contempla o vazio enquanto pinga sangue na sua carpete - mas não há dúvidas que este é o seu filme mais lúcido e adulto.
Ler mais aqui: IMDB.
Estamos em meados dos anos 50, num típico subúrbio norte-americano onde vive o casal-modelo, daqueles que a publicidade não se cansa de representar. Jardim arranjadinho, móveis novos, tudo pintado de fresco a branco asséptico. E na vizinhança não há uma nota que destoe, tal como a luz incandescente, sempre intrusiva, claustrofóbica porque inescapável, que invade cada divisão da casa: não há sombras, espaços de escuridão que convidam a outros pensamentos, a outros sonhos.
A luz (Roger Deakins é, de facto, genial) diz que a vida é como nos outdoors da publicidade - uma vida de papel, de fachada, portanto. Mendes entra neste "paraíso infernal" e expõe, com a ajuda das interpretações poderosas de Di Caprio, Winslet e sobretudo Shannon, o desmoronamento e a decepção do sonho americano. É hábil quando concentra a acção entre as quatro paredes da casa do casal ou não cede à tentação, típica em filmes "históricos", de variar constantemente de cenário para exibir os altos valores de produção da obra ou sublinhar as particularidades mais ou menos pitorescas da época - até porque o que se trata aqui é intemporal.
Ao mesmo tempo, esta concentração espacial resulta numa continuidade quase teatral que leva ao limite a nossa co-habitação com os protagonistas e os seus sonhos frustrados. Claro que, em certos momentos, sentimos que Sam Mendes não resiste a uma certa gratuitidade - exemplo da cena em que Winslet contempla o vazio enquanto pinga sangue na sua carpete - mas não há dúvidas que este é o seu filme mais lúcido e adulto.
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