Rourke sacrifica-se para que Randy possa de facto existir e para que este não seja "mais um filme" sobre a culpa e a redenção numa América em tons de cinzento. E por isso Randy sai de campo no último fotograma; eclipsa-se do cinema como Rourke quando decidiu abandonar uma promissora carreira em Hollywood para se dedicar ao pugilismo. Se nos primeiros minutos assistimos a um comeback surpreendente, no fim o nosso coração é atravessado pela imagem de um salto para o vazio. Rourke poderá fazer mais filmes, mas será sempre aquele que "ressuscitou em "The Wrestler" para, de seguida, ali morrer" - este é o custo da eternidade no grande cinema.
Por isso, não achamos totalmente correcto aquilo que se tem escrito sobre esta monutamental interpretação. Para ficar claro: Rourke está totalmente despido neste filme, tudo nele é autêntico, transparente, sai-lhe literalmente do coração e está-lhe marcado no corpo, portanto, aquilo que ele faz aqui não pode ser, nem que involuntariamente, confundido com uma estratégia de relançamento de uma carreira. Como dissemos, Rourke, como "The Ram", nasce de novo para poder morrer outra vez - esta é a nossa crença.
Quanto a Aronofsky, com "The Wrestler", este faz o seu primeiro filme a sério, sem o histerismo visual ou o misticismo bacoco dos seus outros filmes. Um verdadeiro exercício de humildade para o realizador de "The Fountain". Com efeito, Aronofsky põe, pela primeira vez na sua carreira, realização e montagem ao serviço da história e deixa os actores crescerem nas suas personagens (já agora, grande interpretação de Marisa Tomei, por vezes, tão translúcida quanto a de Rourke).
Soluções como a de filmar Rourke de costas, a percorrer diferentes corredores e divisões, criam uma sensação de continuidade espacio-temporal, que, para além de nos aproximar de Randy, produz um paralelismo poético entre os diferentes palcos do protagonista, sublinhando a fronteira interior que separa o Randy wrestler do Randy pai e homem. Neste particular, a cena em que ouvimos o bruaá da multidão, antes de Rourke começar o seu trabalho enfadonho no supermercado é deliciosa. Mas o plano mais significativo, um verdadeiro soco no estômago, é mesmo aquele que não vemos: a aterragem de Randy no ringue. Glorioso The End no escuro.
Ler mais aqui: IMDB.
Por isso, não achamos totalmente correcto aquilo que se tem escrito sobre esta monutamental interpretação. Para ficar claro: Rourke está totalmente despido neste filme, tudo nele é autêntico, transparente, sai-lhe literalmente do coração e está-lhe marcado no corpo, portanto, aquilo que ele faz aqui não pode ser, nem que involuntariamente, confundido com uma estratégia de relançamento de uma carreira. Como dissemos, Rourke, como "The Ram", nasce de novo para poder morrer outra vez - esta é a nossa crença.
Quanto a Aronofsky, com "The Wrestler", este faz o seu primeiro filme a sério, sem o histerismo visual ou o misticismo bacoco dos seus outros filmes. Um verdadeiro exercício de humildade para o realizador de "The Fountain". Com efeito, Aronofsky põe, pela primeira vez na sua carreira, realização e montagem ao serviço da história e deixa os actores crescerem nas suas personagens (já agora, grande interpretação de Marisa Tomei, por vezes, tão translúcida quanto a de Rourke).
Soluções como a de filmar Rourke de costas, a percorrer diferentes corredores e divisões, criam uma sensação de continuidade espacio-temporal, que, para além de nos aproximar de Randy, produz um paralelismo poético entre os diferentes palcos do protagonista, sublinhando a fronteira interior que separa o Randy wrestler do Randy pai e homem. Neste particular, a cena em que ouvimos o bruaá da multidão, antes de Rourke começar o seu trabalho enfadonho no supermercado é deliciosa. Mas o plano mais significativo, um verdadeiro soco no estômago, é mesmo aquele que não vemos: a aterragem de Randy no ringue. Glorioso The End no escuro.
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