domingo, 2 de janeiro de 2011

Janelas para se pensar o cinema na televisão pública

Na televisão portuguesa, a alternativa ao espaço razoável de João Lopes na SIC Notícias é o programa de Mário Augusto "Janela Indiscreta" na RTP. Mário Augusto esteve na SIC Notícias até há pouco tempo, tendo passado entretanto, sabe-se lá com que custos, para a televisão pública. Faz hoje magazines "enlatáveis" que alimentam RTPN, RTP1 e RTP2 em horários impróprios (respectivamente, 2h30, 2h00 e 13h45). O que é que mudou em relação àquilo que Mário Augusto fazia na SIC? Bem, mudou muito pouco, mas o que mudou mostra quão inacreditável foi esta contratação: mais promoção e divulgação do cinema português.

Lá impuseram as "quotas do serviço público" ao homem dos junkets e das festas loucas de Hollywood. Não tenho nada em particular contra o "jornalismo" - vêem-se as aspas? Mas vêem-se mesmo? Não será melhor pôr a bold? Ó mãe, vê lá, está mesmo bem? Ok, continuando... - praticado por Mário Augusto, homem simpático que já tive o prazer de conhecer, mas a RTP não conseguia fazer melhor? Teve de roubar da concorrência alguém para fazer, contra-natura, a promoção do malquisto cinema nacional, misturado com a pipocada-mor do boxoffice?

A título de exemplo, veja-se os créditos de abertura de "Janela Indiscreta", com frases célebres da Sétima Arte como "O meu nome é Bond, James Bond" e... "Até que a voz me doa" ("Amália"). Isto revela não só a ausência de uma programação (pensada) de cultura na televisão pública como, muito especificamente, a condução editorial do resto do programa: euforia incontida quando é para falar da última comédia de Nora Ephron interrompida a espaços com os malditos dos filmes portugueses... enfiados a martelo. É tudo tão artificial quanto pôr um Mário Jorge Torres a entrevistar Hugh Grant num junket sobre a sua última produção "Ouviste falar dos Morgan?".

Não está a RTP equipada para conceber, de raiz, uma coisa que não tem, que não há, de facto, na televisão nacional: uma programação cultural com espaços, vá, com UM espaço que produza reflexão/informação relevante sobre a actualidade cinematográfica, que promova a descoberta dos clássicos e não se limite a "vender blockbusters" como quem vende um creme para as rugas? Caramba, não consegue a RTP arranjar, até mais barato, uma pessoa minimamente telegénica para falar ou/e pôr gente a falar empenhada e seriamente sobre Cinema?

3 comentários:

João Palhares disse...

Também nunca percebi muito bem qual é que era o lugar do Mário Augusto na RTP2, mas eles lá sabem.

Isso não tendo em conta o quanto aquilo tudo é redutor, desde as entrevistas, cujos momentos altos são pôr as estrelas a falar em português (espectáculo!) e falar de curiosidades mais ou menos banais e inconsequentes de Hollywood.

Eu via uma entrevista do Mário Jorge Torres ao Hugh Grant. eheh.

É verdade, e agora offtopic, já saiu o trailer (mais semi trailer) do filme do ano: http://www.youtube.com/watch?v=oDp-GPQZdPY
Parece o Suspiria..

Luís Mendonça disse...

Obrigado pelo link!

Quanto à questão do Mário Augusto, concordo em absoluto com o que dizes e, sem desenvolver muito, digo apenas isto: havia um programa interessante chamado Hollywood.pt que foi abaixo para dar lugar ao programa do Mário Augusto. Aquele programa, de TV generalista, atenta à realidade da produção norte-americana, tinha sentido crítico, fazia verdadeiro "jornalismo cultural" in loco. Apesar não ser suficiente, era já muito bom - e foi muito maltratado pelo canal.

Francisco Vasconcelos disse...

"Sociedade do Espectáculo" é o estado da sociedade que se vive, a RTP deixou o serviço de informação publica à muitos anos, ou melhor, duvido que veja-mos algo perto de "informação" e não de "promoção" em qualquer canal de momento. Bem vindos a 1984 ;)

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