quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

After Shyamalan (II)



Ok, acho que já percebi. O trailer do mais recente filme de M. Night Shyamalan esclarece algumas das dúvidas, por sinal muito pouco entusiasmantes, que tinha quando fiz aqui mesmo uma primeira antevisão, baseado nas informações disponíveis sobre a história do filme e o seu "teaser viral" pouco convincente - e revelador.

O que percebi é que haverá, seguramente, uma dimensão política nesta história projectada no futuro... aliás, a dimensão política começa precisamente com a falência dessa projecção: parece que Shyamalan diz "aqui vem uma superprodução passada num futuro longínquo, ao qual nenhum de nós tem acesso, parepare-se o espectador para o mais impensável dos cenários fantasiosos alguma vez produzidos!" para depois, como um bom discípulo de Hitchcock, frustrar em toda a linha o prometido. A especulação - que é isso que Hollywood muitas vezes tem a oferecer, e pouco mais, dentro do género - é ferida de morte logo à nascença - para chegarmos a esta conclusão, basta espreitar o trailer. É que a projecção no futuro é uma (muito menos fantasiosa) viagem ao planeta Terra tal como o conhecemos quando não o podíamos... conhecer, isto é, antes do aparecimento do Homem. Na realidade, esta Terra pós-histórica, pós-humana parece coincidir com a Terra pré-histórica e pré-humana. A ficção científica futurista está, deste modo, falsificada - e é aqui, estou em crer, que Shyamalan irá politizar este seu mais recente filme.

Por outro lado, encontro alguns elementos visuais e temáticos recorrentes no seu universo autoral. Desde logo, a relação pai-filho e a forma como esta é "posta em xeque" por uma ameaça exterior, "alienígena". A ironia aqui é que parece que são pai e filho que são os aliens, isto é, os estrangeiros na Terra, que deixou de ser "a sua própria terra", o que volta a convocar o tema religioso da "origem" e da "casa" no seu cinema. Os "aliens" deste filme não vêm "from outer space", nem tão-pouco de histórias míticas, mas de uma Natureza regressada à sua feição mais selvagem. Daí (re)encontrarmos grupos de macacos, águias e outros animais "ancestrais" do seu cinema - e já aqui tinha especulado sobre a importância da iconografia hindu no seu cinema. 

Não estou tão desalentado e desconfiado como já estive. Este trailer devolve-me bons indicadores quanto ao caminho que Shyamalan está a querer percorrer com este filme, no qual terá tido menos controlo artístico do que é costume. Vamos continuar a segui-lo, até porque esta será, sempre, uma das principais estreias de 2013.

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