terça-feira, 10 de abril de 2012

Recorte de falas (XIX): Matrix Revolutions

Não recortamos diálogos para aqui com medo dos filmes. Aliás, se o caro leitor não se apercebeu ainda, tenho de sublinhar que o CINEdrio não tem medo dos filmes, nem aqui pretendo passar com a "esfregona dos nossos preconceitos" sobre qualquer tipo de cinema. "Os filmes são inocentes, as pessoas não", a frase do Mekas resume bem a minha postura em relação ao cinema, neste espaço, ou melhor, resume bem a minha postura em relação aos filmes. Os filmes são indiscutíveis, essa é a minha opinião. Por isso, aqui está uma marca, não da inocência, mas de um lampejo de bom cinema - sim, para mim, a escrita para cinema é cinema - num filme que me dirão todos, com muita razão, talvez, que é globalmente um enorme bocejo. Mas, vamos pôr de lado as políticas de gosto, que intoxicam a blogosfera e a academia, e façamos a devida vénia a este pequeno instante. A palavra traz a ligação, não é a ligação que produz a palavra. "Matrix Revolutions" (2003) é um blockbuster, um franchise paradigmático, mas aqui está uma ideia poderosíssima gerada num espaço intersticial, entre o Matrix e o mundo real (dos homens e das máquinas), que é simbolizado por uma estação de metro, o link que os programas novos "usam" para chegarem ao sistema-matriz. É no "entre" que o programa - com corpo humano - diz a Neo que a emoção está contida na palavra. E que arma devastadora - no bom e no mau sentido - é, muito em particular, essa palavra e esse link chamado amor.

Neo: I just have never... 
Rama-Kandra: ...heard a program speak of love? 
Neo: It's a... human emotion. 
Rama-Kandra: No, it is a word. What matters is the connection the word implies. I see that you are in love. Can you tell me what you would give to hold on to that connection? 
Neo: Anything.

(Viram "I Love You" de Marco Ferreri? É mais uma fábula contemporânea, algo disparatada, do cineasta italiano, em que um homem se apaixona por um porta-chaves que, accionado por um assobio, lhe diz "amo-te". A história desta ligação, por muito insólita que seja, é sintomática do poder que reside na palavra e não no que ela verdadeiramente significa - pois, sejamos racionais e objectivos!, nem um porta-chaves, nem um programa de computador vêm ao mundo munidos da capacidade de amar... Mas, de novo, sejamos racionais e objectivos, ninguém disse e ninguém acredita que amar é uma coisa racional e objectiva!)

2 comentários:

ArmPauloFerreira disse...

Epá... o quanto gostei de ver o tão mal tratado "Matrix Revolutions" surgir num espaço como este.

OK, é sobre quotes de uma conversa do filme, que realmente reforço que é um daqueles diálogos que marcam (também não o esqueci)... mesmo que todo o filme nada seja demais (que não é na verdade e terminou em baixo uma trilogia que não esteve à altura do 1º filme).

Muito bom e... tenho de "gamar" este diálogo para o meu pasquim. Bem lembrado!

Luís Mendonça disse...

Fico também eu contente que algum leitor aprecie o que por aqui se escreve, nomeadamente, no espaço desta rubrica.

(E concordo contigo quanto ao lugar deste filme na trilogia Matrix.)

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