terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Prémios CINEdrio 2012

Com os dez mais identificados, parto para os prémios CINEdrio deste ano.

Melhor filme: "O Cavalo de Turim". Já disse quase tudo aqui, por isso, apenas me resta sublinhar melhor esse lugar que é seu e só seu por direito próprio: o de obra-prima do ano. Aqui está um monumento ímpar erigido com recurso à mais depurada das linguagens fílmicas e que leva ao limite as potencialidades estéticas do plano e da duração cinematográficos.

Melhor realização: Béla Tarr. Despediu-se do cinema com "O Cavalo de Turim", o seu filme maior (talvez superior a "Tango de Satan") que, em sala, devolveu ao cinema a sua dimensão de "coisa experienciada" mais do que de "coisa percepcionada". Foi, na minha opinião, a grande resposta à espectacularização oca que Hollywood tem promovido com ferramentas tantas vezes inconsequentes, como o 3D. Na sala escura, nessa "caverna platónica", Tarr usou como ferramenta a própria linguagem do cinema, o seu ADN mais "primitivo", mais "primeiro". O resultado é para receber com espanto.

Melhor plano: O que abre "O Cavalo de Turim". Sobre ele, escrevi: "Não se trata (...) apenas do plano de uma carroça, porque, para isso, Tarr teria optado por filmar o conjunto (homem mais cavalo). O que o realizador húngaro faz é mostrar um cavalo e um homem, o que só é possível, precisamente, através do gesto do plano contínuo que alterna entre os dois, o cavalo mais o homem e o cavalo (= carroça). Aqui reside, em toda a sua pungência plástica, a gravitas cosmológica da câmara de Tarr: ela gravita em torno dos corpos, como astros em torno do sol, indiferente, enfim, ao peso cultural e humano das coisas, aproximando-se portanto de uma ideia ontológica significativa: o plano deve ser mesmo plano, como a realidade que nos aparece à frente, o que não quer dizer que destituída de profundidade e da tal... gravitas - esta emana, naturalmente, das pessoas como dos animais como das coisas... a câmara deve apenas planar no tempo e no espaço para captar esta Verdade."

Melhor actor: Denis Lavant ("Holy Motors") em ex aequo com Jack Black ("Bernie"). O primeiro foi o grande "personificador" do ano, uma espécie de corpo re-ligioso que opera sobre o real um pouco fazem os media: "enchendo" os vazios, os espaços deixados vagos, os papéis que urge representar. O stuntman do real ou o metteur en scène burlescamente primordial, Lavant é o rosto dos rostos ou os rostos do rosto de "Holy Motors" e de 2012. Tudo, claro, pela "beleza do gesto". Já Jack Black desmonta a hipocrisia da lei, da moral (e) da comunidade onde vive através do seu carácter, que é oferecido a todos numa transparência ou candura (quase) absoluta. Será que um anjo pode ser um "bom anjo da morte"?

Melhor actriz: Rooney Mara ("The Girl With the Dragon Tattoo"). Descobri o seu talento em bruto em 2012 - e se bruto continuar, mais vezes merecerá a nomeação. Mara tem a roughness e a punkness no sangue... Não sei se primeiro veio o ovo ou a galinha, mas estou convencido que, neste caso, o papel e a actriz encaixam na perfeição.

A revelação: Markus Schleinzer. Primeira obra como realizador e sai o filme mais perturbante de 2012: "Michael". Mas, atenção: ao contrário do seu "tutor", Michael Haneke, Markus não inquina os jogos que faz com o espectador. Na realidade, "Michael" é um filme que quase abdica de qualquer jogo, estabelecendo-se desde o início como um filme "sem assunto": a pedofilia aparece inserida numa rotina "normalizada", cabendo em primeiro lugar ao espectador a tarefa de se lembrar a si mesmo que essa "normalidade" é uma impossibilidade humana ou uma "anormalidade"...  Muito difícil de ver, mas feito com grande habilidade.

A desilusão: Jeff Nichols ("Take Shelter"). Não que tenha caído com estrondo depois do excelente "Shotgun Stories", mas confesso que esperava muito mais. A segunda obra, da confirmação ou do desastre, pode ser o instante decisivo na carreira de um realizador talentoso. Neste caso, não houve nem  confirmação nem desastre. Talvez "Take Shelter" seja mais o filme que faça a ponte com o que aí vem, no sentido em que "adia" o que normalmente é provocado pela segunda obra. Vamos aguardar por "Mud", que já teve a sua estreia mundial - muito discreta, por sinal - no último Festival de Cannes.

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