domingo, 14 de agosto de 2011
Blu-ray ou a "alta-indefinição" (II)
Apesar de tudo, para nós, cinéfilos, assumidos ou não assumidos coleccionadores de filmes, pode-se já dizer que o Blu-ray tem propiciado algumas edições ou mesmo reedições que se exigiam há muito. Exemplo disso é "El sur", filme que Erice já viu editado em DVD, mas que estava descatalogado há bastante tempo. Agora, a FNAC espanhola, na senda daquilo que eu defino como uma estratégia "alternativa" ao DVD, lançou "El sur" com "El espirítu de la colmena" (edição destacada na nossa Newsletter), obra-prima mais fácil de encontrar no mercado DVD - nomeadamente no catálogo da Criterion. Temos aqui o exemplo de uma editora/loja que aproveitou o contexto de conversão para o Blu-ray para FAZER POR lançar algo que estava em falta no mercado DVD.
Também poderá ser no formato Blu-ray que cinematografias menos conhecidas poderão entrar no difícil mercado americano. Estou a pensar, para o caso, do lançamento de "O Estranho Caso de Angélica", nos Estados Unidos, a partir do dia 20 de Setembro. Não é o primeiro Oliveira a ser editado na terra de John Ford, mas o factor Blu-ray emprestará a este lançamento uma marca de "acontecimento" que nenhum lançamento de um filme português mereceu ainda nesse mercado. Destino semelhante deverá ter o muito elogiado "Mistérios de Lisboa", obra quase feita a pensar na alta-definição, ou no home cinema de luxo.
O que impede ou entrava a difusão internacional destes filmes é, para mal dos nossos pecados, a velha história das regiões, que não é ultrapassada na transição para o novo formato. Um anacronismo idiota, face à crescente universalização do mercado de filmes, nomeadamente através do cada vez mais desenvolvido comércio online. A questão das regiões ou zonas, que, no caso da alta-definição, divide o mundo em letras do alfabeto (nós somos B e os americanos A, por exemplo), permanece e não é de fácil resolução para o cinéfilo comum. Pessoalmente, resolvi aventurar-me na compra de um leitor multizonas, o que me saiu mais caro do que se me tivesse resignado à ditadura das zonas. O mercado tem procurado dar a volta a este "contra" com edições "region free", um pouco como também se fizera com os DVDs numa fase inicial, contudo, este é um problema que só vem assombrar (lá vamos nós fazendo figas para que não seja zona A) quem, por exemplo, estando em Portugal, queira saborear o seu primeiro Oliveira em Blu-ray - algo que, está visto, será mais rapidamente possível nos Estados Unidos do que cá.
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