quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Cinemateca Portuguesa: a derradeira queda da casa-mãe do cinema?


A Cinemateca Portuguesa, adianta o jornal Público de hoje, poderá não reabrir portas em Setembro. A sua directora fala de uma situação aflitiva e insustentável. Diz que avisou atempadamente o secretário de Estado da situação e que, apesar de todo o seu empenho, este não conseguiu "buscar dinheiro" das Finanças. Face ao derradeiro golpe na dignidade da instituição, que poderá deixar de poder assegurar o pagamento da electricidade e, com isso, não só encerrar portas como comprometer todo o espólio cinematográfico nacional armazenado no ANIM, a directora declara: "Acredito que tudo se pode ainda resolver, mas este momento é de grande aflição.”

A política da Cinemateca tem-se baseado nesta crença numa solução salvífica de última hora à la Griffith, fazendo figas para que no mês seguinte o miraculoso Deus ex machina venha não impedir mas, já só e apenas, adiar a catástrofe. Escrevi sobre tudo isto em três posts que podem ser consultados aqui, sendo que o primeiro, que prenuncia o terrível fim da Cinemateca, data de 2011. Passaram quase 3 anos e continuadamente assistimos nos media a uma Cinemateca no fio da navalha, sempre à beira de uma catástrofe que se sente mas sobre a qual se "acredita" que não poderá vir. Os problemas acumulam-se, nenhum é resolvido, tudo desliza para o abismo... mas "acredita-se", ainda assim, que tal não venha a acontecer. A sensação que fica é a de que se agora a electricidade for desligada parcialmente na Cinemateca para salvar o ANIM, essa medida será encarada como a salvação possível e desse remendo rapidamente passaremos para a sua permanência futura sem solução à vista, sustentada apenas por essa crença vaga de que tudo ficará bem no fim: quiçá uma Cinemateca sem filmes e pessoas, mas (ainda assim!) limpa e com casas de banho funcionais.

A política directiva da Cinemateca está reduzida a um modo de sobrevivência, a um pronto socorro sem horizontes ou, enfim, a um exercício de fé inconsequente. Dois executivos passaram - e neste último vamos no segundo secretário de Estado da Cultura -, manifestações públicas foram organizadas, artigos de opinião já foram redigidos, um mês dedicado à situação da Cinemateca ("Foco no Arquivo" = "Fogo no Arquivo", como leu e bem Margarida Gil) já foi posto em marcha e graças a ele poucas são as altas personalidades da comunidade de profissionais do cinema que não estão mais do que conscientes de todos os problemas que, ontem como hoje, põem em risco o futuro da Cinemateca. Tudo isto já foi feito, mas politicamente o resultado é quase nulo. A direcção tentou, timidamente dirão algumas vozes, mas tentou denunciar a sua própria impotência.

O que resta hoje é a crença de que essa impotência poderá estar ou vir a estar na origem do fim da instituição tal como a conhecemos ou do seu fim ponto final. Face a isto, ou se repensa de uma vez por todas - se for caso disso, para lá da presente direcção - a política de sustentabilidade, os canais de comunicação com a tutela e a própria orgânica interna de uma instituição com a complexidade da Cinemateca ou o filme continuará rápida e previsivelmente a aproximar-se da mensagem final que ninguém quer ler: "The End".

Adenda (hoje, dia 21 de Agosto): era preciso alarmar toda a gente para numa rápida troca de mails termos esta reacção? A direcção da Cinemateca não fala com a secretaria de Estado? O que está a falhar aqui? Acho que não está a ser feito tudo em defesa desta grande instituição.

1 comentário:

Miguel Domingues disse...

Permite-me ser demagogico: a solução e' a Cinemateca fazer falir um banco. Vais ver que o dinheiro aparece logo.

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