quinta-feira, 21 de julho de 2011
Trigger Man (2007) de Ti West
Depois de "The House of the Devil", vejo o filme que Ti West realizou dois anos antes. Falo do pouco conhecido "Trigger Man", obra de terror minimal sobre a típica situação quase parabólica em que o caçador se torna caçado - certo? Nem por isso.
Neste filme de ritmo lento - já é uma marca autoral de Ti West? -, sem medo de ser quase quase quase quase chato, o espectador é confrontado violentamente com o único ensinamento sobre caça que uma das personagens transmite às demais: para caçar é preciso paciência. Pois bem, a paciência aqui combate a vontade de matar. West prolonga a dissipação/descarga de tensão mais do que qualquer outro cineasta; ele sabe entender o terror, o "bom terror", como gestão audaciosa, quase cínica, dos "tempos mortos". Na realidade, "Trigger Man" vai mais longe que o brilhante "The House of the Devil" nesta matéria, porquanto o grande desafio aqui é: como transformar os "tempos mortos" em "tempos de morte", em que se pressente até ao infinito uma espécie de ameaça aguda que, a qualquer momento, irá atravessar os corpos estejam eles onde estiverem - para o caso, através de uma bala furtiva vinda de... não se sabe onde.
Portanto, vemos "tempos mortos" tornarem-se "tempos de morte" e, por outro lado, a omnipresença de uma ameaça "sem rosto" - puramente "conceptual", isto é, quase apenas uma "ideia de mal" - a sublimar-se num clima de tensão a tender para uma placidez, um vazio..., paradoxal. Porque Ti West não corta onde os outros cortam; ele encara de frente, em timings completamente diferentes do cinema típico de horror, a passagem do tempo e faz das deambulações das personagens no espaço (na floresta, numa casa misteriosa, onde quer que seja) uma espécie de imagem perfeita deste complexo: mobilidade no finito como metáfora para o horror sem fim, "inescapável". Tornar podre um ambiente de tensão, torná-lo quase "insensível" à personagem, é o desafio que Ti West coloca a si mesmo, a nós e, enfim, ao protagonista, nas suas deambulações pelo espaço, apalpando o terreno em busca do seu caçador invisível - um caçador procura outro caçador.... isto é, "não há presas" nesta caça, verdadeiramente...
(Um parêntesis: imaginei que Brillante Mendoza teria visto "Trigger Man" e gostado tanto que fez, num dispositivo formal mais ou menos semelhante, "Kinatay" - é que talvez haja a mesma "devoração de tempos mortos" em ambos.)
Ti West, de câmara nervosa, em modo "mira", volta a mostrar que é um cineasta que pensa o cinema de horror como espaço singular de experimentação, enfim, espaço onde se pode filmar o nada ou o quase nada com a liberdade de uma criança infernal. Junta-se, assim, Ti West a nomes como Bryan Bertino e, num registo mais "clássico", Greg Mclean, naquele que é o grupo de jovens realizadores mais promissor na cena do terror contemporâneo.
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