sábado, 4 de outubro de 2008

A politização das emoções

Em "Election" (1999), Tracy Flick (Reese Witherpsoon) candidata-se às eleições de estudantes no seu liceu, na esperança de alimentar o seu ego gigante com mais uma conquista académica (para além das suas notas irrepreensíveis). Tracy é trabalhadora, meticulosa, obsessiva, dissimulada e egomaníaca. Quando um popular jogador de futebol entra na corrida, Tracy receia que a vitória lhe esteja a fugir e, por isso, inicia uma campanha violenta em busca do reconhecimento do eleitorado e da desacreditação do seu adversário.

Sarah Palin teve o seu grande teste anteontem, no único grande debate com Joe Biden. Dizem que a governadora do Alasca superou as expectativas e que Biden foi ainda melhor do que se estava à espera. Nós não discordamos, mas a nulidade de Palin em relação a assuntos de política externa pareceu-nos preocupante: as suas expressões artificiais não lhe saiam da cara quando falava simplisticamente de coisas tão sérias como o Paquistão ou o actual estado do Afeganistão. Claro que também não disse nada de concreto; na realidade, foi muito mais elucidativo ouvir McCain no debate com Obama de há uma semana, onde ficaram claras as diferenças entre os dois candidatos. Já se viu que Palin só não desilude quando lhe é dada margem de manobra para debitar os seus chavões eleitoralistas e perpetuar uma certa imagem de everyday housewife. Todavia, pensamos que McCain terá cometido o erro de achar que Palin seria sempre bem sucedida a transmitir o mote "se eu estou aqui, vocês também podiam estar".


Quando anteontem Palin falou que sabe como é ser-se mãe na América e o tormento por que passam as famílias norte-americans à volta da mesa da cozinha a fazer as contas da casa, o debate deixou de ser (só) político. Biden foi obrigado a falar da sua experiência enquanto pai; do horror que foi ver o seu filho morrer (na sequência de um desastre de viação). A sua face transmutou-se e por instantes o respeitável senador quase se desfez em lágrimas. Foi um golpe (aparentemente) involuntário na estratégia de Palin: afinal, Biden também sabe mostrar emoções.

Adenda: Lá está a senhora Palin a brincar com o denominado sleaze factor.

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