Em filmes como "The Man From Laramie" (1955) e, acima de tudo, "Winchester '73" (1950) estão lá todos estes condimentos. Neste último, uma obra-prima visual como poucas, Mann atreve-se a transformar a arma numa personagem - afinal, o filme tem o seu nome. Vemo-la a percorrer várias mãos – inclusive, as de um chefe índio – até regressar ao seu legítimo dono (James Stewart), um cowboy atormentado que persegue o misterioso assassino do seu pai.
A espingarda winchester é o fio condutor de todo o filme: todas as demais histórias são construídas em torno do percurso que a arma vai traçando, "de mão em mão". Entre elas, destacam-se duas muito diferentes pequenas narrativas de amor.
A primeira desenrola-se entre a personagem de James Stewart, o actor-fétiche de Mann entre 1950 e 1955, e a de Millard Mitchell, que voltaria a trabalhar com o realizador em "The Naked Spur". São os típicos buddies do faroeste, que fazem, há muito, uma vida juntos, qual casal em eterna "lua de mel" - vemos o mesmo em "The Far Country", mas, desta feita, com o mítico Walter Brennan ("Red River" e "Rio Bravo"), em vez de Mitchell.
A outra narrativa de amor, mais convencional, constrói-se entre um homem, Steve Miller (Charles Drake), e uma mulher, Lola Manners (Shelley Winters). O relacionamento entre eles sofre um revés, depois de Steve se ter acobardado perante um ataque índio e deixado a sua frágil donzela à mercê do inimigo. Apesar de ter regressado ao seu socorro, a verdade é que o marido, revelando-se fraco e covarde (yellow), perdeu a confiança (e o amor?) da sua mulher.
Há um momento estranho no filme, em que um rufia assassina à queima-roupa Steve e, a seguir, Lola, quase insensível ao sucedido, deixa-se tomar como se fosse um troféu. A partir daquele momento, sentimos que há qualquer coisa de instrumental no amor entre homem e mulher nos filmes de Anthony Mann - recordo que em "The Naked Spur" esta ambivalência está mais do que patente, o mesmo para aquele "casamento", quase que conjurado pelo destino, no fim de "The Far Country".
Não é só ao nível diegético que "Winchester '73" se assume como um western genial: em matéria de realização, temos uma câmara clássica, suave e subtil, que adora colocar-se atrás das costas das personagens - "manobra" típica em Mann... -, conferindo ao espectador uma "visão de espaço" esteticamente assombrosa. A fotografia a preto-e-branco de William H. Daniels é outro triunfo deste brilhante filme de Anthony Mann.
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