segunda-feira, 30 de setembro de 2013
À boleia do Caminho Largo
Recentemente fui à boleia do Jorge Teixeira, do muito dinâmico blogue Caminho Largo, e respondi como pude às suas interessantíssimas questões. Agora, em modo de auto-publicidade, venho reencaminhar os leitores do CINEdrio para o resultado desta parceria blogoesférica (que venham mais como estas!).
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Cinemateca/ANIM: arquivo sob perigo
A peça "Cinemateca/ANIM: arquivo sob perigo" foi realizada por mim e pela Mariana Castro para percebermos e darmos a perceber à opinião pública o real estado do arquivo de cinema em Portugal. Nesse sentido, aos cidadãos preocupados com os assuntos da cultura no nosso país, apelo à leitura, ao comentário e, enfim, à partilha. Trata-se de um inestimável contributo de dois dos principais responsáveis pelo ANIM para a reflexão sobre as consequências que já acarreta esta revolucionária transição do formato analógico para o formato digital. Se o leitor ainda não compreendeu bem o alcance desta revolução, então (de novo) apelamos para que leia, comente e partilhe esta peça.
Quero agradecer ao Rui Machado, António Medeiros e restantes trabalhadores do ANIM que facilitaram a concretização desta reportagem, desejando o melhor para o seu futuro.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Barreto Xavier e a Cinemateca: "não me agrada que os meus directores gerais façam dramatizações em público"
Abaixo transcrevo um excerto da entrevista (que pode ser vista aqui, a partir do minuto 17:10) realizada por Luís Gouveia Monteiro ao secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, no programa "O que Fica do Que Passa" do canal Q. Momento decisivo para se perceber o que já tinha escrito aqui, no CINEdrio, a propósito do jogo do telefone estragado que se tem desenvolvido entre a actual direcção da Cinemateca e a Secretaria de Estado da Cultura. As declarações de Jorge Barreto Xavier são graves e podem significar a última estocada na autoridade da actual direcção. O lamentável episódio da reabertura ou não da Cinemateca neste Verão é qualificado pelo próprio de "um disparate" e uma "e(n)fabulação" feita - e Jorge Barreto Xavier não se poupa em informalismos - "pela Maria João Seixas".
Quanto à gestão financeira da instituição, o secretário de Estado não se coíbe de criticar também a direcção (os seus responsáveis...) por não conseguir suprir a receita que falta ou reduzir a despesa. Denuncia ainda aquilo que será uma orçamentação "miraculosa" das actividades da Cinemateca desde 2008: "não corresponde à verdade das coisas". Recordo que Maria João Seixas anunciou no dia 21 de Agosto que a Cinemateca não reunia condições financeiras para abrir portas. Menos de 24 horas depois, com um simples mail, o secretário de Estado da Cultura prontamente garantiu que a Cinemateca não ia fechar - e, de facto, não fechou. Durante todo o processo, a directora da Cinemateca nunca criticou directamente a acção do secretário de Estado e mesmo quando a casa estava a arder manifestou a sua crença de que tudo iria correr bem.
Mas não é consensual por exemplo que se tenha chegado a uma situação a que se chegou neste Verão de emergência de não haver dinheiro para funcionar...
Não. Essa foi uma dramatização excessiva feita pela Maria João Seixas. E eu, de facto, não me agrada que os meus directores gerais façam dramatizações em público.
Se não tivesse sido essa dramatização, a Cinemateca teria dinheiro para funcionar até ao fim do ano?
Isso é um disparate. Isso é um disparate. Obviamente eu não vou discutir em público aquilo que é o meu trabalho com os meus directores gerais, mas aquilo que eu consensualizo com os directores gerais - e isso aconteceu com os da Cinemateca - é explicar que as dificuldades existiam, existem, mas que eu garantia que não iria haver fecho da Cinemateca. Tive de o repetir em público, o que não era necessário.
E teve que aparecer com aqueles 700 000 euros...
Eu não apareci com 700 000 euros nenhuns. Tudo isso já existia. Isso foi uma enfabulação [sic] de uma circunstância feita... eu ainda hoje não percebi porquê.
(...) Ainda a propósito daquela questão Ministério versus Secretaria de Estado, diz-me a minha quinta coluna que esse dinheiro terá vindo de fundos europeus depois postos no Fundo de Fomento (...)
No que diz respeito à questão da Cinemateca, a questão do financiamento não tem de todo a ver com fundos comunitários. Nós estamos a suprir as necessidades de funcionamento da Cinemateca com montantes adicionais que fomos buscar ao Fundo de Fomento Cultural. A Cinemateca desde 2008 que tem decréscimo de receita. Mas desde 2008 que a Cinemateca inscreve todos os anos, erradamente, uma previsão orçamental em função do montante de 2007. Ou seja, ou os governos tinham encontrado a diferença do gap entre o montante inscrito e o montante da receita - visto que a taxa de publicidade televisiva baixou 50% de 2008 a 2013.. Cada ano, desde essa data, a Cinemateca não tinha o dinheiro da previsão orçamental. É expectável que os seus responsáveis e obviamente os membros do governo encontrem um caminho ou para suprir a receita que falta ou para reduzir a despesa. Não existem orçamentos miraculosos, em que se coloca um certo número no Orçamento de Estado que não corresponde à verdade das coisas. Isto foi mal feito e não foi mal feito em 2013, foi mal feito sucessivamente, durante vários anos. Nós estamos a corrigir isso e obviamente temos propostas para o Orçamento de Estado de 2014 para suprir isso. Não vamos é agora pensar que é uma coisa que de repente aconteceu em Julho de 2013. Isso é completamente falso e por isso é lamentável o modo como o processo passou, mesmo em termos públicos.
domingo, 22 de setembro de 2013
Corpo sem órgãos (puro medium do terror)
terça-feira, 10 de setembro de 2013
The Tall T (1957) de Budd Boetticher
"The Tall T" é um western justíssimo, magro e elegante como o seu protagonista - e todos os melhores filmes do seu realizador -, sobre o despertar da potência feminina de uma mulher entre homens, ora selvagens e implacáveis (o grupo de assassinos que a sequestra), ora cobardes e interesseiros (de que o seu marido é o espécime mais grosseiro). Claro que para que Doretta (Maureen O'Sullivan) se dê a mostrar como a mulher que é será precisa a companhia do homem intrépido, justo e compreensivo interpretado por Randolph Scott - presença óbvia ou não seria este um western de Boetticher, o realizador que deu expressão e dimensão à carreira desse actor que no final dos anos 50 já estava longe do pico da sua vitalidade física. Trata-se, portanto, de um casal menos glamoroso do que é habitual num filme de Hollywood: um homem cuja idade começa a pesar - ele perde uma aposta com um amigo, que pôs à prova a sua frescura física - e uma mulher que está em risco de nunca ter sido nova - e a sua feminilidade adormecida, retraída, reside tragicamente nessa constatação.
Ele é um cinquentão solitário, um loner que "cavalga sozinho" (alone, lonesome, tudo sinónimos boetticherianos). Ela é uma quarentona, filha de um milionário que lhe deu riqueza material em vez de amor paterno. Ele descobre nela aquilo que ela não sabia ter: as propriedades femininas que fazem um homem agir. Boetticher narra, sinuosamente, a história dessa acção desde o princípio: primeiro, a personagem de Randolph Scott tenta dominar um touro (a tal aposta que irá perder... até porque a idade não perdoa), depois o tempo transcorre... até que Scott agarra Doretta pelo braço e lhe diz "You don't think anything of yourself, how can you expect anyone to? (...) Sometimes you have to walk up and take what you want!".
O beijo que se segue, um dos mais violentos do cinema clássico - ia escrever "que o cinema clássico nos deu" -, é uma lição vingativa - a única intensamente vingativa deste filme - contra esta mulher que negou a si mesma o tesouro mais precioso: a sua feminilidade. A partir daqui, rodeada por homens num mundo de homens, nasce uma flor no deserto. Boetticher traça, de novo com uma simplicidade de mestre, esta metamorfose de uma desvalorizada mulher rica (isto é, que apenas e só simboliza a sua riqueza) numa mulher valiosamente feminina (a riqueza que o herói desperta e que lhe dá força para matar os vilões). Masculina alquimia.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Ruínas: quando a moldura é o quadro
"Enfants aux béquilles" (1933) de Henri Cartier-Bresson
"Accattone" (1961) de Pier Paolo Pasolini
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Cinema na RTP2: história de uma fachada sem edifício
Assistimos a ciclos avulsos, produzidos sem a preocupação, como manda o contrato com o Estado, de contextualizar pedagogicamente as obras difundidas. Quando chamámos o canal à atenção, a resposta foi (a ameaça de) um empobrecimento da sua programação cinematográfica. No início do Verão, a RTP2 terá decidido suspender o "5 Noites, 5 Filmes", passando no seu lugar séries americanas ou/e reprises de séries portuguesas. Durante os últimos meses, não tivemos sequer o direito a dois filmes semanais, como acontecia no tempo de Jorge Wemans. Na realidade, a situação actual é ainda mais preocupante, já que hoje a RTP2 se escusa de programar cinema, para lá do "Onda Curta".
O DN falou do "fim do cinema na RTP2", tentámos perceber o que se passava junto do grupo do "5 Noites, 5 Filmes" no Facebook que foi tão expedito a reagir às nossas críticas passadas, mas, desta vez confrontado com as nossas dúvidas quanto ao futuro do cinema no canal, não só não foi esclarecedor como, para nosso espanto, disse ser apenas uma "página de fãs" do programa. Apesar de alegar agora ser "só isso", este grupo que antes respondera a título oficial às nossas críticas não hesita em afirmar, com um sentido de humor igualmente surpreendente (sejam eles representantes legítimos ou somente "fãs" fazendo-se passar por representantes do canal), que é "irrevogável" a saída do cinema da RTP2. Contudo, para melhor esclarecimentos, e transcrevo a resposta ipsis verbis, "isso têm de Perguntar a RTP!!!"
Nenhum filme aparece previsto na programação do canal para este mês. Contudo, desde o dia 9 de Setembro, a RTP2 não designa qualquer programa para as 23:30 e para as 00:30. Manda o contrato com o Estado que a RTP2 consagre espaços regulares dedicados ao cinema. Não esperamos por isso outra coisa que não seja a restituição de um espaço de cinema no segundo canal, ou seja, que a RTP2 esteja à altura do compromisso que fez com o Estado português e do melhor que fez pela cultura e as artes num passado, infelizmente, já longínquo.
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