quarta-feira, 11 de junho de 2008
Das Testament des Dr. Mabuse (1933) de Fritz Lang
Tal como o assassino de crianças de "M" (1931), Hans Beckert (Peter Lorre), Mabuse é um dos mais aterradores vilões da Sétima Arte. Um criminoso louco que vive aprisionado num hospício há dez anos, escrevinhando, compulsivamente, em folhas de papel, planos para crimes futuros – os seus "testamentos". A um desses trabalhos deu o título "O Império do Crime" e começa assim:
A Alma do Homem tem de ser abalada até às suas profundezas, através de crimes imperscrutáveis, e aparentemente sem sentido. Crimes que não beneficiam ninguém, cujo único objectivo é instalar o medo e o terror.
Para passar da teoria à prática, Mabuse faz uso de uma espécie de poder telepático, post-mortem, tão terrífico quanto enleante. O perigo que representa para a sociedade é enorme. Que o diga o inspector Lohmann: personagem que anda perdida em quase todo o filme, alheia "àquilo" que está por detrás da onda de violência que assola a cidade.
Para ler o substrato deste fantasmático filme de Fritz Lang, pedia que se esquecessem do facto de este datar de 1933, ou melhor, para porem de lado, por instantes, a alusão visionária ao horror nazi: visto de perto, este é um filme que fala sobre a ubiquidade do terror, como se fosse uma obra do pós-11 de Setembro. Afinal, da filosofia de Mabuse parece germinar aquela que, hoje, volvidos mais de 70 anos sobre este filme, comanda as operações de uma célula terrorista: o terror ao serviço de uma luta com fins políticos, embora marcadamente auto-destrutiva.
Os media omnipresentes como instrumentos de transmissão da mensagem violenta e da imagem de um Deus messiânico: Mabuse, que é todo ele um contagiante "programa do mal", podia ser Hitler e Goebbels, mas também Osama Bin Laden e os media modernos. Para isso, muito contribui o endeusamento que a câmara de Fritz Lang faz dele: raramente o filma, não o explica, não o julga.
Repare-se como, no fim, o bom Lohmann desiste do caso, dizendo: "não há nada aqui que um mero inspector possa fazer". A sua impotência final é um alerta, expurgado do moralismo fácil que, na tela, pune os malfeitores, mas que depois, fora dela, é de uma inutilidade atroz. É que, para aflição das audiências, Mabuse não morre, porque é indestrutível; vive dentro de nós e usa-nos como fantoches. Resta-nos fazer ouvidos moucos aos sussurros manipuladores desse génio do mal. Para que, assim, não se cumpra "O Império do Crime".
Ler mais aqui: IMDB.
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