segunda-feira, 19 de março de 2012

Shame (2011) de Steve McQueen (II): a crítica de Francisco Ferreira


Há coisas assim: sintonias quase perfeitas com as críticas dos outros. Com Francisco Ferreira isso acontece-me frequentemente, seja na positiva, seja na negativa. Eu daria três estrelas (a cair mais para as duas do que para as quatro) a "Shame", Francisco Ferreira dá um redondo zero, mas concordo com muito do que escreve no Actual do dia 10 de Março e que deixo aqui em excertos. Trata-se de um complemento perfeito àquilo que eu já tinha escrito no dia 2 de Março sobre o mais recente Steve McQueen, até ver, o filme mais sobrevalorizado de 2012 - mas eu disse que era um "mau filme"? Não, não disse...

(...) Estamo-nos nas tintas para a narrativa como McQueen, mas há perguntas que assaltam: de onde vem a 'Vergonha' do título?, existe um trauma (um possível abuso de infância), comum a Brandon e Sissy?, um passado incestuoso fruto desse abuso?, não tenta em vão Brandon regressar à infância quando vê velhos cartoons em frente da TV?, é Brandon o protagonista do filme ou o que o protagoniza é a sua obsessão? Perguntas que o filme sugere. Perguntas a que não se digna responder. (...) Desconfia-se que "Vergonha" vive de uma aparência, de um gesto artístico erguido sobre paredes fictícias. O que se descobre ao tentarmos sair delas? Uma parábola pesada, enfática, moralizadora sobre a solidão e a tristeza do amor físico. Uma superfície em que os seres e as coisas não sobrevivem à fachada do sofrimento. Pior: um cinema de autor que se compraz em si próprio. (...) Filme indeciso, "Vergonha" refugia-se na elegância, não na frontalidade. Talvez nem se aperceba que, no alto das suas janelas envidraçadas, acaba por condenar Brandon com o seu 'vergonhoso' título.

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