Dois dos mais recentes episódios da actualidade portuguesa têm tanto de grave como de anedótico: falo das apreensões que a PSP fez do boneco do Magalhães no carnaval de Torres Vedras e das edições do livro de Catherine Breillat, "Pornocracia", que estavam à venda numa feira do livro em Braga. Pelos vistos, tanto o autocolante com mulheres semi-nuas colocado no ecrã do dito computador como a reprodução do quadro "A Origem do Mundo" (1866) de Gustave Courbet na capa do livro "chocante" de Breillat constituem inaceitáveis atentados ao pudor público. Uma ameaça à segurança mental de todos nós. Os dois casos merecerem respostas imediatas por parte das autoridades, com base naquilo que entendem por "pornografia".
Quanto a nós, estes episódios são, até ver, apenas isto: anedotas. Mas lembram em potência o velho regime de Salazar, aquele Don Juan que deu origem a uma mini-série com mais libido que um filme de Jean-Claude Brisseau; dá-nos matéria para imaginarmos, num exercício de ficção científica, um futuro em que aquela palavrita, como a palavra "comuna" em tempos, daria cobertura a menos engraçados ataques à Democracia: o jornal do Fernandes e do Cerejo fechado pelo conteúdo "pornográfico" das suas investigações; a televisão do Moniz e da Moraguedes encerrada por causa das "pornográficas" aparições de Vasco Pulido Valente e o Ministério Público (finalmente) calado devido à "pornografia" que está a ser o caso Casa Pia...
2 comentários:
só um reparo, o livro em causa tem como título 'pornocracía'
Oh, claro que sim. Já corrigi. Obrigado Ricardo.
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